Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 69
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 24

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By MihBrandao

Angeline narrando:

Eu ainda estava tentando assimilar tudo o que Thomas havia me dito quando Alice o arrastou porta afora, mas quando percebi os olhinhos escuros de Gabriel fixos em mim mesmo depois que sua irmã se foi, toda a lembrança da conversa com meu patrão se tornou supérflua.

Eu o olhei e sorri. Não porque era conveniente que eu sorrisse naquele momento, mas porque sua presença me trazia paz.

- Oi, campeão. - Falei me inclinando, colocando as mãos nos joelhos para ficar do seu tamanho.

Ele me olhou em silêncio, os olhos sem transmintir nada.

- Está com fome? - Perguntei e o vi encolher os ombros, aliviando-os rapidamente.

Sem saber se isso era um sim ou um não, sorri outra vez.

- Eu já estou terminando o almoço. Você quer experimentar o tempero?

Ele pensou por um momento e assentiu diversas vezes com a cabeça.

- Certo, venha cá... - Chamei me aproximando das panelas no fogão. Enquanto eu pegava uma colher e mexia o molho da carne, ele se aproximou de mim com passos pequenos e esperou.

Assoprei algumas vezes o resquício do alimento que ficou na colher para esfriá-lo e o coloquei em sua mãozinha estendida.

- Me diga se você gosta.

Ele levou a mão à boca e experimentou, estalando a língua. Depois me olhou novamente.

Ergui as sobrancelhas na expectativa.

- E então...?

- Eu quero mais.

Sorri abertamente, tanto por saber que ele aprovava quanto por ser a primeira vez que ele conversava comigo.

- Está quase pronto. - Me voltei para as panelas e desliguei o fogo de algumas. - Quer me fazer companhia? Pode se sentar, se quiser.

Ele não hesitou em caminhar até a ilha e ocupar uma das cadeiras.

- Você vai cuidar da gente? - Perguntou enquanto se acomodava.

- Vou. - Sorri para ele conforme colocava as panelas em um canto da ilha para George vir buscar em poucos minutos. - Por toda a semana. Vai ser divertido, não vai?

Ele fez que sim.

- Nós podemos fazer trilha na floresta.

- Trilha na floresta? - Franzi a testa.

- Do outro lado do riacho. O tio Thomas levava a gente, mas ele não tem mais tempo, eu acho.

- Parece ser um bom programa. - Conferi a carne no forno e me aproximei do garotinho. - Podemos fazer um piquenique, brincar de correr e passear pelo jardim.

- E tomar banho de piscina. - Ele sorria, animado, mas seu sorriso se suavizou aos poucos. - Você vai mesmo fazer isso? A Eileen não gostava.

- Não gostava de quê?

Gabriel desviou os olhos e encolheu os ombros.

- De mim.

Senti meu coração apertado pelo modo como ele disse isso. Como pode alguém não gostar de uma criança como ele?

Depois de olhar seu rostinho tristonho por um momento, eu me sentei em sua frente.

- Sabe o que eu acho? - Perguntei chamando sua atenção.

- O quê?

- Acho você um menino lindo, inteligente e muito, muito cativante. Quem não gosta de você... não sabe o que está perdendo.

Gabriel deixou escapar um sorriso suave antes de desviar os olhos, e eu sabia que minhas palavras não haviam sido tão convincentes.

- Ei... - Ergui seu queixo suavemente com o indicador e o olhei por um segundo. - Vou te dizer uma coisa e quero que você preste bastante atenção para não esquecer, está bem?

Ele assentiu, me observando como se eu estivesse prestes a lhe contar o maior segredo da humanidade. Então eu falei devagar, torcendo pra que minhas palavras fizessem sentido para ele:

- Pra algumas pessoas, você nunca será bom o suficiente, e tudo bem por isso. Ninguém pode agradar a todos. Mas para as pessoas que te amam... você sempre será tudo.

Ele piscou seus olhinhos escuros pra mim em silêncio.

- Você é incrível, Gabriel... - Falei acariciando sua cabeça. - E muito especial. Não deixe ninguém te fazer esquecer isso. Promete?

Ele assentiu com determinação, me fazendo sorrir.

- Bom garoto. - Dei um beijo em sua testa e me levantei da cadeira para conferir a carne no forno.

- Como anda o almoço por aqui? - George perguntou entrando na cozinha e ergueu as sobrancelhas surpreso ao encontrar Gabriel.

- Está pronto. - Respondi tirando a travessa de vidro do forno com uma luva térmica.

- Eu acho que já tem gente com tanta fome que até resolveu esperar na cozinha, não é? - Ele perguntou sorrindo pro garotinho, que se virou pra mim.

Eu também sorri, erguendo os ombros como se o incentivando a dizer alguma coisa. Por fim, Gabriel se voltou para George e curvou os cantos da boca em um sorriso hesitante.

O sorriso de George foi substituído pelo choque quando ele me olhou.

- Certo, Gabriel... - Eu disse antes de dar a ele chance de dizer qualquer coisa. - Pode ir chamar seus pais para vir almoçar?

O garotinho pulou da cadeira e correu em disparada pela porta.

- Como você conseguiu? - George perguntou enquanto começávamos a arrumar a mesa da copa.

Sorri.

- Ele não precisa de pessoas fingindo que ele é especial, George. Ele é especial. E não é por causa da sua cor, é simplesmente... por ser quem ele é.

***

Eu estava lendo alguns livros minutos depois, ouvindo o barulho de risos e brincadeiras vindo da copa quando meu telefone tocou.

- Oi, Di. - Falei ao atender depois de conferir quem era.

- Você vai dormir aqui, certo? Porque eu comprei algumas coisas pra nossa festa do pijama.

- Acho que sim... mas amanhã tenho que estar em casa bem cedo.

- Ah, não! Como você vai embora cedo se vamos passar a noite acordadas?

- Eu não posso, preciso cuidar dos sobrinhos do meu patrão.

- Por que você não traz eles?

Eu ri. O jeito como ela pediu isso soou como se estivesse pedindo pra eu levar sacos de dormir.

- Eu não posso, Diana. Eles já têm compromisso essa noite.

Minha atenção foi desviada para a porta quando Alice e Gabriel apareceram - cada um segurando um prato de comida -, enquanto Diana prosseguia do outro lado da linha:

- E você tem compromisso amanhã de manhã. Fala sério, é domingo! Então...

- Di, eu preciso desligar agora.

- Não, estamos no meio de uma discussão de extrema...

- A gente conversa mais tarde, tudo bem? Eu te ligo. - Então desliguei, porque sabia que aquela despedida poderia se estender por minutos a fio se eu desse corda.

Foquei minha atenção nas crianças paradas à porta e sorri.

- Oi...

- A gente pode te fazer companhia, tia Angie? - Alice perguntou. - A mamãe e o papai deixaram.

- Ah, mas é claro! - Afastei os livros para o canto, abrindo espaço pra que eles pudessem se sentar comigo.

- Você quer que eu pegue comida pra você? - Ela perguntou ao notar que eu não estava almoçando.

Eu ri, tocada pela sua gentileza.

- Não, obrigada. Eu já almocei.

- Ah... - Ela encolheu os ombros e se sentou enquanto Gabriel fazia o mesmo. - O que está fazendo?

- Eu estava lendo um livro...

- A história do anjo Gabriel? - O garotinho perguntou antes de começar a comer.

Olhei pra ele e sorri, pensando por um momento.

- Esperem um pouquinho. - Falei me levantando.

Sobre uma prateleira do armário eu sempre deixava minha bíblia quando chegava para trabalhar, então fui até ela e a peguei.

- Aqui está. - Falei voltando para as crianças. - Vocês já viram um livro como esse?

- A mamãe tem um. - Alice respondeu entre uma garfada e outra. - O dela fica aberto perto da cama.

- Ela não lê pra vocês?

Ela encolheu os ombros.

- Ela lê histórias de criança. Esse livro não tem imagens.

Sorri, me sentando novamente em meu lugar.

- É, ele não tem... mas aqui dentro tem centenas de histórias diferentes.

- Tem o anjo Gabriel? - O menininho perguntou me olhando ansioso.

- Ah, tem sim... - E abrindo a bíblia, folheei as páginas até o livro de Lucas, encontrando o que procurava no versículo 26 do primeiro capítulo. - Aqui está.

Estendi a bíblia sobre a mesa e li os versículos devagar, de modo que eles pudessem entender:

- E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta. Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.

Assim que terminei de ler e olhei para eles, encontrei Alice e Gabriel me olhando atentamente enquanto mastigavam preguiçosamente a comida.

- Então... - Alice disse. - Gabriel era um anjo... e Jesus era um rei.

- Não, não eram. - Eu sorri. - Eles são. Gabriel é um anjo mensageiro e sim, Jesus é rei. O filho de Deus.

Ambos se concentraram em comer por alguns segundos antes que Gabriel rompesse o silêncio:

- E Deus é filho de quem?

Alice ergueu os olhos para ouvir minha resposta e eu pensei por um momento, sem conseguir evitar meu sorriso.

- Deus não tem pai. Ele é o Pai. Não só de Jesus, mas de toda a humanidade.

Alice franziu a testa.

- Ele não é meu pai. O Stephan que é.

- Hm... - Mordi o lábio pensando em uma explicação lógica para eles. - Deus foi quem criou tudo o que existe, sabiam disso? Os animais, a terra, as plantas... as pessoas. Ele foi quem me criou... e criou vocês, assim como também criou seu pai e o pai do seu pai e quem veio antes deles. Deus é o criador de todas as coisas, e se Ele criou tudo, então...

- Ele é o pai de tudo. - Gabriel concluiu.

- Exatamente. - Sorri.

- Então ninguém criou Deus? - Alice perguntou curiosa.

- Ninguém. - Confirmei. - Ele não tem início. Antes de qualquer coisa existir no universo... Ele já existia.

- Mas então... - Ela olhou pra sua comida com a testa franzida. - Não é Deus quem devia ser o rei? Jesus tinha que ser o príncipe.

Eu ri.

- É uma história longa e bem complicada de entender, vamos precisar de muito tempo. Que tal amanhã?

Ela me olhou, seus olhos brilhando:

- Amanhã o dia inteiro?

- Sim, se for preciso. - Respondi dando de ombros.

Gabriel soltou um gritinho animado.

- Legal!

- Certo, agora comam. Vocês precisarão de energia pra festa de hoje a noite.

***

- Eu estarei em casa bem cedo, mãe. - Falei horas mais tarde enquanto ajudava minha mãe a limpar os quadros do corredor. - Não vou me atrasar.

- Eu sei que não... mas tem certeza de que não prefere ficar para a festa?

- Tenho. - Suspirei, parando momentaneamente de passar o pano na vidraça. - Olha, eu não o odeio, mas... bem, ele não é uma das pessoas com quem eu gostaria de comemorar o aniversário. E além do mais, nem presente eu comprei... eu não vou chegar aqui sem nada a oferecer.

- Talvez devesse ficar pelo menos no começo. Sabe, nem precisaria se vestir apropriadamente, mas...

- Mãe. - Eu a interrompi. - Eu já tenho minha decisão. E além do mais, a senhora já deve saber que há algum tempo eu não me interesso mais por festas de aniversário. Ainda mais desse tipo, isso seria... demais pra mim.

- Tia Angie! - Ouvi a voz de Gabriel, e quando me virei o encontrei se aproximando segurando a mão de Alice. No entanto, o sorriso que ele tinha no rosto vacilou quando ele viu minha mãe.

- Ah, oi... vocês já conhecem minha mãe?

Alice ergueu as sobrancelhas.

- Tia Sarah é sua mãe?

- Sim. - Respondi com um sorriso.

- A gente já conhece ela das outras vezes que viemos aqui.

- E além do mais eu já os tinha visto depois que eles chegaram hoje. - Minha mãe disse com um sorriso carinhoso.

Como Gabriel pode se simpatizar comigo mas não com esse sorriso?

- Certo. - Falei balançando a cabeça. - Vocês querem alguma coisa?

Alice olhou Gabriel por um segundo antes de se virar para mim outra vez.

- Nós fizemos uma coisa pra você. - Ela disse e Gabriel me estendeu a mãozinha.

- Venha ver, tia Angie. Ficou lindo. - Ele falou mais baixo que o normal, provavelmente por causa da presença da minha mãe.

Olhei para ela por um momento, que tirou o pano da minha mão e gesticulou pra que eu fosse.

- Tudo bem. - Peguei sua mãozinha e deixei que eles me conduzissem até seu quarto. - Vocês estavam sozinhos aqui? - Perguntei assim que passamos pela porta ao notar a enorme quantidade de tinta rosa e glitter espalhado pelo chão.

- A mamãe e o papai estão ajudando a arrumar as coisas lá embaixo.

- A vovó e o vovô também. - Gabriel completou.

Assenti, fazendo uma breve oração mental pra que aquela tinta fosse facilmente removida do piso.

- Feche os olhos. - Alice pediu enquanto minha atenção ainda estava focada no chão. - É uma surpresa.

Oh... certo.

Fechei os olhos e senti Gabriel soltando minha mão. Eles correram alguns passos, mas logo os ouvi voltar outra vez.

- Pode abrir. - Alice disse.

Obedeci e não pude esconder minha admiração ao ver a linda máscara rosa com glitter e um ramo de penas enfeitando a parte superior que Gabriel me estendia.

- Meu Deus, que linda... vocês que fizeram?

- Sim! - Ele respondeu alegremente. - É pra você usar na festa hoje.

Alice correu até um canto e voltou com duas outras máscaras na mão, uma rosa como a minha - embora essa não tivesse penas -, e outra preta.

- Essas são a minha e a do Gabriel. Nós três ficaremos iguais. - Havia algo mais que ela parecia estar escondendo, mas minha atenção estava focada apenas em como dizer a eles que eu não iria à festa.

Olhei minha máscara e engoli.

- Não achei que fosse um baile de máscaras.

- Não é, essa é parte mais legal! Nós seremos diferentes.

Olhei para ela e tentei sorrir.

Deus, como dizer a eles que eu não vou?

- Você não gostou, tia Angie? - Gabriel perguntou ao notar minha expressão.

- Eu amei! - Falei sinceramente. - Amei de verdade, ela é... incrível, mas...

- Mas ela vai precisar de um vestido que combine. - Ouvi a voz antes de terminar, e ao me virar para a porta, encontrei Alexia parada no batente com um sorriso estampado no rosto.

- Mamãe! - Gabriel exclamou correndo para abraçar suas pernas.

- Oi, meu amor. Espere, deixe a mamãe ajudar a tia Angie.

Ela se desvencilhou do abraço do filho e veio até mim.

- Me deixe ver, Angie... - Pediu e eu a estendi minha máscara. - Que maravilhosa. Quem fez isso são verdadeiros artistas.

Alice e Gabriel sorriram como se estivessem sincronizados.

- Você tem um vestido que possa combinar?

- Hm, não... mas na verdade eu...

- Nada disso, sem mas. Eu tenho um que combina perfeitamente, acho que cabe em você. Venha, vamos ver.

Ela me entregou a máscara e fez seu caminho para o closet enquanto eu me virava para as crianças, que tinham no rosto o sorriso de alguém que acabou de conquistar alguma vitória.

- Venha, Angie. - Lexy me chamou lá de dentro. - Alice e Gabriel fiquem aí, isso é uma surpresa.

Apertei os lábios e a segui para o interior do closet. O ambiente não era tão grande quanto o de Thomas, mas o espaço era suficiente para permitir que alguém se arrumasse sem nenhuma dificuldade.

- Aqui está ele. - Alexia disse tirando um vestido rosa do cabide. Ele tinha a parte de cima incrustada de pedras que lembravam pérolas e a parte de baixo solta, rodada.

- Ele é lindo... - Falei passando a mão com cuidado pelo tecido.

- O que está esperando? - Ela sorriu. - Experimente.

Respirei fundo e balancei a cabeça.

- Não, Lexy, eu... não posso vir à festa.

- Olha, não precisa ficar com medo. Se Thomas disser alguma coisa, eu digo que você está comigo. Falta de convite não é problema.

- Não é isso. - Desviei os olhos. - Eu fui convidada, mas... eu não posso.

Alexia levou um tempo para responder, e quando eu a olhei, ela tinha a boca levemente aberta em choque.

- Thomas convidou você?

Assenti e ela desviou os olhos, ponderando minha resposta. Então me olhou novamente.

- Por que você não pode vir?

- Bem, porque... - Minha testa estava franzida, mas as palavras não conseguiam deixar minha boca. Por fim, suspirei. - É complicado.

- Olha, Angie, eu sei a fama que ele tem. Ele é um homem frio, arrogante e calculista, eu sei disso... mas nem sempre foi assim. Será que você não pode dar uma chance e vir hoje a noite? Se ele te convidou, deve ser importante pra ele que você esteja aqui.

Desviei os olhos e, sem que eu pudesse evitar, me lembrei do dia que o pedi para ir ao congresso na minha igreja, semanas atrás. "Isso é muito importante pra mim, senhor." - eu havia dito. "Isso não é problema meu." - foi o que ele respondeu.

Mas não é por isso que me recuso a ir em sua festa. Eu apenas não quero me iludir novamente, achando que existe alguma chance de ele conseguir ser humilde ou, pelo menos, justo. Não existe um motivo pra ele me convidar, se no dia seguinte vai me decepcionar outra vez. Ele não fará isso se eu não lhe der chance.

Inspirei o ar profundamente e olhei para Alexia.

- Me desculpe, Lexy. Eu agradeço pela sua boa vontade em me emprestar o vestido e... às crianças por me fazerem essa máscara linda. Mas eu já dei minha palavra. Essa noite... eu vou pra casa da minha amiga.

Alexia soltou o ar suavemente,  deixando o vestido pender em sua mão. Ela tinha um olhar decepcionado no rosto, mas eu não mudaria minha palavra. Se eu disse que não viria à festa, eu não iria vir.

- Tudo bem. - Ela disse por fim. - Mas por favor, não diga nada às crianças. Elas se magoam muito facilmente e pode ser que percam a vontade de vir também. Amanhã você explica pra eles o motivo de não ter vindo, tudo bem?

Balancei a cabeça que sim.

- Tudo bem...

***

Alice e Gabriel estavam se arrumando para a festa no interior da casa quando entrei no táxi parado na frente do portão.

- Vejo você amanhã, Angie. - George disse acenando em despedida. - Divirta-se.

- Você também, George. - Eu o mandei um beijo e bati a porta antes de cumprimentar o motorista. - Olá, Frank.

- Oi, Angie. Como vai?

- Muito bem, obrigada. Estou indo pra casa da Diana, minha amiga. Ainda sabe onde é?

- É claro. - Ele assentiu, e me lançando um sorriso, deu partida no carro.

***

Já havia se passado de oito da noite quando meu celular começou a vibrar em meu colo. Eu e Diana estávamos esparramadas no sofá, vestidas com nossos pijamas e assistindo a um filme motivacional enquanto comíamos pipoca numa tigela.

Conferi a tela e deslizei para atender.

- Oi, Ty...

- Oi, amor. Como foi seu... - Mas ele não teve tempos terminar de falar, porque antes que o fizesse, Diana tomou o telefone da minha mão e o colocou contra o próprio ouvido.

- Sinto muito, babaca, mas Angeline está ocupada agora. - E sem me pedir licença, desligou.

Eu a olhei chocada.

- O que foi isso?

- Ele não vai estragar nossa noite. - Ela disse se levantando do sofá. - Onde está sua bolsa?

- Diana...

- Não, Angie! A gente não se encontrar há um mês, eu não vou permitir que você desperdice nosso tempo falando com esse cretino. Pode ligar pra ele amanhã, mas hoje não.

Ela começou a andar pela sala procurando minha bolsa, ignorando o filme que ainda passava na televisão.

- Pensei que você achasse que ele estava mudando.

Diana suspirou e me olhou.

- Olha, eu não sei, tá legal? Talvez ele esteja, mas... isso não muda tudo o que ele já fez.

Eu sorri, percebendo não pela primeira vez, o quanto minha amiga podia ser imprevisível.

- Ah, achei! - Ela disse ao encontrar a bolsa no canto do sofá.

Diana foi até ela, a abriu e estava prestes a jogar o telefone dentro quando franziu a testa.

- O que é isso? - Disse tirando um objeto rosa do seu interior.

Eu não consegui sair de casa e deixar minha máscara feita com tanto carinho largada sobre o sofá, então a joguei na bolsa e a trouxe comigo.

- Foram os sobrinhos do Thomas que fizeram pra mim. - Eu disse pegando-a da mão de Diana e a colocando em meu rosto. - O que achou?

Ela ergueu as sobrancelhas.

- Ela é linda. Talvez um pouco rosa demais, mas... eu gostei.

Eu ri, tirando a máscara.

- Eles me pediram pra usar na festa hoje.

- Na festa do Thomas?

Assenti.

- Eles fizeram uma pra cada um. Ficaram tão lindas, eles têm muito talento.

Diana sorriu, mas seu sorriso não chegou aos olhos.

- Eles devem ter ficado tristes quando souberam que você não usaria.

Apertei os lábios.

- Eles não sabem.

- Como assim?

- A mãe deles pediu pra eu não contar, então amanhã quando eu chegar, eu tento explicar porque não fui.

O queixo de Diana caiu em seu rosto chocado.

- Está dizendo então... que as crianças que fizeram isso pra você estão te esperando até agora em uma festa que você não pretende comparecer?

Eu a olhei encolhendo os ombros.

- Eles devem estar distraídos, brincando. Provavelmente só irão perceber minha ausência quando a festa acabar.

Minha amiga soltou um riso amargo.

- Querida, são crianças! Elas não esquecem esse tipo de coisa.

- Como você sabe?

- Porque quando eu perdi minha audiência quando tinha sete anos foi porque estava esperando meu pai. - Ela disse revirando os olhos.

Diana pegou o controle remoto e finalmente deu pausa no filme.

- Acha que eles estão me esperando? - Perguntei sentindo meu coração apertado ao olhar a máscara que eu tinha em mãos.

- Não acho. Eles estão te esperando.

Soltei um suspiro e larguei a máscara sobre o sofá, passando as mãos no cabelo.

- Eu não posso ir, Di. Eu não tenho presente, nem vestido, nem afinidade com o aniversariante... como posso ir assim?

Ela balançou a cabeça erguendo três dedos.

- Em primeiro lugar, você não vai pelo aniversariante... vai pelos sobrinhos dele. Em segundo, nós vestimos o mesmo número, então se você não achar um vestido apropriado para essa ocasião em meu closet, eu não me chamo Diana Kidder. E em terceiro... - Ela sorriu e pegou o celular no bolso da calça. - Tenho um amigo que sabe modelar em madeira. Pense em alguma coisa criativa, ligue pra ele e você terá um presente lindo em até meia hora.

Balancei a cabeça.

- Diana, a festa já deve ter começado há uns quinze minutos...

- E não vai terminar antes de mais cinco horas. Então ande! Pense em algum presente enquanto eu procuro seu vestido.

Ela me entregou o celular e me puxou pela mão, me levantando do sofá. Estávamos começando a subir as escadas quando a porta da frente se abriu, permitindo a passagem de sua mãe e seu pai.

- Angie, querida, desculpe a demora. - A senhora loira disse ao entrar. - O restaurante estava lotado... mas fique tranquila, em um minuto nós teremos um jantar decente.

- Ela não tem tempo de comer, mãe! - Diana resmungou me empurrando escada acima. - Ela tem uma festa para ir.

#-#

Geeente, esse capítulo teve quase quatro mil palavras 😱

O Wattpad está com algum problema, então apesar de nos últimos três dias os capítulos terem sim saído tarde, uma parcela dessa demora toda é do aplicativo. Maaas, independente da hora, todos os dias tivemos um capítulo, certo? Espero que o horário não seja um problema. É que eu estou tendo alguns imprevistos, mas logo logo voltaremos às postagens 9 horas da manhã.

Até amanhã, minhas razões ❤ Mih ama vocês.

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