Olá, olá! 😉
Vamos para o passado? Eu também vou!
Hoje, vamos começar a descobrir como tudo se passou? Preparados? Boa viagem!
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A bruxa soprou o pó para mim... Meu Deus, estava prestes a ser amaldiçoado! Mas eu era forte e ia ultrapassar os meus medos! Vi como ela agitava a varinha em círculos, enquanto prenunciava com convicção umas palavras que eu não entendia. E subitamente algo mudou: o tempo! Através das vidraças assisti ao sol a ser escondido por nuvens cinzentas que apareceram de surpresa, a leve brisa transformou-se em vento e embalava os ramos e as folhas das árvores. E de repente como se fosse um grito de guerra soou um trovão. Assustei-me como uma criança. O meu coração batia tão depressa que parecia que ia saltar do peito. Não podia morrer! Os nervos atraiçoavam-me! Mas o pior estava para acontecer... Sem estar à espera o chão tremeu e abriu-se um enorme buraco que engoliu uma boa parte da pequena fortuna que paguei à Morgana. Não consegui manter o equilíbrio, porque as minhas pernas eram fracas demais e cai de costas soltando um grito. Foi como um milagre ter o trono atrás de mim para me amparar.
- Filipe, estás bem? – perguntou a minha madrinha, enquanto se dirigia até mim. Mas foi impedida por uma forte ventania que entrou no salão sem pedir autorização e abriu as portas de par em par e apagou de imediato as velas. - Não te levantes, Filipe – avisou-me, ao mesmo tempo que tentava manter o equilíbrio com um grande esforço.
- Mesmo que quisesse não seria capaz – atalhei.
O vento afastava-me da cara os cabelos e arrastava-me contra as costas do trono. Vários relâmpagos iluminaram o salão e Aragão. Ser amaldiçoado era assustador!
- O Príncipe Filipe de Aragão vai voltar oitenta anos atrás no tempo para tentar mudar a história da sua vida. Se não conseguir fazer aquilo a que se propõe entregará a sua vida quando regressar ao dia de hoje. Esta é uma maldição que ninguém poderá desfazer e jamais poderão arrancar o Príncipe do seu passado sem que ele o volte a viver. E que o tempo volte atrás! – declarou a Morgana, em alto e bom som, agitando a sua varinha para o céu.
A magia saltou da sua varinha como um raio e voou para o céu ao encontro do trovão e o grito da maldição foi horripilante. Foi impossível não me arrepiar e instintivamente tapei os ouvidos com as mãos. E então tudo aconteceu: as nuvens acinzentadas que dominavam o céu de Aragão uniram-se, transformaram-se num remoinho, varreram o telhado e desceram até ao buraco preenchendo-o.
- É agora, Príncipe! Tem que saltar, Príncipe! – exclamou a bruxa, rodeada de uma luz azul mágica por estar a profetizar uma maldição.
- Não consigo levantar-me. O vento é demasiado forte! – queixei-me.
- Violeta, tens que ajuda-lo. O Príncipe tem que saltar agora!
Vi a minha madrinha tirar a varinha do cinto do seu vestido e pensei de imediato que mais uma vez ia ser enfeitiçado. Mas estava enganado, porque ela lançou um feitiço ao vento. Assim que deixei de sentir a força do vento sobre mim, levantei-me e caminhei em direcção ao remoinho do tempo. Olhei para ele e as nuvens cinzentas estavam agora com várias cores como quisessem fundir um arco íris e rodavam, rodavam... Comecei a sentir-me tonto e desviei logo o olhar para a Morgana.
- Boa sorte, Príncipe Filipe! – desejou a bruxa, com um sorriso gentil. – Salte!
- Filipe... - chamou a minha madrinha, com a voz a vacilar. Estava emocionada. – Nunca te esqueças que tens o dom da valentia. Desejo-te toda a sorte do mundo – brilhos saíram da sua varinha. - Adeus!
- Até já, madrinha – emendei eu.
Ela ergue a mão numa despedida e noto que não é capaz de dizer mais nada, porque está sufocada com a preocupação do meu regresso ao passado sem saber se me pode ajudar ou não e tudo depende do que eu faça ou diga.
Bastou pensar na Aurora para o meu medo ser vencido e saltei. Fechei os olhos e senti que estava a cair, a cair, a cair, a cair... E instintivamente gritei. Abri os olhos à procura de uma resposta, talvez de algo para me agarrar, mas só via nuvens coloridas a rodar e às vezes algumas moedas de ouro passavam por mim no mesmo rodopio. Como é que eu ia sair dali? Voltei a fechar os olhos. E de repente ouvi vozes e percebi que os meus pés estavam fixos no chão. Voltei!, pensei animado. Abri os olhos com alegria, mas estava cercado de nevoeiro e não via absolutamente nada.
- Senta-te – disse um voz forte e masculina que me era tão familiar, mas não consegui identifica-la de imediato. Quem seria?
- Agradeço, Majestade, mas estou bem assim.
Dei alguns passos para descobrir o que me rodeava, e magicamente livrei-me do nevoeiro e fico frente a frente com o rei Dinis que estava sentado na cadeira e com os ombros pousados na sua secretária. De costas para mim, mas de frente para ele está uma rapariga de longos cabelos castanhos e traja uma longa capa preta que a cobre até aos pés. Fiquei atrapalhado. E agora? Como vou explicar o meu aparecimento? Mas em que ano é que eu estou? O melhor era não perder a compostura, nem a educação. Fiz de imediato uma vénia:
- Rei Dinis – cumprimentei.
Apercebi-me que continuava com dificuldades em movimentar o meu corpo. Olhei para as minhas mãos e descobri que continuava velho. Maldição! Mas o que é que isto significava?
- Estou muito contente que tenhas regressado a Olisipo – disse o rei Dinis, com um olhar apreensivo e com um sorriso pouco aberto.
A rapariga nem se moveu para me ver.
- Eu também estou contente – exponho eu, sem sinceridade. Na realidade, estou confuso e aflito para perceber o que se passa.
- Estou feliz por finalmente voltar a casa – informou a rapariga.
Ah, afinal ele não estava a falar para mim! Pela expressão do seu rosto, percebi que o rei Dinis estava receoso. Não olhava para a rapariga durante muito tempo. E eu? Nem sequer me veio cumprimentar, nem olhava para mim.
- Imagino. Estiveste ausente durante muito tempo... – ele olha para o lado, para as mãos, para os papéis que estão pousadas na secretária, para o quadro que enfeita a parede à sua frente. Não queria fixar o olhar no dela.
E foi então que eu percebi que ele não me via. Seria um fantasma? Chamei-o para o confirmar:
- Rei Dinis? Está a ouvir-me?
Não obtive resposta. Cheguei à conclusão de que estava invisível! Mas que passado era este?
- Estive ausente contra a minha vontade! Mandaram para o exílio – cuspiu ela, com mágoa.
E foi então que o rei voltou a enfrentar o olhar dela.
- Pensei que já tinhas superado isso... Eu pedi-te perdão, Malévola! Eu sei que não o merecia, mas garantiste-me que me tinhas perdoado.
Oh, meu Deus! Mal ouvi o nome da Bruxa caminhei para o lado do rei e fiquei boquiaberto. Ali estava ela! Estava mais jovem, não sorria com perversidade e parecia uma criatura calma. Desviei o olhar para o pai de Aurora e verifiquei que ele também é bastante mais novo e nem me tinha apercebido. Eu estava no passado da Bruxa!
- E perdoei – garantiu ela, com inocência e baixou o olhar para o chão em sinal de respeito ao seu soberano. Na mão direita segurava a varinha que também está apontada para o chão. – Sei que foi o teu pai que decidiu exiliar-me e enquanto ele fosse vivo não podias fazer nada...
Aquela criatura parecia um anjo! Como é que era possível?
- Sim, Malévola. Mas foi o melhor para nós, por mais que me custe reconhecê-lo. Conheces este ditado: Longe da vista, longe do coração?
Ela assentiu com a cabeça, sem mostrar qualquer sentimento de rancor.
- Julgo que há muita verdade nele – declara ele.
- Foi por isso que me mantiveste particamente mais um ano no exílio, Dinis? – perguntou ela, falhando redondamente ao tentar esconder a emoção. - Sinceramente, pensei que me autorizasses a regressar a Olisipo a partir do momento em que te tornaste rei.
Por um instante, senti pena dela. O amor dela pelo rei levou-a ao exílio. Perdeu tudo simplesmente por amar um homem. E ele não perdeu nada em comparação com ela. Agora que sabia a verdade conseguia perceber o motivo da Bruxa guardar tanto ressentimento.
O rei abriu as mãos. Talvez não conseguisse encontrar as palavras certas. Por fim, respondeu:
- É complicado, Malévola.
- Quiseste manter-me longe da vista para me manteres longe do coração? – perguntou ela, baixinho como se tratasse de um segredo.
- Essa foi a intenção do meu pai e consegui-o. Eu já não te amo, Malévola. Eu sou apaixonado pela minha mulher.
Ela empalideceu. Aquela resposta devia ser dura para ela e só Deus sabia o que ela estaria a sentir. Enchi-me de piedade, naquele momento. De certa maneira, compreendia-a. Por sua culpa, perdi o grande amor da minha vida e vivi aprisionado a maior parte da minha vida. Sofri muito mais do que ela!
- Nós eramos muito novos e o primeiro amor parece único por representar novas emoções, aventura, perigo... Um príncipe e uma fada não é compatível aparentemente... hã... Assim o diz a sociedade – justifica-se ele.
A Malévola mantém-se calada e quieta no mesmo lugar como se fosse a fada mais obediente e leal. Ao fim de alguns minutos, concordou:
- As princesas nasceram para os príncipes.
- Malévola... hã... Eu não sei, nem quero que me contes o que sentes por mim, mas não deves amar-me.
Ela riu, mas de tristeza.
- Não me digas que agora podemos dar ordens ao coração, Dinis?
- Tu és uma fada, Malévola, e conheces certamente magia que o impeça de sentir aquilo que não é suposto. Nunca mais voltaremos a falar deste assunto – avisou ele, com um tom duro. - Eu sou o teu rei e tu és uma das minha fadas! – levantou-se majestosamente da cadeira. – Se precisares de alguma coisa, podes contar comigo. Desejo-te o melhor no recomeço da tua vida em Olisipo!
Ela agradeceu e fez-lhe uma vénia.
- Bem-vinda ao teu reino, ao teu berço de nascimento!
Dito isto, ele caminhou a passos largos para a saída da sala de reuniões, mas algo o deteve na porta e virou-se:
- Não te esqueças que os teus deveres para com o rei aplicam-se também à rainha de Olisipo. Eu não vou permitir qualquer tipo de afronta ou desrespeito à rainha.
Ela não conseguiu articular nenhuma palavra, simplesmente assentiu com a cabeça. Mal o rei saiu da sala, via erguer a cabeça e uma lágrima banhou o seu rosto. E consegui ler na sua atitude pela primeira vez a bruxa que ela estava prestes a transformar-se: com a mão limpa a face molhada com raiva, ergueu o rosto altivamente como já usasse a coroa de Aranis e os olhos brilharam de ódio.

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Parece que recuamos demasiado no tempo!! Mas agora sabemos o que se passou entre o rei Dinis e a Malévola. O que é que acharam?
Não se esqueçam das estrelinhas que é muito importante para a história crescer!
Um abraço enorme ❤