Olá, olá! 😉 E o baile continua!
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À mesa iam regressando convidados, por pouco tempo, para descansarem e se refrescarem com vinho ou água e depois voltavam à dança. Retribuía a simpatia aqueles que me cumprimentavam por cortesia. Fiquei sozinho por um bom tempo e enquanto bebia, o passado encarregou-se de vir ter comigo nos meus pensamentos. Era como se tivesse sido ontem...
Aurora, naquela altura Rosa, esperava-me debaixo do grande carvalho conforme ficou combinado no dia anterior. Confesso que naquele dia tive receio de que ela não viesse ao meu encontro, daí desenhar um grande sorriso quando a vi. Era-me impossível esconder a minha alegria.
- Vieste! - exclamei eu, saltando do cavalo.
Ela deu-me o seu sorriso doce, mas não se moveu de onde estava.
Eu estava apreensivo e nervoso, mas não o demostrava, porque era valente. Aproximei-me dela e dei-lhe um abraço que ela não recusou. Isso reconfortou-me e dava-me esperanças. Antes de ouvir a sua decisão, confessei-lhe os meus sentimentos, sem vergonha:
- Passei o dia a pensar em ti!
- Eu também - murmurou.
Rimo-nos como dois jovens apaixonados que eramos.
- O meu e o teu destino estão nas tuas mãos, Rosa - falei, sério. - Por favor, não me dês um desgosto, porque eu posso não aguentar.
- Tu és valente!
Será que ela está a brincar comigo? Ou estará a falar a sério? Eu sempre me considerei valente, mas duvidava muito que o fosse se a perdesse. Aguardei pela sua resposta.
- Filipe... - fez uma pausa.
Tentava ler nos seus olhos, nos seus lábios o que me iria dizer, mas não conseguia. Mantive-me aparentemente calmo, mas por dentro estava inquieto.
- Eu aceito que peças a minha mão às minhas tias - afirmou ela, cheia de alegria e atirou-se para o meu pescoço.
Rodeei-a com os meus braços cheio de felicidade e abracei-a forte. Fechei os olhos, respirei fundo e pensei que agora só faltava convencer o meu pai. Sentia-me bem e feliz!
Ouvi uma voz familiar que me puxou para o presente.
- Avô...
Ergui o meu rosto e fiquei boquiaberto de espanto.
-Avô, apresento-lhe a Princesa Aurora - declarou Violeta, ainda no seu disfarce de Henrique.
Fiquei completamente sem reacção. Até me esqueci de respirar, por alguns instantes. Reage, Filipe! Não faças figuras de mal educado. Ergui-me, mas senti as pernas trémulas.
- Princesa Aurora - cumprimentei-a, com uma vénia.
Discretamente, arregalei os olhos para a minha madrinha em protesto. Que ideia foi esta?
- Como se chama senhor? - perguntou Aurora, docemente.
Digo, Filipe?
- Artur. Duque Artur.
- Muito gosto, Duque Artur.
Oh, meu amor, perdoa-me! Falhei! Prometi que estaria jovem quando nos voltássemos a encontrar e não estou!
Ela sorria gentilmente para mim, enchendo o meu coração de amor e mais amor. Ficamos a olhar um para o outro.
- Princesa, o meu avô disse-me que este foi um dos bailes mais bonitos que viu - disse a minha madrinha, para quebrar o silêncio.
- É verdade. Dê os parabéns ao seu pai por mim.
O sorriso desvaneceu-se do seu lindo rosto.
- Direi - notei que se esforçou para não deixar a voz não vacilar.
Oh, não, entristeceu.
- Que despistado que sou! Perdi a minha a capa. Vou ver se a encontro. Se me permitem - fez uma vénia -, Princesa, avô!
Mentia com os dentes todos que tinha na boca. Ela queria-me deixar a sós com a Aurora, mas para quê? Se eu fosse jovem... Interroguei-me: Como é que os pretendentes estão há tanto tempo afastados dela? Isto tinha mão da minha madrinha, só podia. Algum feitiço pairava neste salão!
Antes de ela se ir embora, lancei-lhe um olhar de inquérito. Estava curioso para saber se o nosso plano tivera sucesso. Ela apenas me piscou o olho e afastou-se. Seria um sim? Que nervos!
- Por favor, sente-se, Duque Artur. Não precisa de estar em pé por minha causa.
- Depois da Princesa.
Ela deu-me um sorriso e sentou-se. Sentia-me um tolo! Não deveria ser assim, deveria estar jovem para podermos conversar sobre nós. Soltei um suspiro.
- A Princesa está a gostar do baile? - quis saber.
Ela baixou o olhar para as suas mãos que estavam a brincavam com o tecido do vestido.
- Ao início, fiquei feliz com a realização deste baile. Foi apenas um sonho...
- Ao início? Isso que quer dizer que já não gosta?
- Sim.
Mordi a língua para tentar conter as minhas perguntas, mas não consegui.
- Porquê, se me permite perguntar? Parece-me um baile encantador.
Aguardei um momento pela sua resposta.
- Porque esperava encontrar alguém que me é muito querido.
O seu olhar entristeceu. Oh meu amor, eu estou aqui tão perto de ti! Mas não irias gostar de mim assim.
- Compreendo - disse eu, quase deixando a voz vacilar. - Com certeza, que terá outra oportunidade de encontrar essa pessoa que lhe é tão querida.
- Tenho todas as esperanças, Duque Artur.
Como foi bom e reconfortante ouvi-la dizer aquilo. Ela desejava-me voltar a ver! Sorri. Mas quando dei por mim parecia um rapazito com um sorriso de orelha a orelha.
- Como está a ser o seu regresso a Olisipo, Princesa?
-Estranho. Não me lembro de alguma vez ter partido.
Queria tanto reconforta-la. Desejava-lhe dar um abraço, mas como não podia recorri às palavras.
- Ser princesa não é mau. Tem mais facilidades para realizar os seus sonhos, para ter aquilo que deseja... A Princesa já reparou nos convidados?
Olhou-me confusa.
- Todos os jovens querem a sua mão, Princesa - olhei para a multidão de convidados e convidei-a fazer o mesmo. - Mas, como pode a classe média e a plebe competir com a nobreza e a realeza? Repare, distinguem-se bem pelo vestuário. Só os príncipes e os nobres se atrevem a oferecer-lhe presentes. Às vezes, o dinheiro e o poder podem fazer a diferença, Princesa... até no amor.
Ela olhou-me surpreendida e depois o seu olhar distanciou-se para longe. Sim, ela recordava. Há muitos anos atrás, pensaste em recusar o meu amor por eu ser rico e tu seres pobre. Tive muito medo que me recusasses. É algo tão fora do normal, porque qualquer plebeia quereria subir na vida. Mas, tu eras diferente! O grande problema era o meu pai. Era complicado para um rei aceitar uma plebeia para esposa do filho. Esse era o grande problema que tu nunca soubeste. Afinal, nasceste num berço como o meu e tens uma fortuna igual ou superior à minha. Somos iguais e não imaginas como isso era favorável, pois até prometido estivemos.
- Acha sinceramente que um jovem do povo tem hipóteses de conquistar a sua mão junto do seu pai, Princesa? - perguntei, baixinho.
Ela mirou-me com atenção.
- Gostava de saber a sua opinião, Duque Artur.
- Acho que não - respondo com toda a sinceridade.
- É contra o amor entre classes distintas?
- Não. Claro que não.
- Errei a seu respeito, Duque Artur. Teria apostado que sim.
Oh, meu amor, tu é que parecias ser contra. Ri-me ao lembrar-me e para disfarçar acrescentei:
- É normal que pense que fosse contra, porque sou da nobreza. Mas, vou lhe contar um segredo... - bebi um gole de vinho, porque tinha a boca seca. - Quis casar-me com uma plebeia.
Aurora arregalou os olhos de surpresa.
- Contei ao meu pai.
- E o seu pai concordou?
- Não.
- Oh... Lamento.
O silêncio instalou-se e percebi que ela me observava. Não senti receio, porque estava absolutamente convencido que ela nunca me iria reconhecer. E eu não me importava de passar horas a contempla-la.
- Os seus olhos, Duque Artur, parecem-me familiares.
Sorrio.
- Espero que lhe façam recordar alguém que aprecie, Princesa.
- E o seu tom de voz também me é familiar.
Continuo a sorrir. Que engraçado, nunca tinha reparado que o meu timbre de voz continuava igual.
- Até o seu jeito de sorrir é-me tão familiar...
O meu sorriso desapareceu. Seria possível, ela me identificar? Oh meu Deus... Não! Nem eu próprio me reconhecia quando me via ao espelho.
- Só não me consigo lembrar - disse ela, docemente. - Eu conheço-o?
Engoli em seco.
- Sim, eu conheço-o - afirmou ela, pousando a sua mão na minha que repousava em cima da mesa. - Ajude-me a recordar - pediu.
Naquele momento, fiquei sem chão.
Continua...
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Se gostaram não se esqueçam da 🌟 para ajudar a história a crescer.
E SERÁ QUE O FILIPE VAI AJUDAR A AURORA? OU ELA IRÁ LEMBRA-SE SOZINHA? OU... HÁ TANTAS HIPÓTESES. QUAL É A TUA OPINIÃO?
Beijos 💗