Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 69
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 22

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By MihBrandao

Alexia narrando:

Eu e meus sogros estávamos rindo de um comentário qualquer do Stephan sobre a enorme quantidade de bagagens no porta malas quando olhei para a entrada da casa, então meu riso se foi.

Eu não vi o rosto do meu filho, mas pude ver seus bracinhos envolvendo as pernas de uma garota parada na porta que, chocada, não reagia de jeito algum. A surpresa também me deixou estática enquanto Stephan continuava o assunto alegremente com seus pais, e quando Gabriel finalmente a soltou e correu para dentro da casa, consegui dizer ainda olhando as costas da menina:

- Vocês viram isso?

Rindo, Stephan se aproximou de mim e passou seu braço sobre meus ombros, me dando um beijo no topo da cabeça.

- O ego do meu pai? Claro, amor. Deve estar na China agora.

Ouvi os três rirem, mas meus olhos ainda estavam fixos na menina que, admirada, ainda olhava o caminho que meu filho havia percorrido.

- Gabriel abraçou ela.

E foi assim que consegui toda a atenção deles. Stephan parou de rir instantaneamente, assim como eu, deixando sua expressão ser tomada pela surpresa quando seguiu meu olhar.

- Agora? - Diogo perguntou se aproximando ainda mais da gente.

Assenti com a cabeça.

- George. - Meu marido chamou.

O mordomo que antes estava escondido atrás da porta do bagageiro ajudando Diogo com suas malas, apareceu imediatamente.

- Sim, senhor?

- Quem é aquela menina?

George seguiu nosso olhar e sorriu com carinho ao olhar para ela.

- Ah... é a cozinheira da casa, senhor. Angeline. É uma menina adorável.

- Angeline. - Stephan repetiu com uma sombra de surpresa e choque na voz, me fazendo olhá-lo.

- Você a conhece?

Ele não me olhou quando negou com a cabeça.

- Não, mas Thomas... - Então parou e pensou por um momento antes de olhar para mim com um sorriso suave. - Nada. - E se aproximando, me deu um selinho rápido na boca. - Não é nada.

Stephan se afastou de mim para terminar de pegar as bolsa das crianças no porta-malas enquanto eu continuava o olhando por um momento, sabendo que existia algo mais. Havia algo que ele resolveu emitir, e por algum motivo, eu sabia que era melhor não insistir agora.

Balancei a cabeça eliminando esse pensamento.

- Tá, tudo bem. Luna, quer vir comigo conhecer a menina que conquistou seu neto em cinco minutos?

- Preciso, querida. - Ela respondeu com um sorriso.

- E eu? - Stephan perguntou mostrando falsa chateação.

- Você termina de ajudar o George com as malas.

Minha sogra riu enquanto eu cruzava meu braço ao dela e andávamos em direção à moça, que a essa hora já havia se virado em nossa direção.

- Oi. - Falei soltando o braço de Luna para estender minha mão. - Sou Lexy, cunhada do Thomas.

O sorriso que ela me lançou foi tão puro, que me simpatizei com ela imediatamente.

- Angeline. - Devolveu com um cumprimento firme.

- E eu sou Luna, a mãe. - Minha sogra disse ao meu lado, cumprimentando-a também.

- É um prazer. - A menina respondeu com sinceridade. - Podem me chamar de Angie, é assim que todos me chamam. Bem... todos menos o patrão.

Eu sorri tentando ser simpática, ciente da fama do meu cunhado.

- Parece que meus filhos gostaram de você. - Falei.

Angeline olhou para trás por impulso, seu sorrindo se abrindo, mas Thomas já havia levado as crianças para cima.

- Eu me apaixonei por eles. São adoráveis.

Não pude evitar meu riso orgulhoso.

- É, eles são.

- Mas geralmente Gabriel não se dá muito bem com estranhos. - Luna comentou. - Na verdade, você deve ser a primeira estranha que ganha um abraço dele.

Angeline parecia querer responder, mas seus olhos viajaram para algo atrás de nós e antes que ela dissesse qualquer coisa, George passou por ela em direção à escada lhe lançando um sorriso e eu senti o mão do Stephan em minhas costas.

- Olá, Angeline. - Ele disse, curioso.

- Hm, oi... senhor.

- Stephan. - Ele deixou uma mala no chão para cumprimentá-la, a outra mão ainda em minhas costas. - Me chame de Stephan, por favor. Reserve o senhor para homens velhos como meu pai.

Ela riu bem humorada enquanto Diogo lançava um olhar de repreensão para o filho, mas sem conseguir esconder o sorriso que começava a brotar no canto do seu lábio.

- É um prazer te conhecer, Angeline. - Meu sogro disse apertando a mão dela também. - Soube que você conseguiu conquistar meu neto.

Ela não parava de sorrir e seu sorriso me contagiava.

- Ele é lindo, assim como a Alice. Devem ser crianças incríveis.

- Ah, eles são. Você gosta de crianças?

- Como poderia não gostar? - Ela encolheu os ombros. - São anjos.

- Há quanto tempo você trabalha aqui? - Dessa vez foi Stephan quem perguntou. - Ainda não havíamos nos conhecido.

- Faz pouco mais de um mês, senhor. Digo... - Ela balançou a cabeça. - Stephan.

- Deve ser uma experiência e tanto ter que lidar com o babaca do meu irmão. - Ele disse, mas eu pude notar que o tom que ele usava, esperava que ela respondesse. Mas Luna o olhou de cara fechada sem dar à Angie a chance de entrar nesse assunto.

- Não fale mal do Thomas, Stephan. Você também já foi babaca um dia. - E, se voltando pra menina, completou: - Nós vamos subir pra tomar um banho e descansar agora, querida. Foi uma longa viagem.

Angeline assentiu.

- Claro, senhora. Eu vou preparar o almoço de vocês.

- Luna, meu bem. Me chame de Luna. - Ela disse batendo de leve no ombro da menina antes de passar por ela, ao lado de Diogo que carregava as malas.

Eu a olhei e sorri.

- Foi um prazer te conhecer, Angie. Podemos conversar um pouco mais depois, certo?

- É claro.

- Então te vejo daqui a pouco. Vou dar banho nas crianças, porque se depender delas, não tomarão banho hoje.

Ela riu.

- Okay. Foi um prazer conhecer vocês também.

Stephan pegou a mala do chão e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos enquanto fazíamos nosso caminho para o quarto em que costumamos ficar quando estamos na casa.

- O que foi aquilo? - Perguntei enquanto subíamos as escadas.

Ele suspirou, sabendo que estava me referindo à sua reação ao ver Angie.

- Lembra quando você ligou pro Thomas essa semana e ele te pediu pra falar comigo?

Assenti, sem uma palavra.

- Ele queria falar sobre ela.

Inclinei a cabeça para olhar seu rosto.

- E...?

Meu esposo respirou fundo, andando pelo vasto corredor ao meu lado.

- Ele me disse que ela se parecia com a Alice.

Senti meu coração se contrair levemente antes de adotar um ritmo pesado.

- O que você achou? - Stephan perguntou.

Encolhi os ombros, focando minha atenção nos passos que meus pés davam.

- Eu parei de comparar as pessoas que me cercam com ela já faz algum tempo.

- Eu sei, eu também. Mas depois que ele falou, não pude evitar.

Eu o olhei.

- E o que você achou?

Ele me olhou de volta.

- Nas três únicas frases que eu a ouvi falar? Não sei dizer.

Stephan parou na frente de uma porta de madeira e a abriu sem esforços, me dando espaço para entrar primeiro.

- Mas eu estou preocupado, amor. Thomas tem vivido dentro de uma bolha desde que tinha oito anos, mas agora... e se ele se apaixonar por ela?

Eu me sentei na cama e tirei minhas sandálias, pensativa.

- Ele assinou aquele contrato. - Murmurei.

- Sim. Ele pode cometer uma besteira.

Olhei para meu esposo com as sobrancelhas franzidas conforme ele colocava as malas no canto do quarto, ao lado das que George já havia trazido.

- Você está com medo que ele perca o dinheiro da família?

Stephan balançou a cabeça para os lados enquanto se aproximava de mim e se sentava ao meu lado.

- Não, amor. Que se dane o dinheiro. - E, deitando a cabeça em meu colo ele abraçou minha cintura. - Tenho medo que ele perca a única chance que terá na vida de amar alguém...

***

Stephan dormiu assim que tomamos um banho, então saí do quarto em busca de Alice e Gabriel.

Não demorei até encontrá-los no quarto do Thomas com a porta entreaberta, Gabriel em seu colo no chão e Alice deitada de barriga para baixo, desenhanhando em uma folha com os pés balançando no ar.

- ... então ela precisa de uma máscara rosa, entende? - Ouvi minha filha dizer. - Senão o príncipe não vai saber quem ela é.

- Essa cor é mais escura, amigão. - Thomas disse entregando um lápis de cor preto ao sobrinho, que soltou o azul que segurava e aceitou o que lhe era oferecido. - Então ela vai ficar com uma máscara rosa e o príncipe com uma preta.

- Ele tem que ser misterioso. - Alice resmungou pensativa. - Mas seria legal se a gente tivesse algumas penas pra colocar aqui, ela ficaria linda.

- Ela vai ficar linda porque é você quem está desenhando.

- A minha vai ficar linda também, não é titio? - Gabriel perguntou erguendo a folha que estava pintando.

- Com certeza. - Thomas respondeu sorrindo. - Mas talvez eu possa pedir ao George para providenciar algumas penas.

Ele atraiu imediatamente a atenção da Alice.

- Sério?

- É claro. O que mais a gente precisa?

- Glitter e tinta! - Ela respondeu empolgada.

- E máscara de verdade. - Gabriel pediu.

Alice sorriu.

- Máscaras de verdade! Depois eu posso ser a princesa e você será o príncipe misterioso! - Disse ao irmão.

- E eu, serei o quê? - Thomas perguntou.

Gabriel o olhou e pensou por um momento.

- Pode ser o cavalo do príncipe.

Tive que me esforçar para não rir alto como Thomas, já que estava escondida atrás da porta.

- Acho que vai ser legal ser o cavalo do príncipe. - Meu cunhado respondeu.

- E eu serei a mamãe do príncipe e da princesa que vai levá-los para tomar banho. - Falei finalmente entrando no quarto.

- Ah, mãe... - Alice resmungou.

- Certo, acho melhor vocês irem enquanto eu mando o George buscar os materiais que iremos precisar.

- Não se esqueça das penas, tá bom? - Alice pediu enquanto se levantava, deixando as folhas e os lápis de cor no chão. - Nem das tintas, do glitter e das máscaras de verdade pra gente enfeitar.

- Tudo bem. - Thomas assentiu.

- Alexia? - Ouvi a voz atrás de mim e instantaneamente meus filhos congelaram dentro do quarto, perto do tio.

- Oi, Eileen. - Falei me virando.

- Ah, que bom ver você! - Ela disse se aproximando para me abraçar. - E os meus anjinhos, como estão?

Ela olhou dentro do quarto e seu sorriso se abriu.

- Oh, olhe só pra vocês! Como cresceram!

Alice segurou a mão de Gabriel e ambos recuaram alguns passos para acrescentar uma distância maior entre eles e Eileen.

- O que foi? - Ela perguntou com falsa animação. - Não querem brincar hoje?

Gabriel ficou imóvel por alguns segundos, então se virou para o tio que já havia se levantado, puxou a barra da sua camisa e o fez se abaixar. Então, cobrindo a boca com a mão que não estava segurando a mão da Alice, cochichou algo em seu ouvido.

- Tem certeza? - Thomas perguntou e eu percebi um brilho estranho em seus olhos. Era algo como surpresa, ansiedade e aprovação.

Gabriel assentiu com a cabeça diversas vezes, como se para intensificar sua resposta afirmativa.

- Certo. - Thomas se levantou. - Eileen, volte ao trabalho. Você está dispensada do trabalho como babá deles.

A menina ao meu lado piscou algumas vezes, em choque. Então sorriu forçadamente e balançou a cabeça.

- Mas... tem certeza, senhor? Será que consegue encontrar alguém pra cuidar deles em um intervalo de tempo tão pequeno?

- Isso já não é da sua conta. Eu mandei voltar ao trabalho agora.

Ela vacilou por alguns segundos como se tentando encontrar algum outro meio de convencer o patrão. Até que, enfim, sorriu novamente de um jeito que deu medo até em mim e se foi pelo mesmo caminho que havia chegado.

Me voltei para meus filhos.

- Certo. Hora do banho.

Minutos depois, enquanto eu lavava o cabelo crespo de Gabriel enquanto fora do banheiro Alice penteava seu próprio cabelo, precisei perguntar:

- O que você disse ao tio Tom, amor?

Ele deu de ombros indiferente, brincando com um pato na banheira.

- Pedi a ele pra deixar a tia Angie cuidar da gente.

Não pude deixar de notar que ele nunca havia chamado Eileen de tia, e não pude evitar meu sorriso.

- Você gostou dela, não é?

Ele assentiu.

- Ela disse que meu nome é de anjo. E o nome dela parece anjo. Então nós temos que ficar juntos.

Meu sorriso se abriu.

- Você acha que ela vai gostar de mim, mamãe? - Ele perguntou ao me olhar pensativo.

- Ela já gosta de você, meu amor. Não tem como alguém não gostar de você.

***

De algum jeito surreal, George já havia trazido para meus filhos tudo o que Thomas pediu assim que eles terminaram de tomar banho e se arrumaram para o dia na casa, então ao pegar as sacolas com suas encomendas, ambos correram para brincar lá fora e eu fiz meu caminho para a cozinha.

Senti o aroma da comida antes mesmo de entrar, o que fez meu estômago roncar.

- Esse cheiro está maravilhoso. - Falei passando pela porta.

Angeline se virou pra mim, surpresa.

- Ah... oi, senho... digo, Lexy.

- Você quer ajuda aqui?

Ela franziu a testa suavemente.

- Você é visita, devia estar descansando.

Eu ri.

- Meu marido sempre diz isso. Mas posso te contar um segredo? - Me sentei em uma das cadeiras da ilha da cozinha e me inclinei para frente. - Descansar é uma tortura pra mim. Eu não consigo ficar sem fazer nada.

Ela sorriu, sinalizando ter entendido.

Pensei por alguns segundos no quanto eu queria conversar com ela, mas sem saber por onde começar, então ela resolveu falar primeiro:

- Vocês moram no Brasil, certo?

- Exatamente.

- Seus filhos falam inglês muito bem. Como podem ser fluentes tão novos?

- Ah... - Sorri. - Eu e meu esposo conversamos em inglês com eles desde que nasceram. Gabriel as vezes tem mais dificuldade que a Alice em separar o inglês do português, mas com o tempo ele vai acabar aprendendo.

- Eu não duvido disso. - Ela olhou pela janela, para a grama onde meus filhos haviam acabado de se sentar para brincar.

Por alguns segundos ficamos em silêncio, e enquanto ela cortava a salada, eu pude vê-la olhar vez ou outra para fora.

- Pode perguntar. - Eu disse.

- O que? - Ela me olhou.

Sorri.

- Onde quer que vamos, sempre existe alguém que quer me perguntar alguma coisa. Não tem problema, sinta-se a vontade.

Ela pensou por um momento e olhou a janela novamente.

- Eu percebi que toda a família do seu esposo tem cabelo escuro... e você também. Então, de quem Alice puxou o cabelo loiro?

Olhei para ela surpresa. Ninguém nunca havia me perguntado sobre o cabelo da Alice quando o Gabriel estava por perto - todo mundo tem mais curiosidade no menino negro dentro de uma família de brancos -, mas olhando para Angeline, eu sabia que isso era realmente tudo o que ela queria saber. Ela não tinha interesse na origem do meu filho.

- Da minha... mãe. - Respondi hesitante. - Ela tinha cabelos loiros, mas eram mais claros. Alice herdou o cabelo dela.

Angeline assentiu, sinalizando compreender.

- Achei que você fosse perguntar por que eu havia adotado o Gabriel ou algo assim. - Encolhi os ombros quando ela me olhou. - É o que as pessoas sempre perguntam.

Ela balançou a cabeça para os lados enquanto jogava numa tigela de vidro a salada que havia cortado.

- Eu não preciso perguntar algo que já sei a resposta. Estranho seria se você não tivesse o adotado.

Eu sorri, percebendo agora o porquê do meu filho ter gostado dela. Ele estava apenas esperando a estranha certa para se deixar cativar.

- Mesmo assim... posso contar a história, se você quiser ouvir. É algo um pouco... surpreendente.

Angeline me olhou e sorriu quando percebeu que eu estava falando sério.

- Será um prazer pra mim.

Então, depois de conferir todas as panelas no fogão, ela se aproximou e se sentou ao meu lado.

Sorri e apertei os lábios antes de começar. Não era uma história que eu costumava contar pra qualquer um.

- Desde pequena, Alice tinha... bem, continua tendo, na verdade... uma mania de comprar biscoitos e lanches para os moradores de rua. Eu me lembro que ela ainda era bem pequena quando me perguntou o que eles comiam, e quando eu disse que eles dependiam de pessoas pessoas para sobreviver, ela decidiu que queria ser uma dessas pessoas boas.

Vi um sorriso admirado no rosto de Angeline conforme eu continuava:

- Certa vez, quando eu a levei ao mercado, ela comprou alguns biscoitos e a primeira moradora de rua que encontramos foi uma mulher drogada. A gente sempre tem... esse receio de nos aproximar desse tipo de gente, não é? Eu disse a Alice que devíamos procurar por outro, mas ela insistiu que aquela mulher... precisava de pessoas boas mais do que os outros. E no final eu acabei concordando.

Respirei fundo quando me lembrei da mulher fraca, suja e largada em um canto da calçada.

- Naquela época eu não tinha ideia, Angie... do quanto minha vida mudaria. Por ajudar uma viciada na rua, tudo mudou. - Deixei escapar um sorriso triste. - Quando Alice entregou a ela o lanche, ela pediu um abraço. Eu fiquei com medo, mas Alice não aceitou ir embora antes de abraçar a mulher, e quando a abraçou... a mulher chorou. Ela chorou tanto, tanto, tanto... que eu acabei chorando também mesmo sem saber o porquê. - Olhei para Angie e sorri, ciente de que meus olhos estavam marejados. - Depois, quando ela se acalmou... disse que estava grávida. Ela me pediu... me implorou por ajuda. Ela não sabia o que fazer, mas não queria perder o bebê, então eu a levei para uma clínica de reabilitação e assinei todos os documentos necessários em meu nome. Eu e meu esposo pagamos médicos para cuidar de sua gestação. Ela ficou lá algum tempo, e todas as semanas eu a visitava. Alguns dias ela estava pior que em outros, mas aos poucos... muito, muito lentamente... eu achava que ela estava melhorando. Então nasceu o Gabriel.

Olhei para Angie e percebi seus olhos marejados. Ela desviou o olhar ao tempo que eu continuei:

- A essa hora, a mãe dele parecia totalmente recuperada. Então eu e meu esposo oferecemos a ela um trabalho e a presenteamos com uma casa humilde, sabe? Mas era o suficiente para ela começar uma vida nova. - Comecei a brincar com meus próprios dedos sobre a ilha da cozinha. - Alice a visitava sempre. Ela não parecia mais a mesma. Agora vivia limpa e bem cuidada. Cuidava do filho e o amamentava, sempre sob a atenção constante de um médico. Estava tudo indo bem... - Balancei a cabeça e apertei os lábios. - Mas as coisas desandaram.

Suspirei e me recostei no encosto da cadeira.

- Eu não sei exatamente quando ela teve uma recaída, mas... um dia ela me ligou. Me pediu para ir até sua casa porque precisava de mim. Quando cheguei lá encontrei a porta destrancada, então eu entrei... procurei por ela... - Balancei a cabeça para os lados, meus olhos perdidos no local onde meus filhos brincavam. - Mas ela havia partido. Tudo o que deixou foi o pequeno bebê sobre a cama e uma carta, onde ela me pedia desculpas e me suplicava para cuidar dele. Disse que confiava em mim para amá-lo como meu filho. - Respirei fundo e fechei os olhos. - Eu não esperava por isso. Stephan também não, mas Alice... - Sorri. - Ela o recebeu como se ele sempre tivesse sido parte da família, como se tivesse nascido seu irmão. - Olhei para Angie outra vez e vi uma expressão de admiração em seus olhos. - Foi de uma hora pra outra, sem nenhum aviso prévio, mas hoje... - Olhei pela janela novamente. - Hoje eu sei que eles dois são a realização da minha vida.

Segundos se passaram sem que disséssemos mais nada, até que Angie conseguiu colocar seus pensamentos em palavras:

- Ele é um guerreiro.

- Sim, ele é. - Sorri orgulhosa. - Existem pessoas que não entendem, sabe? Alguns perguntam pra mim e meu esposo... "Por que vocês não o doaram a um orfanato?" - Fiz uma pausa para pensar. - Mas a verdade é que ele já fazia parte da nossa vida mesmo antes de nascer, a gente não podia simplesmente... abrir mão dele.

Angeline me olhou com um sorriso admirado no rosto.

- Isso foi um gesto lindo, Lexy. Vocês mudaram a vida dele.

Assenti.

- Ele ainda enfrenta preconceitos, mas... - Baixei os olhos para minhas mãos, incapaz de continuar.

Algo que me deixa sempre com um nó na garganta é o modo totalmente diferente com a qual algumas pessoas tratam meus dois filhos. Alguns fazem até de forma inconsciente, mas isso pesa em mim, e com certeza, de algum modo, eu sei que pesa nele também.

- Mas vocês se amam. - Angeline respondeu quando percebeu que eu não terminaria minha frase. - E o amor é mais forte do que qualquer preconceito, então enquanto ele tiver isso... ele tem tudo.

Olhei para ela sentindo lágrimas banharem meus olhos. Sim, meu Gabriel sempre terá amor.

- Eles ficarão aqui por uma semana, e isso me deixa preocupada. - Tranformei meus sentimentos em palavras. - Sabe, uma das empregadas não gosta deles, então... por favor, Angie... ajude o Thomas a cuidar deles por mim.

Ela assentiu, seus olhos brilhando com determinação.

- Você tem minha palavra.

Eu sorri, mas antes que sequer pudesse agradecer, Thomas chegou à porta.

Nós o olhamos juntas, e depois de nos encarar por alguns segundos, ele quebrou o silêncio:

- Você pode me dar um minuto a sós com a cozinheira, Alexia?

Assenti devagar.

- Claro. - E me voltando para ela, eu sorri. - Até daqui a pouco, Angie.

Ela sorriu enquanto se levantava, então passei por Thomas e saí da cozinha. Lá fora eu podia sentir meu coração tão leve quanto nunca havia sentido antes.

Eu consegui ver tudo simplesmente pelo olhar que ela me lançou. Eu vi a simplicidade que eu via nos olhos da minha irmã, eu vi o motivo de Gabriel ter sido cativado, eu vi a determinação quando ela afirmou que cuidaria dos meus filhos, eu vi a admiração e o amor. Eu vi quem ela é, e eu soube que não poderia ter confiado a segurança deles a alguém melhor. Com alguns minutos de conversa, eu pude ter a certeza de que Angeline é uma das poucas pessoas com o coração bom o suficiente para trazer Thomas de volta.

Me dirigi ao quarto onde meu esposo dormia, e enquanto subia a escada, uma frase se repetia em minha mente como uma mantra:

Por favor, Thomas, não faça besteira. Por favor... não faça besteira.

#-#

Pensem numa pessoa que trabalhou o dia inteiro hoje perturbada porque não havia postado um capítulo de manhã 😢

Espero que vocês me desculpem, tanto pelo atraso quanto pelo tamanho enorme. Eu pensei em dividir esse em dois, mas aí ficariam pequenos demais.

Gente, desculpem mesmo. Mas pensem pelo lado bom: o intervalo deste para o próximo será bem curto.

Vejo vocês amanhã, amorecos. Beijos da Mih e me desculpem de novo.

Amo vocês

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