Um plano para nós (PAUSADO)

By MihBrandao

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Após ter sua família irrevogavelmente desestabilizada por um infeliz acontecimento que resultou na separação... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11 - Parte I
Capítulo 11 - Parte II
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Palavras de uma autora esgotada
Capítulo 37 part. I
Capítulo 37 part. II
Capítulo 37 part. III
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64 - Parte I
Capítulo 64 - Parte II
Capítulo 65
Capítulo 66 - Parte I
Capítulo 66 - Parte II
Capítulo 67
Capítulo 68 - Parte I
Capítulo 68 - Parte II
Capítulo 70
Capitulo 71

Capítulo 69

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By MihBrandao

Angeline narrando:

É engraçado como  acordamos algumas vezes cheios de planos para o dia, sem nem imaginar que um simples momento mudará não apenas o dia cheio de planos, como tudo o que virá em seguida. Como todo o resto de uma vida.

Me pergunto o que acontece no universo nos momentos anteriores a este marco súbito. O que será que se passa na mente de Deus, que sabe o que vai acontecer com a gente dentro de instantes? Ou talvez minha imaginação seja um pouco limitada... talvez a maneira de Deus lidar com os momentos que mudam nossa vida - bons ou maus -, seja completamente diferente do que suponho.

Para mim, por outro lado, os momentos que antecedem a algum episódio crucial e imprevisto não são nada mais que comuns. Como no dia em que minha mãe se separou do meu pai - no minuto anterior eu estava tranquila, curtindo minha festa de aniversário. Ou no dia que descobri sobre o caso do meu pai com a Loren - momentos antes eu estava caminhando pela rua com minha melhor amiga, sem qualquer suspeita do que viria em seguida. Ou quando eu e Thomas descobrimos sobre a morte da menina Izzy... pouquíssimo tempo atrás ele estava me mostrando o projeto das novas instalações dos empregados.

Sim, na grande maioria das vezes passamos pelos momentos anteriores a uma calamidade sem ter qualquer conhecimento sobre ela. Acho que seria apavorante se a gente sempre soubesse.

Como no momento em que cheguei em casa, depois de passar três dias no Brasil com a família de Thomas. Naquele momento, meu plano para o dia era passar tanto tempo com ele quanto fosse possível antes de dedicar minha noite à minha melhor amiga, porque eu sabia que, depois de tudo o que viveu com a mãe nos últimos dias, ele iria precisar de apoio emocional. E meu plano era somente e simplesmente ser esse apoio.

Jamais imaginei que pudesse estar vivendo os últimos instantes antecedentes a uma nova calamidade...

- Matthew! - Emitira eu ao abrir a porta do casebre e encontrar meu amigo lá dentro. Em seguida abandonei as malas e corri para abraçá-lo. - Senti sua falta! Mas o que está fazendo aqui?

- Soube que você chegaria hoje, então decidi fazer um café da manhã especial pra te receber.  - Ele disse com um sorriso. - Não que seja especial de verdade... é só bacon com ovos mexidos, mas espero que você goste.

Eu ri. Realmente, o ambiente estava impregnado com o cheiro de bacon.

- É claro que vou gostar. - Respondi voltando até minha mala para colocá-la sobre a cama. - É a primeira vez que você cozinha pra mim... acho que preciso viajar mais vezes pra ser mimada assim quando voltar.

Ele se voltou para sua tarefa sem responder, então continuei enquanto abria a mala para começar a desfazê-la:

- Preciso te contar sobre o Brasil. É tudo tão lindo, Matt! E aconteceram tantas coisas lá que você não acreditaria. Nem todas foram boas, claro, como a mãe do Thomas que está doente... mas fora isso, a viagem foi incrível! A família dele me recebeu tão bem... passei um dia inteiro com os sobrinhos dele, fomos à praia, ao shopping, fizemos piquenique, visitamos alguns pontos turísticos... - E então peguei meu celular no bolso da calça ao me ocorrer: - Ah, eu tirei algumas fotos. Você quer ver?

Olhei para meu amigo, mas ele estava tão absorto em sua tarefa que nem parecia estar prestando atenção ao que eu dizia.

- Matt...?

E então ele pareceu despertar, se virando para me olhar.

- O quê?

- Você está bem? - Eu quis saber.

- Eu?

- Sim. Parece... distraído.

Ele balançou a cabeça para os lados e sorriu ao desligar o fogo, despejando os ovos mexidos em um prato sobre a pia. Mas seu sorriso me pareceu um tanto forçado.

- Impressão sua, eu estou ótimo. Quer acrescentar algo mais ao seu café da manhã?

Olhei a bandeja com ovos, bacon e um copo de suco que ele trazia até mim e sorri, embora não estivesse absolutamente convencida de que ele estivesse bem.

- Olhe o que eu trouxe. - Falei ao tirar dois potes da mala. - Um é da Diana, então só podemos comer este aqui agora.

- O que é isso?

- Paçoca. É um doce típico do Brasil, mas deve combinar com o café da manhã. Você se importa?

- Claro que não. - Ele enrugou o nariz e balançou a cabeça indiferente, se sentando ao meu lado. - Pode colocar na bandeja.

Retirei o lacre plástico da tampa e abri o pote, fazendo como meu amigo instruíra ao colocá-lo na bandeja, ao lado do suco. Quando ergui os olhos para ele, no entanto, me peguei convencida de que algo estava errado ao encontrá-lo encarando, impassível, o pote de paçocas da Diana, embora com uma sombra perceptível de tristeza no olhar.

Eu estava prestes a perguntar qual era o problema quando a porta se abriu atrás de mim, chamando minha atenção.

O primeiro a entrar foi Thomas. Ele olhou para Matt por um pequeno segundo antes de se voltar para mim, então se aproximou devagar sem desviar seus olhos dos meus e sem demonstrar nada.

Minha mãe entrou em seguida, e então veio o Georgie. Eles pararam próximos ao sofá - minha mãe de braços cruzados e Georgie apenas como um apoio silencioso para ela - ao passo que Thomas se sentava na cama ao meu lado.

Encarei os três recém-chegados por um momento antes de me voltar para Matthew. Meu amigo agora se mantinha cabisbaixo, encarando as próprias mãos como se já soubesse o que viria pela frente. No entanto, não dizia nada. Aliás, pelos primeiros e intermináveis segundos ninguém disse nada. Era como se todos - menos eu - soubesse de algo, mas ninguém tivesse coragem de falar primeiro.

E então senti as batidas do meu coração se tornarem progressivamente mais pesadas, até o ponto em que eu deixei de senti-las. Senti minha respiração se perder em algum lugar no meio do caminho entre meus pulmões e minhas narinas. Senti um calafrio gelado e eletrizante percorrer todo o meu corpo, junto com a certeza de que, o que quer que tivesse acontecido, eu não queria saber.

Entretanto, é claro, essa decisão não cabia a mim.

- Angel... - Thomas finalmente resmungou em voz baixa.

Eu o olhei, mas permaneci em silêncio. Ele abriu a boca para dizer algo, mas a fechou novamente sem saber como dizer. Repetiu o processo, e então desviou os olhos ao se tornar incapaz de sustentar meu olhar.

Thomas estava sem palavras.

E de repente eu estava em pânico.

- Quem morreu? - Me vi perguntando numa voz fraca e distante, que honestamente, nem sequer parecia minha.

Ele me encarou outra vez, mas depois de três ou quatro segundos calado, foi minha mãe quem quebrou o silêncio dessa vez:

- Filha...

Olhei para ela, mas ela também não parecia forte o suficiente para falar. Ao invés disso, quando tentou, seus olhos se tornaram subitamente marejados e ela se calou, virando o rosto para Georgie e cobrindo a boca com a mão enquanto ele a abraçava com ternura. E então ela chorou.

- Mãe, o que...?

Senti a mão firme de Thomas segurar a minha e olhei para ele novamente.

- Ontem no final da tarde...

- Deixe que eu conto. - Matthew o interrompeu, chamando minha atenção para si. Ele estava cabisbaixo, encarando as próprias mãos, como se não tivesse coragem suficiente para me olhar. - Eu e Diana estávamos conversando há um tempo. - Começou por fim. - Não muito, mas... o suficiente pra gente decidir se encontrar. - Ele fez uma pausa e respirou fundo antes de continuar, desviando os olhos para o lado oposto do quarto. - Não fique brava por ela não ter te contado, eu apenas a pedi pra deixar isso entre a gente por enquanto

Minha testa estava franzida em confusão. Eu não via como o fato dos meus melhores amigos estarem vivendo um romance podia ser considerado sequer remotamente ruim.

- Eu a chamei para assistir um filme comigo ontem, e ela aceitou. Era nosso primeiro encontro, estávamos pensando em te contar assim que você voltasse para casa. - Outro suspiro, dessa vez ainda mais profundo. - Ela saiu de um táxi, estava vestindo um vestido vermelho... eu a vi do outro lado da rua, na porta do cinema. Ela veio em minha direção, não prestou atenção à rua na hora de atravessar, e...

Ele não conseguiu prosseguir. Thomas, que segurava minha mão, intensificou ainda mais o aperto. Mas eu precisava ouvir o resto. Eu não acreditaria nos meus próprios pensamentos se não ouvisse.

- E o quê?

Silêncio.

- E o quê, Matt?

Ele finalmente se virou para me olhar, os olhos banhados em lágrimas, e então disse devagar:

- Eu não sei de onde veio o carro. Ele a acertou... foi rápido e forte. O motorista nem sequer parou pra prestar socorro.

- O quê? - Pisquei. Suas palavras pareciam um leve tecido de seda roçando minha pele, sem serem realmente absorvidas pelo meu cérebro. Então eu não consegui assimilar imediatamente o que ele disse em seguida:

- Eu sinto muito, Angie... ela morreu na hora. Nem teve tempo de sentir dor.

Qualquer tipo de reflexo ou reação estava fora do meu alcance. Sentada onde estava, encarando meu amigo que dizia palavras sem o menor sentido ou lógica, a única coisa que prendia minha atenção eram os soluços distantes e dolorosos da minha mãe. Tudo ao redor parecia sem foco, e minha única alternativa era continuar ali, parada, estática, esperando ele explicar que tipo de absurdo estava dizendo.

- O quê? - Repeti.

Ele balançou a cabeça e apertou os lábios antes de abaixar os olhos novamente, permitindo que as lágrimas escorressem.

- Eu sinto... demais.

- O que está dizendo? - Franzi a testa e olhei para minha mãe, para Georgie, em seguida para Thomas. A expressão deles deixava claro que apesar de ser um absurdo, as palavras de Matthew eram reais. Mas ainda assim, não fazia sentido... - O que está dizendo? - Perguntei novamente, me voltando para ele e balançando a cabeça veemente para os lados. - Diana não é desatenta, ela não atravessa uma rua sem olhar para os dois lados. Estávamos conversando ontem, ela queria paçoca e eu trouxe.  O que você está dizendo?

Percebi os ombros de Matt sacudir com um soluço e ele fechar os olhos apertado. Thomas me envolveu por trás, em um abraço terno.

- Eu sinto tanto, meu amor... 

- Não era a Diana. - Resmunguei convicta e olhei para minha mãe, negando com a cabeça. - Talvez fosse alguém parecido com ela, mas ela não. Ela... - Eu ri e me voltei para Matt. - Ela é muito esperta, não morreria assim.

O rosto do meu amigo estava completamente retorcido pela tristeza.

- Foi minha culpa. - Resmungou numa voz embargada. - Se eu tivesse aceitado sair com ela no dia anterior como ela queria ou... se tivesse a chamado para vir aqui... ela ainda estaria viva.

- Não... - Balancei a cabeça novamente. - Não faz sentido. Estávamos conversando agora mesmo...

Olhei meu celular e constei que ela não havia me respondido. De fato, ela não me respondera desde ontem à tarde, quando disse que precisava sair e que me chamaria quando voltasse. Eu havia lhe mandado "Sair para onde uma hora dessas? Não vá fazer tolice, você é uma moça de família!"

Ela nem sequer havia visualizado.

- Não... - Repeti, mas dessa vez minha voz saiu por um fio, baixa e estrangulada.

- Oh, meu amor... - Thomas acariciou meu cabelo e beijou minha cabeça.

- Íamos fazer festa do pijama no seu quarto de hóspedes. - Resmunguei olhando a tela do celular. - Ela nem sabia que iríamos fazer festa do pijama no seu quarto de hóspedes...

- Me desculpe, Angie, me desculpe...

Eu queria poder dizer a Matt que ele não havia tido culpa de nada, mas o que saiu dos meus lábios foi:

- Eu trouxe as paçocas dela, eu... eu trouxe um monte.

- Oh, amor...

Thomas me envolveu em seus braços, e de repente eu estava chorando.

- Eu nem me despedi - Solucei. - Minha amiga está morta e eu nem me despedi...

Agarrei-me a ele como ele fosse minha tábua da salvação, capaz de me puxar para fora da dor que de repente parecia me dilacerar pouco a pouco de dentro para fora, e permiti que ele me apertasse contra seu peito com a mesma intensidade.

Não impedi que as lágrimas escorressem. Não impedi que os soluços rasgassem o caminho e se libertassem dolorosamente, e nem que o sofrimento se expelisse da maneira mais abundante possível. Eu sabia que Thomas conhecia essa dor, ele já a havia experimentado... mas para mim, era a primeira vez. E definitivamente, a dor da perda afinal era muito pior do que eu jamais seria capaz de imaginar.

Senti o familiar abraço da minha mãe envolver a mim e ao Thomas, e mesmo que minha consciência estivesse perdida e frágil, ainda notei quando Matthew e Georgie se juntaram a nós, me rodeando e me oferecendo o conforto da qual eu mais do que nunca precisava.

E então, rodeada por aqueles braços, eu me entreguei à minha dor me permitindo sentir falta de um certo abraço que faltava ali... e que eu nunca mais teria.

*~*~*~*

O ambiente estava estranhamente silencioso quando acordei. Embora pudesse sentir algo morno e suave pressionando minha mão, meu corpo parecia anestesiado, enfraquecido, como se eu estivesse sob efeito de algum calmante.

Bem, talvez eu realmente estivesse...

Abri os olhos com algum esforço e me vi encarando o teto branco. Claramente eu não estava no casebre. No mínimo, em algum dos quartos de hóspede da mansão.

- Filha... - Ouvi a voz da minha mãe e me obriguei a virar minha cabeça para olhá-la sentada ao meu lado, segurando minha mão. - Como está se sentindo?

Precisei de um segundo para conseguir encontrar algo que melhor me descrevesse naquele momento:

- Fraca.

- Deve ser o efeito do sedativo. Thomas chamou um médico quando você desmaiou, ele achou melhor te sedar por um tempo.

- Eu desmaiei?

- Sim. - Ela assentiu. - Eu fiquei muito preocupada.

Tentei forçar meus braços no colchão macio para me sentar, mas meu corpo parecia ter a mesma consistência de uma gelatina.

- Não, querida, fique deitada. - Dona Sarah pediu se levantando da cadeira para me cercar. - Você precisa descansar.

Não discuti. De fato, verdade seja dita, eu não queria mesmo me levantar. Se eu pudesse, ficaria deitada pelo resto do dia. Melhor, se eu pudesse, ficaria ali pelo resto da minha vida.

Virei meu rosto para a direção oposta de onde minha mãe estava sentada e encarei a janela aberta, dando vista para o ambiente claro e tranquilo lá fora. Observei uma andorinha pousar no parapeito e olhar fixamente para mim por cinco ou seis segundos antes de soltar um pio agudo e alçar voo novamente. As copas das árvores se balançavam suavemente de um lado para o outro com o vento. Ao longe, eu podia ouvir o canto dos pássaros e o barulho do aparelho da piscina, que devia estar sendo limpa naquele momento.

Me perguntei como, em nome de Deus, tudo parecia tão normal. O universo não sabia que Diana estava morta?

- Thomas está no escritório com Henry. - Minha mãe comentou como se tentando começar um assunto. - Ele ficou com você por um bom tempo. Também está preocupado.

Não respondi. Não que eu não quisesse, eu somente não me sentia forte o suficiente para uma conversa casual naquele momento.

 Minha mãe aproximou minha mão de seu rosto e deposito um beijo casto em minha palma.

- Eu queria poder  tomar sua dor. - Ela murmurou abatida. - Se eu pudesse... tiraria tudo isso que você está sentindo, mesmo que eu tivesse que sentir em seu lugar.

Me virei para ela e olhei seus olhos vermelhos por um momento. Ela evidentemente já havia passado um bom tempo chorando. Sim, Diana tinha muitos defeitos, mas era impossível deixar de conquistar qualquer pessoa que a conhecesse...

- Eu te amo. - Resmunguei baixinho.

- Eu também te amo, querida. - Minha mãe suspirou.

- Mas eu gostaria de ficar um pouco sozinha.

Ela piscou, e por um momento a expressão melancólica em seu rosto foi substituída pela confusão, e em seguida, pela incerteza.

- Você... não quer que eu fique aqui?

- Eu amo sua companhia, mãe. - Falei devagar. - Mas eu preciso de um tempo agora.

Ela ainda permaneceu me encarando por um instante, e quando percebi que ela estava inclinada a negar meu pedido, implorei:

- Por favor.

Ela respirou lenta e profundamente antes de desviar os olhos para nossas mãos unidas e pensar por mais um segundo. Então, finalmente, assentiu.

- Tudo bem. Eu estarei lá fora... se precisar.

Afirmei vagamente com a cabeça e minha mãe se levantou, hesitante, fazendo seu caminho para fora do quarto e fechando a porta ao sair.

Me virei outra vez para a janela e observei o ambiente lá fora. A quietude e serenidade do lugar estavam me deixando com raiva.

Afastei a coberta das minhas pernas e me levantei cambaleante. Cristo, o que foi que eles me deram para me deixar tão fraca?

Caminhei até a janela arrastando os pés e olhei a grama de um tom escuro de verde lá embaixo. Eu não via o lago. Não muito longe, um enorme muro se estendia além da minha vista, limitando a propriedade. O canto dos pássaros ainda era audível, mas o limpador da piscina provavelmente já havia terminado sua tarefa, considerando o silêncio de sua máquina.

Olhei para o céu. O azul parecia vivo e intenso, poucas nuvens passeando sem destino e sem pressa por ele. Observei um grupo de gaivotas cruzar o céu desaparecendo do meu campo de visão sem desfazer o formato em "V" do seu bando.

Respirei profundamente e fechei os olhos por um momento, tentando definir minhas emoções atrás do torpor que o calmante instalara em mim.

- Preciso pedir uma coisa. - Resmunguei antes de abrir os olhos novamente para o azul do céu. - Eu nem sei se tenho o direito, mas... preciso te pedir uma coisa.

As nuvens mantinham o mesmo ritmo lento e constante, sem nenhum destino concreto. O dia nunca me pareceu tão lindo... era quase como se estivesse assim de propósito.

- Eu nunca fiz o apelo. - Desviei os olhos para minhas mãos e senti minha respiração vacilar com a percepção das minhas próprias palavras. - Eu a convidei para ir à igreja comigo tantas vezes... mas nunca fiz o apelo pra ela. Não de verdade.

Senti uma leve rajada de vento passar por mim e movimentar os fios do meu cabelo suavemente, então ergui os olhos e encarei as árvores, que se moviam elegantemente emitindo seu farfalhar reconfortante.

- Mas está escrito... que aquele que crê no Filho terá a vida eterna. E ela acreditava. - Balancei a cabeça devagar. - Ela não era perfeita, mas acreditava. Desde que a conheci, ela nunca... nunca duvidou que o Senhor é Deus, e que enviou o seu filho único para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas que tenha a vida eterna.

Apertei os lábios e senti meu coração encolhido como uma azeitona quando as lembranças começaram a invadir minha memória. Me lembrei das vezes em que Diana me acompanhava até a igreja e chorava, ouvindo a pregação. Me lembrei de todas as vezes que o convite para ir à igreja partira dela. Me lembrei de todas as vezes em que ela se dispôs a ajudar os mais necessitados, e da maneira como ela nunca se recusou a dar qualquer auxilio a qualquer pessoa. Me lembrei de como ela conhecia algumas passagens específicas da Bíblia Sagrada que eu nunca havia contado, logo, ela não conheceria se não a lesse.

Não, Diana nunca foi batizada de fato... mas eu acreditava veemente que ela vivera uma vida mais correta do que muita gente que havia sido.

- Então eu preciso te pedir uma coisa. - Repeti com um nó na garganta. - Eu nunca fiz o apelo e... talvez por esse motivo, ela nunca tenha sido batizada. Mas o Senhor mais do que qualquer outra pessoa, conhece... conhecia... o coração dela, e sabe o quão lindo ele era. Então por favor... por favor, Deus... não a condene por um erro que eu cometi. - Fechei os olhos e juntei as mãos na frente da boca, pedindo baixinho: - Por favor, por favor... não a condene por um erro meu.

Senti dois braços firmes me envolverem por trás num abraço carinhoso antes que um beijo fosse depositado no topo da minha cabeça.

- Você fez o melhor que pôde, meu amor. - Thomas disse suavemente.

- Mas não o suficiente.

Ele me virou para ele devagar e segurou meu rosto entre as mãos, acariciando minhas bochechas com o polegar.

- Eu tenho certeza que ninguém no mundo teria sido uma amiga melhor do que você foi. Você deu o seu máximo, e eu tenho certeza que até mesmo Deus concorda comigo.

Fechei os olhos e abaixei a cabeça. Aproveitando a deixa, Thomas beijou minha testa e apoiou sua cabeça na minha.

- Você é uma namorada extraordinária... - Ele disse com ternura. - ... uma filha extraordinária, e uma amiga extraordinária. Diana teve muita sorte por ter tido você.

Respirei profundamente e envolvi Thomas em um abraço. No fundo eu queria chorar. Aliás, eu sentia que precisava chorar... mas naquele momento, minhas emoções pareciam envoltas por uma névoa espessa e cinza, sem nenhuma clareza. Eu gostaria de me sentir inconformada e brigar com ele por ter me sedado e tirado de mim o direito da escolha, o direito de sentir a perda da minha melhor amiga, mas nem mesmo a raiva se sobressaía.

- Você quer que eu te leve até lá? - Ele perguntou acariciando minha cabeça com uma mão e minhas costas com outra, sem fazer questão de me soltar do seu abraço.

- Eu não sei se consigo dizer adeus a ela. - Admiti.

- Acredite em mim, você vai se sentir pior se não disser.

Eu me afastei de seu abraço para olhar seus olhos e ele apenas me encarou de volta sem dizer mais nada, esperando minha decisão. Era lógico que ele sabia o que estava dizendo, ele já havia passado por isso. E, como em todas as outras vezes, eu confiei. Afinal, eu não tinha outra escolha além de confiar nele.

Respirei fundo e balancei a cabeça com um aceno antes de emitir:

- Leve-me até ela.

*~*~*~*

Existiam carros estacionados de uma extremidade à outra, na rua da casa da família Kidder, mas de alguma forma, Henry ainda encontrou uma maneira de estacionar relativamente próximo à entrada. 

- Sinto muito pela sua perda, Angie. - Ele disse se virando para me olhar, antes que Thomas abrisse a porta para mim.

Tentei retribuir às suas palavras com um sorriso.

- Obrigada, Henry. Foi muita consideração sua, ter voltado.

Ele assentiu no momento em que Thomas abriu minha porta.

- Ela tinha uma presença marcante. - Respondeu.

- Tinha mesmo.

E lançando a ele um último sorriso forçado, eu desci e deixei que Thomas me conduzisse pelo gramado em direção à entrada da casa.

Passamos por um grupo de pessoas que conversavam e riam, como se desfrutando de algum tipo de piada no quintal, mas logo se contiveram quando me avistaram. Eu os reconheci como alguns colegas da escola, que estudaram comigo e Diana há um tempo não muito longo, com quem nós duas sempre preferimos não nos misturar. As meninas do grupo encararam Thomas que caminhava ao meu lado me guiando com a mão apoiada em minhas costas e pareceram não perceber que seus queixos estavam pendendo para baixo. Eu não me virei para ver, mas acredito que elas só pararam de encarar quando entramos na casa.

"Ainda não caiu sua ficha de que agora você está namorando o homem mais gostoso da cidade? Vai ter que se acostumar com essas meninas alienadas."

Engoli em seco ao me lembrar das palavras de Diana e respirei fundo, me dando conta de que eu não estava mais apresentando os efeitos do calmante, afinal. Curiosamente, era agora que eu gostaria de estar.

- Angie. - Senhora Kidder emitiu vindo me encontrar com os braços abertos, o nariz vermelho e os olhos sem brilho denunciando a desolação que ela evidentemente estava tentando esconder. - Que bom te ver, querida. - Disse ao me abraçar. - Achei que não conseguiria vir.

- Eu sinto muito pela sua perda, Sra. Kidder.

- E eu sinto muito pela sua. - Ela se afastou e afagou meu rosto com a mão. - Como você está?

Balancei a cabeça para os lados, incapaz de responder a essa pergunta.

- Sim, eu sei... não está fácil pra mim também.

- Foi tão de repente. Eu ainda não consigo acreditar. Parece que ela vai descer aquela escada a qualquer momento e me perguntar por que eu não atendo meu telefone.

Os lábios da mulher loira em minha frente se curvaram em um sorriso, embora eu pudesse perceber as lágrimas brotarem na base de seus olhos.

- Você era a irmã que eu nunca consegui dar a ela. Sabe disso, não é?

Engoli em seco e assenti, convencendo a mim mesma de que eu era forte o suficiente para não começar a chorar ali.

- E ela era minha irmã.

Senhora Kidder suspirou e se aproximou para me abraçar outra vez.

- Estou feliz que você esteja aqui.

Não respondi dessa vez, apenas dei a ela o tempo que ela queria antes de me soltar e se voltar para Thomas.

- Sr. Strorck...

- Meus sentimentos, Sra. Kidder.

- Obrigada por ter vindo.

Ele respondeu com um aceno, então ela se voltou para mim.

- Fique o tempo que quiser, está bem? Você sempre será bem-vinda aqui.

Eu balancei a cabeça e ela me deu um beijo na bochecha antes de fazer seu caminho para longe de nós, provavelmente para recepcionar outras pessoas.

- Você está pronta? - Thomas perguntou quando nos vimos sozinhos.

- Não. - Respondi sinceramente. - Mas isso é o mais perto de "pronta" que eu conseguiria estar.

Ele pegou minha mão e a levou aos seus lábios, depositando um beijo suave em meus dedos.

- Estarei com você o tempo todo.

Encarei seus olhos por um segundo antes de assentir, numa permissão silenciosa para que ele me levasse até o caixão, estrategicamente posicionado no centro da sala.

Observei a garota sem vida no seu interior e deixei que tudo ao nosso redor perdesse o foco. Ela parecia tão... ela mesma. Tão linda. O cabelo loiro penteado para o lado, as bochechas rosadas e a pele imaculada. Não pude evitar o sorriso ao me ocorrer que, se ela pudesse escolher, seria exatamente assim que decidiria ser enterrada.

- Você nunca deixou de ter seu próprio brilho, né? - Resmunguei ao acariciar sua bochecha com as pontas dos dedos. E então senti as lágrimas me sufocarem ao perceber que minha pergunta retórica não teria qualquer resposta irônica.

Como isso pôde acontecer tão rápido? Ela estava tão bem... faríamos nossa noite do pijama essa noite. Como isso pôde acontecer?

- Você tem alguma ideia do quanto eu vou sentir sua falta? - Perguntei com a voz falhada. - Quando eu conseguir aquela bolsa na faculdade... quando eu me casar... quando eu engravidar. Tem alguma ideia do quanto vai doer a ideia de que você não estará lá pra comemorar comigo?

Deixei que as lágrimas se formassem enquanto segurava suas mãos e respirava fundo:

- Eu ainda vou te encontrar, Diana. - Garanti. - E quando isso acontecer... eu vou brigar muito com você por não ter tido mais atenção na hora de atravessar aquela rua. E depois... depois vou te abraçar e compensar todo o tempo que podíamos ter tido juntas e não tivemos.

Apertei os lábios sabendo que eu não tinha mais qualquer chance contra as lágrimas insistentes, minha voz embargada era prova disso. Então permiti que elas rolassem, seguidas por um soluço que eu não consegui evitar. Ainda assim, encontrei forças para me inclinar e beijar sua testa antes de murmurar:

- Você sempre vai ser minha mais querida... mais querida amiga.

E então me levantei, chorando baixinho, procurando os braços de Thomas que se mantinha perfeitamente calado ao meu lado. Ele me abraçou sem restrições, me apertando contra si e acalmando o coração dentro de mim que parecia perdido em uma gigantesca e infinita tempestade.

*~*~*~*

O restante daquele dia foi pior do que imaginei que seria. Minha garganta parecia fechada, bloqueada por um excesso de angústia que impedia que qualquer coisa passasse por ela - nem mesmo água. Então simplesmente me deitei de volta na cama do quarto de hóspedes da mansão depois de Thomas insistir que eu ficasse ali, e fechei os olhos, tentando reprimir os pensamentos que invadiam minha mente sobre uma época - não muito atrás - onde eu podia ligar para minha melhor amiga e ela atenderia.

Dispensei toda companhia ou palavra de conforto que qualquer pessoa se dispunha a me oferecer naquele momento, e todos eles respeitaram minha vontade de ficar sozinha... exceto Thomas. Depois de liberar todos os empregados de suas funções pelo resto daquele dia, ele entrou no quarto sem dizer uma palavra, se deitou ao meu lado e me abraçou naturalmente, como se já tivéssemos feito isso inúmeras vezes.

Eu estava me esgueirando sob o sono muito tempo depois que o silêncio se instalara sobre a gente, quando vozes sussurradas penetraram meus ouvidos:

- Como ela está? - Perguntara minha mãe.

- Ainda está em choque, mas ela vai ficar bem.

- Ela não comeu nada...

- Eu sei. Ela deve comer quando acordar.

- Eu... estou me sentindo inútil. Ela não me deixa fazer nada por ela.

- Não há nada que ninguém possa fazer agora. Ela precisa passar por isso, pra conseguir superar. Ela precisa enfrentar o luto.

Uma pausa.

- Eu estava pensando em ir com o Matthew até a casa dos Kidder oferecer algum conforto. A mãe da Diana deve estar desolada, mas... eu não queria deixar a Angie.

- Eu fico com ela. - Thomas garantiu. - Não se preocupe.

- Estou com meu celular. Se ela acordar, se quiser algo ou... bem, qualquer coisa... me ligue imediatamente, está bem?

- Ligarei.

- Obrigada por cuidar dela, Sr. Strorck.

- Me chame de Thomas, Sarah. - Ele pediu. - E cuidar dela é o meu dever.

Ouvi a porta se fechar momentos depois, antes de Thomas depositar um beijo em minha testa e murmurar:

- Cuidar de você é meu dever.

E então me deixei ser abraçada pelo sono.

*~*~*~*

- Angel... - Ouvi vagamente além do torpor do sono. - Acorde, amor. Você precisa se alimentar.

Apertei os olhos e me virei para o outro lado. Eu não queria me alimentar, mas algo me dizia que Thomas não estava aberto a discussões. Aliás, independente de que horas seriam naquele momento, eu já havia tido sorte por ele ter esperado tanto.

- Amor... - Chamou de novo. - Vamos, levante-se. Eu trouxe algo pra você.

Fingi ainda estar dormindo.

- Angel. - Ele insistiu. - Por favor. Você sabe que eu não vou desistir enquanto você não comer.

Suspirei e levei mais dois ou três segundos antes de me virar novamente para ele e abrir os olhos a contragosto. Seus lábios se curvaram em um sorriso tênue e contido, uma bandeja segura em suas mãos.

- Oi.

- Eu não quero comer.

- Eu sei. - Ele respondeu ao se aproximar para se sentar ao meu lado. - Mas você não comeu nada até agora, então vai comer nem que eu tenha que te dar garfada por garfada, como uma criança de dois anos.

Me sentei apoiada na cabeceira e observei o conteúdo da bandeja em seu colo enquanto ele colocava um pouco de comida no garfo e o erguia em direção à minha boca. Era um almoço completo... de onde ele tirou isso?

- Você não dispensou os empregados? - Perguntei ignorando o que ele me oferecia.

- Sim. Por quê?

- Quem fez essa comida?

Ele olhou a bandeja em seu colo e abaixou o garfo novamente, fazendo uma careta de desgosto.

- Fui eu. Não parece apresentável?

Ergui uma sobrancelha.

- Você cozinhou pra mim?

- Pesquisei na internet como fazer. Não ficou bonito, mas o gosto não está ruim.

Eu pisquei, por um momento sem saber como reagir. Então ergui a mão e acariciei sua bochecha sobre a barba, deixando escapar um sorriso genuíno, mas ainda assim, sincero.

- Obrigada.

- Não me agradeça. Você cozinha pra mim há meses e eu nunca te agradeci.

- Isso porque você é um pé no saco e eu não. - Respondi na intenção de amenizar o clima, pegando o prato de sua mão. - Eu posso comer sozinha.

Ele me observou enquanto eu colocava uma garfada na boca, sem sorrir e sem responder. Então o silêncio trouxe novamente o peso do luto que parecia quase anestesiado, bloqueando minha respiração por um segundo e me fazendo perder qualquer traço de humor que eu pudesse estar tendo outrora.

Parei de mastigar e encarei o prato, estática.

- Angel...? - Thomas inclinou a cabeça para olhar meu rosto, preocupado.

Inspirei e expirei devagar, então me forcei a engolir a comida antes de pedir:

- Você pode me distrair... por favor?

Ele levou um momento para saber o que responder, mas finalmente, comentou:

- Eu não queria te deixar sozinha, mas preciso ir à empresa amanhã. Tenho uma reunião que por mais que eu queira, não posso adiar.

Ergui os olhos para ele, sabendo que nem mesmo meu estado de espírito deprimente poderia camuflar minha curiosidade:

- Por quê?

- Bem... - Ele se mexeu desconfortável na cama e suspirou. - Porque eu não posso propor um casamento à mulher da minha vida antes de cancelar um certo contrato.

Arregalei os olhos. Como pude me esquecer disso?

- É amanhã que você vai tentar cancelar...

- Não. Amanhã eu vou cancelar. Sem tentativas, só ações concretas.

- Você tem certeza de que vai dar certo?

- Por que não daria? - Ele franziu a testa. - Já está feito, Angel. Eu só preciso oficializar.

Respirei profundamente e balancei a cabeça, me voltando para o meu prato.

Eu não sabia explicar o por quê, mas no fundo do meu inconsciente eu sentia que isso não seria assim, tão fácil.

E Deus, como eu queria estar errada...

#-#

Boa noite, minhas razões!!!

Eu sei que demorei, mas falei sério quando disse que estava de volta. Só é difícil voltar de uma vez no ritmo que estávamos antes depois de quase um ano inativa, mas aos poucos eu vou pegando o jeito. Em breve vamos estabelecer um dia da semana pra postagens, mas antes deixem eu me estabilizar de novo.

Mas me contem sobre vocês. Como estão? Estão se cuidando, se protegendo, estão bem? Espero que sim. E a quem teve alguma perda na família por causa desse maldito vírus, sintam-se abraçados por mim. Em nome de Jesus essa fase está chegando ao fim.

Até breve, minhas razões. Eu amo vocês demais da conta, obrigada pela paciência que têm comigo.

Aaahh, e se quiserem saber antecipadamente quando vai ter capítulo novo, me sigam lá no insta (mihbrandao_). Eu to meio sumida, mas sempre aviso lá quando estou prestes a postar.

Beijos da Mih. E não se esqueçam de deixar o votinho ❤

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