Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 69
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 44

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By MihBrandao

Angeline narrando:

Perdi a conta de quantas vezes olhei para o relógio enquanto batucava monotonamente os dedos sobre o mármore polido da bancada. Há quase uma hora George veio me avisar que Thomas iria se atrasar, mas eu não imaginava que seria tanto.

Me levantei para guardar a garrafa de suco de volta na geladeira e a Quiche lorraine no forno. Comi um biscoito para enganar minha fome e olhei, quase que de forma inconsciente, para o jarro de flores que eu havia pegado sorrateiramente no canto do jardim. Certo, talvez eu tenha exagerado um pouco. Mas quanta cerimônia apenas por um almoço!

Recolhi as flores e as joguei no cesto de lixo, sentindo-me um tanto culpada por tê-las tirado do meio ambiente. Talvez eu estivesse atribuindo uma importância excessiva pra um almoço comum.

Eu havia acabado de lavar minhas mãos quando ouvi alguém entrando na cozinha, chamando imediatamente minha atenção.

- Oi. - Matt disse caminhando até mim com um sorriso acolhedor, segurando uma folha de papel na mão direita.

Não se empolgue tanto, Angie...

- Oi. - Sorri de volta, torcendo pra que eu tenha sido convincente o suficiente pra ele não perceber a decepção em minha voz.

- Eu estava saindo para almoçar, mas precisei passar aqui antes. - Ele me estendeu a folha. - Trouxe isso pra você.

Aceitei o que me era oferecido, e quando vi a gravura desenhada no papel, eu não sabia se devia rir, usar a ironia ou simplesmente agradecer. Na dúvida, escolhi a segunda opção:

- Você devia investir na carreira de artista.

Então foi ele quem riu.

- Não fui eu que desenhei, foi a Maddie. Ela disse que é uma... carta de agradecimento por ter consertado meu colar.

- Oh... - E pela primeira vez desde que ele entrou, meu sorriso foi sincero.

- Você consegue saber o que é?

- Acho que sou eu, segurando o colar na frente de um... castelo?

Ele assentiu.

- Viu? Se fosse eu que tivesse desenhado, você nem iria saber se isso era uma pessoa ou um animal.

Não pude controlar minha risada percebendo que, afinal, a visita de Matt não era assim tão ruim. Talvez ele pudesse me ajudar a passar o tempo enquanto Thomas não chegava para almoçar.

- Eu também não sou lá grandes coisas no desenho. - Admiti. - Mas veja pelo lado bom: você tem talento com as flores e eu tenho com a comida. Não podemos negar que são coisas boas.

- Tem razão. - Ele desviou os olhos, seu sorriso desaparecendo aos poucos. - E eu queria te pedir desculpas... pelo modo como falei do meu pai.

Franzi a testa.

- Por que acha que me deve desculpas?

- Você disse que também tem problemas com seu pai, mas eu deduzi que os meus eram maiores sem nem sequer ter perguntado sobre os seus. - Ele me olhou como se tivesse cometido um dos maiores erros de sua vida. - Então me desculpe.

Balancei a cabeça num gesto indiferente.

- Não tem problema.

- Se você quiser conversar depois... eu sou um bom ouvinte.

- Não tem muito o que falar. - Coloquei o desenho sobre a bancada e cruzei os braços. - Foi quase a mesma coisa que aconteceu com você. Ele encontrou diversão fora de casa e... bem, é isso.

Matthew fez uma careta de desgosto.


- O pior erro que um homem pode cometer. Trocar uma família por uma diversão de momento.

Apertei os lábios e assenti devagar.

- É... - E tentando tirar o assunto do clima tenso, eu sorri. - Mas eu gosto de encontrar o lado bom nas coisas, sabe? Por exemplo, se ele não tivesse feito o que fez, eu não estaria aqui hoje.

Matthew balançou a cabeça.

- E não teria a chance de conhecer esse cara sensacional aqui. - Resmungou apontando para si mesmo, me fazendo rir outra vez.

Uma batida na porta fez meu coração acelerar de repente e, por impulso, meu primeiro pensamento foi imaginar a reação do Thomas ao me encontrar rindo na cozinha com o jardineiro - não que seu jeito possessivo me importasse.

Mas esse pensamento logo se desfez quando encontrei os olhos de George.

- Angie, o patrão ligou outra vez. - Ele disse sem rodeios, embora eu percebesse a compaixão em seu rosto. - Ele disse que não vai vir almoçar hoje.

Qualquer sorriso que eu sustentava se perdeu em um segundo. É claro que isso não era um problema ou uma surpresa considerando o quanto Thomas é imprevisível, mas o fato é que eu estava ansiosa por vê-lo. Quer dizer... bem... tínhamos um prato francês para experimentar juntos.

- Está tudo bem? - Eu quis saber.

- Parece que sim. Ele não me deu o motivo, apenas disse que não vai vir.

Balancei a cabeça devagar, torcendo pra que minha decepção não fosse tão óbvia quanto eu imaginava que ela estivesse sendo.

- Está bem. - Resmunguei por fim, sem ter muito mais o que dizer. - Obrigada, George.

Ele assentiu antes de olhar para Matthew, que ergueu as mãos em sinal de rendido.

- Juro que estou no meu horário de almoço.

George sorriu.

- Relaxe, rapaz. - E sem mais nenhuma palavra, ele fez seu caminho para fora.

Matthew me olhou outra vez, mas seu sorriso vacilou quando ele percebeu minha expressão.

- Diga à Maddie que eu agradeci. - Falei estendendo o desenho, antes que ele tivesse a chance de dizer qualquer outra coisa. - Ela foi muito gentil.


Ele franziu a testa, evidentemente insatisfeito com minha decisão de dar o assunto por encerrado.

- Achei que os empregados ficassem aliviados com a ausência do patrão. Quero dizer... corre esse boato por aí.

Desviei os olhos, balançando a cabeça.

- É, ele costuma ser um pouco... complicado.

- Mas você não parece aliviada.

Ah, que ótimo...

Respirei fundo me dando conta de que, mesmo que eu não quisesse admitir, Matt tinha razão. Eu estava desapontada, desanimada e talvez até um pouco triste por ter esperado tanto alguém que não viria, mas definitivamente, não estava aliviada.

- Eu só... - Olhei as travessas sobre a bancada e gesticulei para elas. - Acho que fiz comida demais pra uma pessoa só.

Ele seguiu meu olhar e pensou por um momento antes de responder:

- Agora somos dois.

Eu o olhei e ele encolheu os ombros, um sorriso contido se formando nos lábios.

- Se você não se importar com minha companhia, é claro.

Precisei pensar por um longo tempo antes de formular uma resposta, mas no fim, como se tentando convencer a mim mesma de que não haveria problema nenhum nisso, balancei repetidamente a cabeça num gesto afirmativo.

- Eu fiz uma receita diferente hoje. - Falei pegando a travessa com a Quiche lorraine no forno. - É uma torta francesa.

Matthew soltou uma exclamação de surpresa enquanto caminhava até a pia para lavar as mãos.

- Está de brincadeira! Achei que isso fosse uma receita mágica da minha mãe!

Olhei pra ele depois de colocar a travessa sobre a bancada.

- Você já comeu?

- Em praticamente todos os eventos especiais da minha casa. - Respondeu animado. - É como comer panquecas no café da manhã.

Sorri enquanto ele se sentava em uma das banquetas e se servia. Depois de assumir meu lugar, um pensamento começou a tomar forma em minha mente. Não precisaria ser uma coisa especial, então. Se Matt já estava acostumado a comer esse prato, isso não significaria nada pra ele.

Sendo assim, se eu não comer hoje, ainda será especial quando eu comer com Thomas.

- Hm... - Ele resmungou ao provar uma garfada do prato principal, enquanto eu me servia com as outras comidas.

- O que foi?

Ele me olhou inexpressivo.

- Você prefere que eu diga a verdade ou o que você quer ouvir?

- A verdade, por favor.

Ele olhou seu prato novamente antes de me encarar outra vez.

- Acho que você exagerou um pouco na noz moscada.

- Sério?

Ele assentiu e sorriu.

- Não ficou ruim, mas seria bom se da próxima vez você diminuísse a quantidade.

Ergui uma sobrancelha, pegando meu garfo sobre a mesa.

- Então quer dizer que além de jardineiro você também é chef de cozinha.

Ele riu.

- Talvez eu tenha me tornado um pouco experiente nesse prato nos últimos... vinte e quatro anos comendo dele.

Eu também ri.

- Menos noz moscada, então. Algo mais a acrescentar, senhor Matthew?

- Nada mais. - Ele respondeu levando outra garfada à boca. - Você disse que é a primeira vez que prepara isso, não é?

- Uhum...

Ele sorriu como se tivesse acabado de perceber algo óbvio.

- Agora eu entendo por que Sr. Strorck não contratou outro cozinheiro.

*~*~*~*

Mais de oito horas depois de um almoço leve e agradável com Matthew, eu parei diante da porta do escritório de Thomas e hesitei por um momento, mas acabei batendo duas vezes. O ambiente lá dentro estava estranhamente quieto, mas eu sabia que ele já estava em casa.

- Oi... - Disse ao abrir a porta, sem esperar ser convidada.

Ele ergueu os olhos de algum documento que estava lendo e me encarou. Pensei que fosse sorrir como sempre fazia ultimamente quando me via, mas dessa vez seus olhos apenas permaneceram presos aos meus seriamente. Aliás, sérios demais.

Por favor, não esteja zangado. Por favor...

- Eu só vim saber... se está tudo bem.

- Por que não estaria?

- Hm... você não veio almoçar hoje.

Ele voltou sua atenção para o que estava fazendo enquanto respondia indiferente:

- Mandei George avisar que eu não viria.

- Ele avisou, é que... eu fiz aquele prato francês que te falei ontem, lembra? - Fiz uma pausa esperando sua resposta, mas ele apenas me ignorou.

Engoli em seco, me sentindo indescritivelmente desconfortável.

- Você se esqueceu?

- Surgiu um imprevisto. - Finalmente respondeu sem me olhar.

Um imprevisto. Certo.

Eu gostaria de dizer que me senti aliviada por saber que ele não havia aparecido simplesmente porque não quis, mas não me senti. De algum modo, eu sentia como se estivesse conversando com o Thomas de três semanas atrás outra vez.

Respirei devagar e apertei os lábios.

Ele apenas não teve um bom dia, Angie. Foi apenas um dia ruim...

- Tudo bem... não tem problema. - Falei cuidadosamente. - Eu acho que não é o tipo de comida feita pra comer no dia seguinte, mas eu posso fazer de novo amanhã. Na verdade é até melhor, porque...

- Não vou mais almoçar com você, Angeline.

Eu estava começando a sorrir, mas qualquer sombra de sorriso logo se perdeu na frieza de suas palavras. Eu o encarei por um momento, até que finalmente consegui formular minha próxima pergunta:

- Quer dizer... não pode mais vir almoçar em casa, ou...?

- Não. Quero dizer que não vou mais almoçar com você. - Enquanto amassava a folha que estava lendo e a jogava no cesto de lixo no canto da mesa, ele me olhou impassível. - George vai voltar a levar meu almoço para a copa.

Eu não respondi imediatamente. Enquanto o encarava, algo dentro de mim me dava a sensação de que parte do meu coração estava sendo removida. E de repente, por algum motivo tosco, eu queria chorar.

- Está bem. - Resmunguei uma voz fraca, sentindo meu cérebro lento demais pra formular algo mais criativo que isso. Mas depois de uma pausa, consegui emitir: - Aconteceu alguma coisa, Thomas?

- Nada que seja da sua conta.

Oh...

Certo. Talvez eu tenha sonhado alto demais.

Meu corpo parecia estranhamente anestesiado. Eu havia me esquecido da sensação de ser tratada dessa maneira por ele quando ele resolveu olhar pra mim como se eu fosse especial, mas a verdade é que esse tipo de coisa não dura mesmo. Talvez seja melhor assim: ele me mostrar a realidade antes que eu me perca em um sonho impossível.

Busquei o oxigênio no fundo do meu pulmão, fingindo estar mais firme do que realmente estava:

- Sábado ainda está de pé? - Perguntei, fazendo-o finalmente olhar pra mim. - Só quero saber se ainda devo providenciar um vestido.

Thomas continuou me olhando, e por um breve segundo, eu podia jurar ter visto dor em seus olhos. Mas se vi, ela logo foi substituída pela indiferença.

- Não precisa ir, se não quiser. Não faço mais questão.

É, eu definitivamente sonhei alto demais.

Soltei um riso amargo e balancei a cabeça para os lados.

- Engraçado, Sr. Strorck... porque eu também não faço.

E sem esperar sua resposta - até porque ele provavelmente não me daria uma -, bati a porta e me dirigi para casa, sentindo-me esmagada pela mentira que acabara de dizer.

*~*~*~*

Como era de se esperar, Thomas realmente não apareceu para almoçar na cozinha no dia seguinte. Depois que George levou a comida para a copa, eu me sentei na bancada e olhei para meu prato intacto por tanto tempo que pareceram horas até que, finalmente, alguém chamou minha atenção ao entrar pela porta dos fundos.

- Algo errado com a comida, menina?

Olhei para trás e sorri.

- Oi, Matt.

Ele tinha uma marmita na mão e uma expressão tranquila quando se aproximou de mim.

- Eu sabia que existia uma chance de encontrar o patrão te fazendo companhia, mas achei que não iria perder se arriscasse vir até aqui.

- Eu sei, minha companhia agrada todo mundo.

Ele riu enquanto ocupava uma das banquetas.

- Será que você consegue ser mais convencida?

Enquanto almoçávamos juntos pela segunda vez consecutiva, me surpreendi com o modo como me familiarizei com Matt tão rápido quanto o havia feito com George. Ele era agradável, divertido e sabia como tornar um clima ameno. Mesmo que parte de mim se recusasse a parar de sentir um vazio pela ausência de Thomas, esse sentimento era quase totalmente camuflado pela voz e pelo som da risada de Matt.

Era engraçado como um simples favor que eu fiz pudesse estar fazendo surgir, de forma indireta e em menos de dois dias, uma amizade tão singular entre a gente.

Quando acabamos de comer eu podia sentir minha mandíbula dormente como consequência ao tanto que Matt me fez rir, mas antes de nos levantar, ele fez questão de aproveitar nossos últimos sete minutos livres para contar a história do dia em que levou a pequena Maddie ao seu trabalho.

- Ela desapareceu. - Ele disse gesticulando para os lados. - Eu fiquei desesperado, procurei a menina pelo jardim inteiro e ninguém havia visto ela. Adivinhe quem a encontrou.

Balancei a cabeça, já me divertindo pelo modo animado como ele falava da irmã.

- Eu não sei... seu patrão?

Ele fez uma careta.

- Não, sorte a minha. - E apoiando as mãos na bancada, declarou: - O filho dele. Maddie estava dormindo dentro da casinha do cachorro.

Joguei a cabeça para trás e gargalhei, ao que Matt emendou:

- E o pior, é o que o próprio cachorro estava servindo de travesseiro pra ela.

Oh, Deus!

Cobri minha boca com a mão, e no segundo seguinte eu não sabia mais se estava rindo da história ou da maneira como Matt também ria. Honestamente, o som de sua risada me lembrava um caminhão subindo um morro.

Seus olhos se voltaram para algo às minhas costas e de repente ele estava sério, mas antes que eu tivesse a chance de saber o que ele viu, a voz grave e fria soou atrás de mim:

- Eu não me lembro de ter contratado outro cozinheiro.

Então a graça se perdeu.

Senti meu coração fazer uma pausa antes de adotar batidas pesadas e irregulares, e por alguns segundos, o clima que antes estava alegre ficou tão tenso que chegava a ser palpável.

Me virei devagar e olhei para Thomas, mas ao invés de me olhar de volta, seus olhos permaneceram focados em Matthew. Ele não disse mais nada, mas levando em consideração o modo como ele o encarava, não seria mesmo necessário que dissesse qualquer coisa a mais.

Senti um arrepio me percorrer involuntariamente enquanto o silêncio crescia, e depois de alguns segundos que pareceu a eternidade, Matt se levantou.

- Na verdade eu sou o jardineiro, senhor. - E se aproximando dele, estendeu a mão. - É um prazer finalmente conhecê-lo.

- Não estou vendo jardim aqui... - Thomas estreitou suavemente os olhos. - Você está?

Matt piscou e abaixou a mão, momentaneamente constrangido. Ele pigarreou antes de gaguejar:

- Eu... não, senhor. Só estávamos... - Ele me olhou brevemente antes de se voltar para Thomas. - Só estávamos almoçando.

Thomas finalmente desviou o olhar dele para a mesa desarrumada. Ele a encarou por um tempo que considerei maior que o necessário, e quando seus olhos encontraram os meus, eu podia ver claramente a decepção em seu rosto. E isso doeu.

Foi apenas quando ele se voltou para Matthew que eu consegui soltar o ar que nem sabia que estava prendendo.

- Já terminaram? - Perguntou friamente.

- Sim, senhor.

- Então volte ao trabalho.

Matthew hesitou, mas acabou balançando a cabeça afirmativamente uma vez.

- Com licença, senhor. - E se voltando para mim, ele sorriu antes de sair pela porta em que havia entrado. - Te vejo depois, Angie.

Tentei sorrir de volta, mas certamente não fui tão convincente. Fala sério, como sorrir de forma sincera em uma situação como essa?

Me voltei para Thomas, que me encarou sem demonstrar emoção alguma.

- Parece que foi fácil me substituir, não é? - Ele declarou.

Respirei fundo para controlar meu impulso de gritar. Eu queria dizer que foi ele quem decidiu parar de almoçar comigo, foi ele quem me tratou com indiferença no dia anterior e, mesmo que isso não fosse de sua conta, foi Matthew quem se dispôs a me fazer companhia hoje. Mas ao invés de jogar tudo isso no ar, decidi agir como ele: como se eu não me importasse.

- Posso te ajudar em algo, senhor?

Percebi ele mover quase imperceptivelmente a cabeça, como se usando todo seu controle para não deixar transparecer sua raiva.

- Achei que já tivéssemos passado dessa fase. - Remungou.

- Eu também.

Ele me observou em silêncio por um momento, antes de emitir como se impondo uma sentença:

- Eu disse que te levaria a uma festa amanhã. Então eu farei isso.

Quase ri de sua petulância.

- Achei que não fizesse mais questão.

- Não faço. Mas quando dou minha palavra, costumo mantê-la... espero que você também seja capaz de fazer isso.

E sem me dar tempo ou oportunidade para responder, ele fez seu caminho para fora da cozinha.

*~*~*~*

- Você vai sair com o patrão amanhã? - Minha mãe perguntou quando chegou em casa no final do dia.

Franzi a testa. Eu não me lembro de ter comentado com ela sobre esse assunto.

- Quem te disse isso?

- Ele me procurou antes de eu sair. - Respondeu enquanto tirava as sapatilhas.

- Pra quê?

- Me pediu que te convencesse a ir.

Meu queixo caiu. Deus, qual é o problema desse homem?!

Soltei um suspiro e balancei a cabeca enquanto prendia meu cabelo em um coque. Eu havia conversado com minha mãe sobre Thomas enquanto jantávamos no dia anterior, portanto era até surpreendente que ela se desse ao trabalho de mencionar isso agora. Obviamente estava perdendo tempo.

- E então... você vai?

- Não.

- Tem certeza?

Olhei para o teto e inspirei profundamente, soltando o ar pela boca. Em seguida, olhei para ela.

- Mãe, eu tentei. A senhora sabe que eu tentei. Mas parece que não existe jeito pra ele, o que eu posso fazer?

- Pra todo mundo existe um jeito, filha.

- É, ele deve ser a exceção. - E decidindo esquecer esse assunto, voltei minha atenção para a bíblia aberta em Efésios sobre o meu colo.

Pelo canto do olho percebi minha mãe me encarar por um momento antes de pendurar a chave ao lado da porta e tirar as sapatilhas.

- Sabe, eu posso estar enganada, mas acredito que pra um homem chegar ao ponto de pedir ajuda à mãe da garota pra sair com ela, ele deve se importar muito com isso.

Passei as mãos pelo cabelo e soltei um longo suspiro cansado.

- Eu só não consigo entendê-lo, mãe.

- E nunca vai conseguir se não der a ele a chance de se explicar.

Franzi a testa pra ela.

- O que aconteceu com sua preocupação?

Ela sorriu.

- Foi embora depois que coloquei vocês dois nas mãos de Deus.

- Achei que a senhora não confiasse no Thomas.

Ela inclinou a cabeça para um lado.

- E eu achei que você confiasse.

Fechei a cara, me perguntando como ela sempre conseguia ficar com a última palavra. Tentei encontrar algo que pudesse dizer em minha defesa, mas por algum motivo inexplicável minha mãe parecia disposta a defender o lado oponente.

Balancei a cabeça em desaprovação e voltei minha atenção para a bíblia. Felizmente, ela percebeu minha decisão em não falar mais sobre isso e se dirigiu à cozinha, soltando um resmungo baixinho que eu não ouvi.

"Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo."

Reli esse versículo. Voltei e li de novo. Pisquei e o encarei por alguns segundos, notando que talvez não existisse exceção à regra de ouvir as palavras de uma mãe.

Bufei, fechei minha bíblia e me levantei do sofá, indo até a cozinha. Minha mãe havia pegado alguns legumes na geladeira e estava lavando-os, então eu me escorei na parede, cruzei os braços e a observei por um momento.

- E se eu sonhar alto demais e cair? - Perguntei.

Ela se virou pra me olhar antes de voltar a atenção pra sua tarefa.

- Bem... então você se levanta e tenta outra vez.

Não respondi. Eu de fato não sabia ao certo o que havia acontecido com o "O patrão é muito convincente, não deixe ele te afastar de Deus..." mas uma coisa que aprendi é que minha mãe sempre tem razão. E mesmo que isso seja mais confuso do que eu possa explicar, ela com certeza sabe o que está dizendo.

Depois de fechar a torneira, ela se virou para mim outra vez.

- Meu amor, se você não estiver disposta a perder, nunca vai saber o que significa ganhar.

- Talvez eu já tenha perdido. - Destaquei o fato.

- Eu acho que se tivesse... ele não teria me pedido ajuda pra sair com você.

- Ah... - Esfreguei o rosto com as mãos em um gesto frustrado. - Isso é mais difícil do que eu imaginei.

Ela sorriu com carinho.

- É por isso que vai valer a pena. - E se aproximando de mim, ela segurou meu rosto entre as mãos. - Você sabe que Deus colocou uma missão em suas mãos, Angeline. E sinceramente, você já chegou longe demais pra desistir agora.

Ponderei suas palavras por um momento antes de fazer a próxima pergunta:

- Então... acha que eu devo ir amanhã?

Ela revirou os olhos.

- O que eu acho é que vocês dois precisam se entender. E se existe uma chance de fazer isso amanhã, você não deve perdê-la. - E se afastando de mim, voltou à pia. - Agora chega de teimosia e me ajude a fazer a janta, estou morrendo de fome.

Durante todo o resto da noite, não falamos mais sobre isso. Eu e minha mãe oramos juntas antes de dormir, e como de costume, eu terminei antes dela. Me deitei no sofá, me cobri com o cobertor e fechei os olhos. Então, ouvindo vagamente sua voz dizer: "O senhor sabe o que é melhor pra ela, Pai... mostre a ela a sua vontade... cuide da minha filha...", eu me deixei envolver em um sono tranquilo.

*~*~*~*

Depois de fazer uma ligação para Diana na manhã do dia seguinte, tomar uma decisão e anotar seu endereço em um pedaço de papel, eu abri a porta do casebre e fiz meu caminho até a entrada da mansão.

- Bom dia, Angie. - O mordomo sorriu ao me ver enquanto descia as escadas.

- Oi, George. - Sorri de volta. - Você sabe onde eu posso encontrar o Sr. Strorck?

Ele franziu a testa.

- Achei que ele tivesse te dado permissão pra chamá-lo pelo primeiro nome.

Inclinei os cantos da minha boca torcendo que isso fosse o suficiente pra George perceber que eu não estava a fim de falar sobre esse assunto, e felizmente, ele percebeu.

- Ele está no quarto. - Respondeu à minha pergunta. - Acabei de sair de lá, está te esperando.

- Obrigada. - Pronunciei ao passar por ele, começando a subir a escada.

- Angie. - George chamou antes de sair pela porta. Eu o olhei novamente. - Boa sorte. Ele não está em seus melhores dias.

Sorri como agradecimento, embora sua advertência fosse um tanto desnecessária. E assim que ele se foi, continuei meu caminho.

Fechei meus olhos por um momento quando cheguei na frente do quarto e busquei o ar profundamente. Você consegue, Angie. Vamos lá.

Abri os olhos e bati três vezes.

- Entre. - Ouvi sua voz do outro lado.

Obedeci.

- Tenho duas condições. - Foi a primeira coisa que falei ao dar alguns passos em sua direção.

Thomas ergueu os olhos do notebook em seu colo para me encarar. Ele estava vestindo uma calça jeans e uma camiseta informal, o que dava a ele uma aparência um tanto inofensiva. Isso apenas aumentou minha coragem.

- A primeira é que vou me arrumar na casa de uma amiga, então você vai ter que ir me buscar. - E estendendo o papel que estava em minha mão, completei: - Este é o endereço.

Eu sabia que existia uma grande chance de ele não pegar ou me dar uma resposta cruel, para isso eu estava preparada. Não é como se eu tivesse algo a perder.

Mas para minha surpresa, depois de hesitar ao olhar o papel em minha mão, Thomas acabou aceitando-o.

- Qual é a segunda? - Perguntou.

Pisquei, chocada pelo fato de ter sido tão fácil. Mas isso não significava que ao expor minha segunda condição, sua reação seria a mesma. Sendo bem honesta, a segunda parecia absurda até mesmo para mim.

Engoli seco e estufei o peito para parecer mais confiante do que eu me sentia.

- Quando me convidou, você disse... "sem diferença de crenças, sem posições sociais e... sem preocupações."

Fiz uma pausa com medo de continuar. Mas pra minha surpresa maior ainda, Thomas o fez.

- Uma noite... - Ele disse quase num sussurro e eu pude ver seu olhar se suavizar - Apenas eu e você.

Pisquei algumas vezes, perdida na imensidão de seus olhos escuros. E recobrando vagamente meus reflexos, assenti.

- Nem que seja apenas por uma noite. - Falei devagar. - Eu quero que cumpra sua palavra.

Thomas entreabriu seus lábios, mas não emitiu nenhum som. Sua expressão estava ilegível, embora carregada de emoções. E tudo o que eu queria naquele momento era ser capaz de ler seus pensamentos.

Por fim, ele balançou a cabeça lentamente concordando com meus termos.

Soltei o ar, aliviada. É isso. Consegui.

- Ótimo. - Resmunguei assentindo também.

E sabendo que não tínhamos mais o que dizer por hora, me virei e saí do quarto.

Não sem antes ver, posicionado cuidadosamente sobre o criado mudo ao lado de sua cama, o troféu de madeira que eu lhe dei de presente há duas semanas.

#-#

Oiiii amores da minha vida 😍

Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que sei que esse capítulo não ficou lá grandes coisas, mas depois de enfrentar uma semana extremamente estressante e um bloqueio criativo terrível, isso foi o melhor que pude oferecer. Então o que posso dizer agora é que o próximo vai ser melhor. Me desculpem.

Em segundo lugar: eu disse em um dos grupos do whatsApp que minhas partes preferidas estão chegando, e provavelmente houveram pessoas que esperavam um capítulo estrondoso hoje. Mas calma, gente. Eu disse que estão chegando, não que seria neste capítulo (kkkk). Tenham paciência porque antes do capítulo 50 eu surpreendo vocês.

Em terceiro: eu sei que essa espera é torturante, também odeio isso. Trabalho, faculdade, estresse, bloqueio criativo... me desculpem, isso faz parte de mim. Mas se minhas contas estiverem certas, estarei mais aliviada em julho. Então além de oferecer capítulos melhores a vocês, eles serão postados com mais frequência. Espero que a paciência de vocês dure até lá.

Em quarto: Venham ficar mais perto de mim! Os links dos grupos do whatsApp está na minha bio, e meu instagram é mihbrandao_ . Vocês não sabem o prazer que eu tenho em conhecer vocês, então não tenham vergonha: podem me chamar.

Em quinto (esse é para os leitores anônimos): Por favor, temos intimidade suficiente pra vocês pararem de ler no anonimato. Eu faço um texto enorme no final de todo capítulo, é meio injusto que vocês não deixem sequer um comentário. Esse parágrafo é de vocês, espero que não me deixem no vácuo: me digam, nem que seja em uma única palavra, o que estão achando da história. Eu vou ler com todo carinho, até se tiver críticas.

E em sexto: Eu amo vocês. Todos vocês. Anônimos ou não.

Beijos da Mih e até breve ❤

Ah, tem mais uma coisa: pode ser que o próximo capítulo seja narrado pela Angie de novo.

Pronto, agora acabou kkk

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