Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 69
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 32

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By MihBrandao

Angeline narrando:

Olhei para Alice sem saber ao certo o que fazer. Ela encolheu os ombros, os olhos inexpressivos, e voltou a comer.

- Você não deixou de gostar de mim, não é? - Perguntei.

- Não. Nem o Gabriel, ele só não gosta do seu namorado.

Eu ainda podia sentir meu coração apertado, mas sorri.

- Tyler não é tão ruim assim.

Ela me olhou sob os cílios.

- Mas não é tão bom quanto meu tio.

Pensei por um momento nos últimos três anos da minha vida e nas últimas semanas, colocando Thomas e Tyler em um tipo de balança psicológica. Os dois erraram, embora Tyler tenha sido por um tempo maior. Os dois decidiram tentar se redimir... mas por mais que eu tentasse negar, às vezes Thomas parecia bem mais sincero que meu namorado.

Suspirei. Thomas tinha essa mania de me desiludir quando eu achava que ele estava mudando, mas enquanto ele não fizesse isso de novo, era óbvio óbvio que Alice tinha razão.

- Não... - Respondi com um meio sorriso. - Ele não é.

Ela desviou os olhos e comemos em silêncio por um tempo antes dela dizer qualquer outra coisa.

- Você é feliz, tia Angie?

Franzi a testa pra ela.

- Como...?

- Tyler te faz feliz?

Eu devo ter hesitado por um tempo desnecessário me perguntando se esse era o tipo de pergunta que uma criança de onze anos faria, porque quando ela viu que eu nao sabia como responder à sua pergunta, encolheu os ombros outra vez.

- Tio Thomas conseguiria te fazer feliz.

- Alice, seu tio é meu patrão.

- Quem é patrão não pode amar quem é empregada?

Pisquei, mais uma vez sem palavras. Por fim, decidi levar isso na brincadeira, sorrindo.

- Você é muito inteligente pra uma criança da sua idade, mocinha.

Ela sorriu de volta, mas seu sorriso não chegou aos olhos.

- Eu só não entendo, tia Angie. Se o Tyler não te faz feliz, você devia deixar ele e ficar com o tio Thomas.

- Não é tão simples assim.

- Por quê?

Oh, Deus... como explicar a ela tudo o que me separa do seu tio?

Respirei fundo.

- É complicado...

- Você não gosta dele, não é? Do meu tio.

Mordi meu lábio inferior antes de responder com um menear de cabeça:

- Não desse jeito.

- Sabe, a mamãe também não gostava do meu pai quando eles se conheceram. - Alice disse indiferente, brincando com o resto do sanduíche em seu prato. - Mas as coisas mudaram... e agora eles estão casados e são muito felizes.

Eu sorri.

- Talvez eles não tenham sido tão complicados.

Ela pensou um pouco e deu de ombros.

- É...

- Agora chega dessa conversa. Vamos terminar de comer que eu ainda preciso subir pra fazer as pazes com seu irmão.

No final, não foi tão difícil quanto eu imaginava. Thomas ainda estava no quarto com o sobrinho quando eu e Alice chegamos, e quando o garotinho olhou pra mim, ele estava bem mais calmo. Me sentei ao seu lado da cama e Thomas deixou que a gente conversasse, embora não tenha ido embora nem desviado os olhos de nós.

Expliquei ao Gabriel - da forma mais carinhosa e demorada possível - que nem tudo era do jeito que a gente queria, mas o fato de eu não me casar com seu tio, não significava que eu deixaria de amá-lo. Ele entendeu. Então me abraçou, me pediu desculpas por dizer que não gostava mais de mim e me pediu pra ler uma história.

Sim, foi muito fácil... e isso me fez imaginar o que Thomas havia falado com ele antes de eu chegar no quarto.

No dia seguinte, tudo o que aconteceu no dia anterior não passou de lembranças. Aceitei ao convite das crianças para tomar banho de piscina e deixamos a água antes de Thomas chegar. Como de costume, almocei com eles e esperamos seu tio brincando de escolinha. No dia seguinte e depois desse, não comentamos mais nada sobre o que aconteceu na terça-feira. Fizemos outro piquenique, competição de danças e eu aproveitei cada minuto que tínhamos para falar sobre Deus sempre que eles queriam.

- Eu não quero ir embora, tia Angie... - Alice disse na noite de sexta-feira.

Daquela vez, Gabriel havia dormido primeiro.

- Eu também não queria que vocês fossem. - Respondi acariciando seu cabelo. - Mas foi divertido, não foi? Até a parte de nos perder na floresta.

Ela sorriu.

- Desculpe por te assustar.

- Tudo bem. - Sorri de volta. - Só não minta mais. Isso é feio e Deus não gosta.

Seu sorriso desapareceu antes que ela assentisse.

- Tá bom.

- Agora durma. - Murmurei baixinho antes de emendar com um nó na garganta: - Amanhã vocês terão uma longa viagem pela frente.

Me inclinei para beijar sua testa e não me surpreendi quando encontrei Thomas parado junto ao batente da porta quando me virei.

- Boa noite, tia Angie. - Alice disse enquanto eu caminhava em direção ao seu tio.

- Boa noite, bonequinha. - Respondi sorrindo, me virando para ela por um segundo. - Durma bem.

Thomas não disse nada quando passei por ele, nem sequer me olhou, o que achei estranho. Ele apenas me deixou passar, e assim que o fiz, entrou no quarto.

- Vocês gostaram dessa semana? - O ouvi perguntar à Alice antes de me afastar do quarto.

- Claro, titio. Foi muito divertido.

- Que bom.

- Mas tem uma coisa que eu quero te pedir...

E então as vozes se perderam quando a distância me impediu de ouví-las.

***

Ainda era cedo quando Gabriel abraçou apertado minhas pernas, as lágrimas molhando seu rosto.

- Venha com a gente, titia Angie.

- Eu não posso, Gabriel...

- Amanhã você volta, por favor...

Eu o peguei no colo e ele escondeu o rosto no meu ombro, molhando minha blusa com suas lágrimas.

Metros adiante seu pai e Thomas nos olhava - Stephan um tanto surpreso -, e ao meu lado Alice segurava a barra da minha blusa tentando esconder seu rosto que também estava molhado.

Stephan havia chegado durante a madrugada e precisava resolver algo no Brasil, então segundo ele, deixar os filhos passarem o sábado com a gente estava fora de cogitação. Eles precisavam voltar cedo. E essa informação desesperou as crianças.

- Eu ainda estarei aqui quando vocês voltarem. - Respondi sentindo meu coração esmagado.

- Promete? - Gabriel perguntou entre soluços.

- É claro que sim. Ainda vamos nos divertir muito.

- Mas você pode nos visitar no Brasil também, tia Angie. - Alice pediu com a voz embargada, secando as lágrimas que escorriam em seu rosto.

- Quem sabe um dia. - Sorri tentando parecer natural.

- Lá também é legal. Ela pode nos visitar, não é papai?

- É claro que sim. Sua mãe adoraria recebê-la.

- Viu? - Ela soluçou. - Você pode ir, tia Angie.

- Certo, eu vou visitar vocês. - Falei colocando Gabriel no chão.

- Quando? - Ele perguntou esfregando os olhos com a mão.

- Um dia. - Me abaixei para ficar do mesmo tamanho deles. - Se lembram das histórias que contei?

Ambos assentiram.

- Ótimo. Não se esqueçam delas, está bem?

- A gente vai ensinar a mamãe a orar. - Alice disse antes de comprimir os lábios e engolir, para controlar novas lágrimas.

Sorri.

- Isso seria maravilhoso. E quando vocês voltarem aqui, vamos orar juntos outra vez. Eu prometo... está bem?

Eles fizeram que sim novamente.

- Agora venham... me dêem um abraço.

Eles obedeceram, mas durante nosso abraço coletivo voltaram a chorar. Fechei os olhos para impedir que as lágrimas se desprendessem e mordi o lábio.

- Eu te amo, tia Angie. - Gabriel soluçou.

- Eu também... - Alice emendou com a voz embargada.

- Eu também amo vocês. Muito mesmo, não se esqueçam disso.

Eles permaneceram com os braços envoltos em mim por mais um tempo antes de Stephan vir pegá-los, e quando ele me lançou um sorriso triste, eu sorri de volta e entrei para não vê-los se despedir de Thomas.

Era possível sentir o bolo em minha garganta quando passei por Eileen que me olhava com um ódio evidente, mas depois de ignorá-la, me dirigi ao banheiro dos funcionários e fechei a porta.

Pensei em todas as seis manhãs que Alice e Gabriel passaram comigo e me perguntei como pude amá-los de uma forma tão grande em tão pouco tempo. E quando me passou pela cabeça o dia que eu teria a chance de vê-los novamente, me permiti chorar.

***

- Eu posso te levar ao Brasil, se você quiser. - Tyler disse cerca de seis horas depois, abraçado a mim no jardim da casa.

Eu estava sentada em sua frente e ele tinha os braços envoltos em minha cintura, depositando beijos vez ou outra em meu ombro.

- Você fala como se fosse tão simples...

- E por que não seria?

- Porque eu trabalho, Ty. Porque eu não falo a língua deles, porque minha mãe jamais permitiria... - E porque não está na minha lista de prioridades viajar para outro país com você.

- Calma, amor, eu não estou te obrigando a nada. - Ele beijou o topo da minha cabeça. - Só achei que você gostaria de ir.

- Eu não posso agora.

- Tudo bem, esqueça esse assunto então.

Fiquei calada por um momento, e enquanto Tyler brincava com meu cabelo, imaginei onde Alice e Gabriel estavam naquele momento. Será que eles pararam de chorar?

Eu estava tão absorta em meus pensamentos, que quando Tyler me fez uma pergunta eu achei que não tivesse entendido.

- O que...?

- A gente devia se casar. Você não acha que está na hora?

Oh...

Eu me virei para o olhar chocada antes de franzir a testa.

- Você está bêbado?

Ele riu.

- Não, amor, você sabe que eu não bebo. Estou apaixonado.

Estreitei os olhos, ainda sem entender de onde isso havia surgido. Ele deu de ombros.

- Nós estamos juntos há três anos, eu te amo e não consigo imaginar um futuro sem você. Não vejo problema algum em tornar nosso relacionamento oficial.

- Você está falando sério?

Ele assentiu como se isso fosse óbvio, em seguida, se desvencilhou de mim e se pôs de pé.

- Venha, levante-se. - Pediu me estendendo a mão.

Eu obedeci em modo automático, sem me dar conta realmente do que estava acontecendo.

- Amor, eu quero que você seja minha esposa e mãe dos meus filhos. Eu sei que não tenho uma aliança aqui, mas posso providenciar isso depois. É relevante, não é? - Ele segurou minha mão olhando no fundo dos meus olhos e senti minha batidas cardíacas fazerem uma pausa quando se ajoelhou em minha frente. - Você é a mulher da minha vida, Angeline. Então... quer se casar comigo?

Eu pisquei, atônita. Ele realmente estava... me pedindo em casamento?

- Você ficou maluco?

Ele riu de forma divertida.

- Eu sou maluco por você desde que te conheci. E então... aceita ser minha esposa?

- Tyler, isso é loucura.

- Amor, só me diga sim ou não. Estou numa posição desconfortável aqui...

- Não!

Qualquer sombra de sorriso que existia em seu rosto desapareceu antes que eu me desse conta da intensidade com a qual respondi ao seu pedido.

- Quer dizer... bem, nós praticamente acabamos de ter uma avaliação do nosso relacionamento. Eu ainda estou trabalhando minha confiança em você, como... como acha que é uma boa ideia nos casarmos agora?

Ele piscou algumas vezes, como se estivesse se dando conta do que eu estava dizendo.

- Olha, talvez você me ame, mas...

- Você não sente o mesmo.

Eu o olhei, minha testa levemente franzida.

- Nem um pouco? - Ele perguntou seriamente.

Soltei o ar que eu nem sabia que estava prendendo.

- Eu não sei. - Falei de uma vez. - Não sei o que sinto por você.

- Tudo bem. - Ele assentiu desviando os olhos enquanto se levantava. - Sem pressa. Antes você tinha certeza que não me amava, hoje não sabe o que sente... acho que estamos progredindo. Devagar, mas estamos.

Eu ainda estava meio chocada, mas como isso não havia sido nenhuma pergunta, eu apenas assenti.

- Vamos esquecer isso por enquanto então, está bem? Da próxima vez serei mais romântico... escolherei o momento certo. - Ele beijou minha testa. - E espero que sua resposta seja diferente.

Ele se sentou sobre a grama novamente, segurando minha mão.

- Venha. - Pediu.

Me sentei em sua frente outra vez, ainda sentindo meu coração bater com força. O que acabou de acontecer aqui?

- Vai ter uma festa da empresa no próximo sábado... - Ele disse dando o assunto anterior completamente por encerrado. - Estamos liberados para levar quem a gente quiser. Quer vir comigo?

Pensei por um momento. Misericórdia, estava acontecendo tudo rápido demais.

- Não sei se tenho roupa apropriada pra isso.

Tudo bem, eu tinha o vestido que Alexia deixou pra mim, mas ainda assim... talvez ele fosse detalhado demais pra uma simples festa da empresa.

- Você tem milhões de roupas, amor.

- Eu tinha. Deixei tudo na casa do meu pai.

- Bem... podemos ir buscar, então.

Suspirei.

- Acho melhor não, Ty.

- Por que não? Não acha que já está na hora de fazer as pazes com seu pai de forma definitiva?

Franzi a testa.

- Como assim de forma definitiva?

- Como você fez comigo, amor. Você me perdoou e agora estamos tentando de novo... por que com seu pai é diferente?

- Meu Deus, você não entende? - Perguntei me afastando dele para olhá-lo. - Eu perdoei meu pai, Tyler! Só não quero voltar àquela casa.

- Ela é sua casa.

- Eu estou em casa.

- Fala sério, Angeline, olhe em volta! Olhe pra você, para suas unhas... aqui não é seu lugar.

Balancei a cabeça incrédula.

- Desde quando você liga pra minhas unhas?

Ele se mexeu, impaciente.

- Eu não quero que você fique aqui.

Franzi a testa, as coisas começando a fazer sentido pra mim.

- Por quê?

- Porque eu amo você, merda! Eu te amo e não quero ver você estragando sua vida por nada!

Balancei a cabeça para os lados.

- Não, isso não é sobre amor. - Percebi calmamente. - Era esse seu plano o tempo inteiro, não era? Você queria conquistar minha confiança pra me afastar da minha mãe.

Ele riu.

- Que merda sua mãe tem a ver com isso?

- Por que não me diz você? - Me levantei. - Por que deseja tanto me ver longe daqui, Tyler?

Ele se levantou também.

- Você ouviu pelo menos uma palavra do que eu disse?

- Pare de me tratar como uma idiota! - Gritei, mesmo percebendo que isso é exatamente o que eu fui por longos três anos. - Me diga a verdade, pelo menos uma vez na vida!

Sua respiração começou a sair ofegante por causa da raiva.

- Eu estou dizendo a verdade.

- Mentira! Você só mente pra mim, é tudo o que sabe fazer. - Me aproximei dele, acalmando minha voz, mas sem conseguir controlar a raiva. - Por que você me quer fora daqui?

- Não faça isso, amor.

- Pare de me chamar de amor. - Mandei entre os dentes. - Me diga por que me quer fora daqui.

- Angeline...

- Responde a maldita pergunta! - Soquei seu peito com as duas mãos e ele segurou meus pulsos.

- Você quer mesmo saber? - Perguntou finalmente alterando seu olhar falso. - Quer saber a verdade? Então essa é a verdade, Angeline: eu tenho vergonha do que você se tornou. Tenho vergonha de dizer aos meus amigos o que minha namorada é, porque quando eu te pedi em namoro, eu estava me comprometendo com a filha de um advogado, não de uma limpadora de privadas.

Ele soltou meus braços com um impulso, me afastando dele com um empurrão.

Meu queixo estava caído em meu rosto chocado. Como ele pôde... como...

- Você bateu mesmo no Richard? - Perguntei automaticamente antes de olhá-lo. - Na sorveteria... você o bateu mesmo por minha causa?

Ele riu.

- Foi tudo encenação. Eu sabia que a fofoqueira da Diana te contaria, precisava ser convincente.

Expirei o ar dos meus pulmões, sem saber ao certo para onde olhar.

- Então o assunto do casamento... o sonho que você teve...

- Tudo. Encenação.

Respirei fundo. Eu podia sentir a pulsação do meu coração em meus ouvidos e as lágrimas formadas na base dos meus olhos, mas eu não estava triste. Nem com raiva. Estava apenas... decepcionada comigo mesma por não ter ouvido minha mãe.

Então era pelo dinheiro e reputação. Ele jamais mudaria... sempre seria o Tyler.

- Nós estamos juntos há três anos... e você ainda não me conhece? - Eu o olhei. Minha voz estava firme e meus olhos fixos, embora parte de mim quisesse correr para longe dele o mais rápido possível. - Três anos... e você não conhece o Deus que eu sirvo.

Ele riu debochado.

- O Deus que você serve?

- Você não faz ideia do que Ele é capaz de fazer, não é? - Perguntei e esperei uma resposta, mas quando o sorriso de Tyler se esvaiu lentamente sem que ele dissesse uma palavra, completei: - Eu não estou com raiva de você, Tyler... estou com pena. Porque quando Deus entrar nessa história pra me defender, você vai se arrepender amargamente de todo o tempo que me enganou. Você vai saber que é por minha causa. Vai me pedir perdão... e eu vou te perdoar. Porque ao contrário de você, eu sei o que é amar.

Ele não disse nada. O silêncio nos permitiu ouvir por um momento o canto dos pássaros ao longe até que eu soubesse como terminar essa discussão:

- Minha mãe pode ser limpadora de privadas. Eu mesma posso ser limpadora de privadas... mas nós temos dignidade, e não importa o quanto você suba na sua vida, Tyler... dinheiro nenhum será capaz de te dar isso. O que nós temos, você nunca terá. E eu só lamento. - Apontei o portão principal. - Agora se me der licença, eu prefiro limpar privadas do que gastar mais um minuto do meu tempo com você.

O canto do seu lábio se inclinou em um sorriso torto.

- Nós ainda vamos nos encontrar, Angeline.

- Eu tenho certeza disso. - Assenti. - Contarei os minutos.

Ele parecia querer dizer algo mais, mas quando não encontrou nada aceitável, se virou e fez seu caminho para o portão com um sorriso cínico no rosto.

- Tyler! - Chamei quando o portão se fechou depois que ele passou. Ele se virou e me olhou outra vez. - É um prazer pra mim ser sua ex-namorada.

E, sem esperar respostas, me virei e fiz meu caminho para a área de descanso dos empregados.

Meus punhos estavam fechados firmemente quando cheguei até lá, e o que eu sentia era uma das coisas que eu mais detestava. Eu não queria que a raiva tomasse espaço em mim, mas ela tomou. E eu nem sabia exatamente o porquê. Eu queria apenas deixá-la sair.

Fechei os olhos e respirei várias vezes.

Por favor, Pai... tire isso de mim.

Caminhei lentamente pela grama na margem do riacho com os braços cruzados na frente do peito, lembrando de todas as vezes que desejei terminar com Tyler mas nunca ter feito isso. Me lembrei dos conselhos da minha mãe e da Diana. Tudo esteve tão nítido em minha frente, mas eu preferi fechar os olhos pra isso. Preferi acreditar que meu namorado podia ser bom, que ele podia me amar... como fui boba.

Eu devia ter andado cerca de cem metros quando parei na parte de trás da casa, ainda na margem do riacho. Me sentei na grama sabendo que ali não era mais o lugar onde os empregados costumavam visitar, então pela segunda vez naquele dia, me permiti chorar. Era o único jeito de aliviar a raiva que eu sentia.

No entanto, o pensamento que eu tinha de não ser incomodada não estava tão certo assim, já que George apareceu ao meu lado cerca de quinze minutos depois.

- Angie? - Ele chamou.

Limpei meu rosto e funguei, me virando para o olhar com um sorriso.

- Oi, George. - Ele não precisava saber. Na verdade, ninguém precisava... apenas eu e Deus.

- Aconteceu alguma coisa?

- Nada muito importante. - Gesticulei com indiferença. - Não se preocupe.

- Tem certeza? Você não parece bem.

Apertei os lábios e respirei fundo.

- Eu vou ficar bem.

Ele me olhou por vários segundos, preocupado. Sorri de novo.

- Não se preocupe comigo, eu só... acabei de resolver um problema.

- Com seu namorado? - Franzi a testa, ao que George completou: - Eu soube que ele veio te visitar.

- Ah... - Encolhi os ombros. - Agora ele é ex.

- Oh... - Foi tudo o que ele conseguiu emitir, o que me fez sorrir outra vez.

- Está tudo bem. Eu vou ficar bem, de verdade.

- Sabe que pode me procurar se precisar de um amigo, certo?

- Sei. - Assenti. - Obrigada, George.

Ele inclinou a cabeça e comprimiu os lábios com um sorriso, então, depois de continuar me olhando por um momento, se virou e se foi, me deixando sozinha outra vez.

Me voltei para o riacho e fechei os olhos. Eu queria continuar submersa em minha bolha por mais uma hora no mínimo, mas minha paz não durou muito tempo. Soltei um suspiro quando ouvi passos atrás de mim outra vez, e falei calmamente antes que eles se aproximassem mais:

- Eu não sou a primeira garota no mundo que termina um namoro, George... e também não serei a última.

Os passos não pararam, e quando percebi que o dono deles se sentou ao meu lado, abri os olhos e o olhei.

Senti meu coração errar uma batida quando encontrei os olhos escuros de Thomas fixos em mim.

- Ele te magoou? - Perguntou.

Ah, meu Deus... que dia.

- Com todo o respeito, senhor... isso não é da sua conta.

Ele revirou os olhos antes de desviá-los para o riacho.

- Só estou curioso para saber se alguém finalmente conseguiu te ensinar a odiar.

Pensei por um momento antes de desviar os olhos também.

- Não. - Encolhi os ombros. - Eu não o odeio.

Thomas voltou sua atenção para mim.

- Por que, Angeline? Se é tão mais fácil odiar, por que você prefere perdoar?

Olhei para minhas mãos imaginando o melhor jeito de responder a isso.

- É o que aprendi desde pequena... é um jeito de conseguir viver comigo mesma... e é o que Deus espera de mim.

Thomas soltou um risinho abafado.

- Deus. - Resmungou.

- Sim, senhor. Deus.

- Você não entende, não é? - Ele franziu a testa. - Isso não existe, Angeline. É como o papai noel dos adultos, olhe a sua volta! Essa sua crença te cega para as coisas reais.

Apertei os lábios antes de lhe responder calmamente:

- Eu sei o que o senhor está fazendo.

Ele riu, sarcástico.

- É claro. Você sempre sabe o que estou fazendo.

- Eu não te julgo por ser ateu, senhor. Então por favor, não tente tirar de mim a minha fé.

- Estou apenas tentando te mostrar a realidade.

Eu o olhei decidida.

- Poupe seu fôlego. Existe apenas uma realidade e ela não vai mudar só porque o senhor não acredita. Deus é Deus, Sr. Strorck... não importa a influência que tenha aqui, jamais vai exercer qualquer influência sobre Ele. O senhor acreditando ou não, querendo ou não... Ele sempre será Deus. - Desviei os olhos. - Pode negar, se quiser... mas no fundo, o senhor também sabe disso.

Eu não sei qual foi a expressão que assumiu o rosto de Thomas durante os próximos trinta ou quarenta segundos, mas quando ele voltou a falar, sua voz soou tranquila e segura.

- Quero te mostrar uma coisa.

Eu o olhei e ele tinha os olhos neutros fixos em mim.

- Amanhã. Quero te levar em um lugar, então esteja pronta às seis da manhã. Se isso for um problema pra sua mãe, diga a ela pra me procurar no escritório.

Ele se levantou enquanto meu queixo despencava.

- Onde nós vamos?

- Você vai saber quando chegarmos.

E, sem esperar uma resposta, ele se foi me deixando paralisada com um único pensamento rondando minha mente:

Ele vai me levar pra conhecer seu lugar secreto...

#-#

Geeente, desculpem a demora! Esse capítulo foi duas vezes maior do que geralmente costuma ser, mas eu não pude resumí-lo, então exigiu mais tempo de mim. Espero que a espera tenha valido a pena.

Até amanhã, minhas razões. Desculpem mesmo pela demora. Amo vcs ❤

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