Foi só quando olhei atentamente para a porta que eu prestei atenção, uma miniatura, pouco mais baixa que eu, de cabelos escuros e negros, com a varinha ainda apontada, deu um sorriso e suspirou fundo, antes de colocar a varinha de volta na capa.
— Puxa, ele era mesmo um pé no saco. Odeio esse professor. — Ela murmurou enquanto ambos a olhavamos intrigados
— Vega? — Exclamei já incrédula
Ela voltou seu olhar para mim, mas depois seu olhar parou em Black e seu sorriso meio que murchou, ela ficou parada o encarando, parecia uma garota adulta que tinha ido atrás de resolver seus problemas, mas era apenas uma criança de onze anos.
— Ma... Mas, quem é essa garota? — Vociferou Black
— Ela é do primeiro ano. — Rony respondeu como se isso fosse uma resposta congruente — Só não sei o que ela faz aqui.
— Acho que não foi a série dela que ele perguntou, Rony. — Mione disse também olhando para garota que estava perplexa
— Ninguém vai ajudar ele? — Perguntei apontando com a cabeça para Lupin que ainda lutava para se livrar das cordas
Black se abaixou depressa e o desamarrou. O professor se ergueu, esfregando os braços onde as cordas o tinham machucado.
— Ela é filha da Sienna, Sirius. — Lupin falou assim que se recompôs — Obrigado, Vega.
— Da... da... — A voz de Black saiu fraca, nós apenas observamos a cena sem entender — A Sienna?
— Oi, pai. — A menina falou fraco e então uma pequena lágrima escorreu no seu rosto — Acho que ainda não fomos apresentados, né?
— Que é que tá aco.... — Rony começou a falar, mas lhe dei um tapa para que ficasse quieto
— Eu tenho uma filha? Mas... mas como?
— A Sienna tava grávida quando você foi preso, pelo que eu sei, somente a Lilian sabia, ela queria que fosse surpresa pra você, mas então aconteceu o que aconteceu, Sienna foi embora do país e só voltou com a Vega faz um ano, quando ela virou professora de Hogwarts, e pouco tempo depois, Vega recebeu a carta.
Black ficou paralisado olhando para Vega que ainda tinha pequenas lágrimas no rosto, então ele levou as mãos a cabeça parecendo desconcertado.
— Ele... ele, ELE ME DISSE QUE ELA ESTAVA MORTA! — Berrou apontando para Perebas — O Peter, aquele... aquele... Ele me falou que a Sienna tinha morrido! EU PASSEI DOZE ANOS... DOZE ANOS ACHANDO QUE PERDI TUDO!
E então ele caiu de joelhos no chão parecendo que ia gritar e uma feição de fúria e mágoa.
— Eu também achei que a Sienna estivesse morta, mas não, ela é professora de Hogwarts e a Vega é sua filha. — Remo se aproximou de Sirius tentando o acalmar
— Eu... — A menina fungou um pouco antes de falar — Passei o ano todo te procurando, imaginei que ia tentar entrar no colégio, eu conheço algumas passagens. Mamãe sempre me disse que o senhor era inocente, eu sempre acreditei, sempre quis te conhecer. Mamãe sente sua falta.
Black levantou a cabeça para a garota e agora lágrimas escorriam pelo seu rosto também, pela primeira vez eu não o vi como um assassino horrível, criminoso, ele parecia ter coração. Se levantou e abraçou Vega fortemente, enquanto ambos choravam.
— Minha filha... — Ele sussurrou — Minha filha.
— Eu odeio interromper esse lindo momento. Mas, isso não faz eu acreditar em vocês! — Harry interrompeu o momento apontando a varinha na direção de Remo e depois em Black
— Então está na hora de lhe apresentarmos alguma prova. Você, garoto... me dê o Peter, por favor. Agora.
Rony apertou Perebas mais junto ao peito.
— Nem vem. — Disse o garoto com a voz fraca — O senhor está tentando dizer que Black fugiu de Azkaban só para pôr as mãos em Perebas? Quero dizer... — E olhou para eu, Harry e Mione à procura de apoio — Tudo bem, vamos dizer que Pettigrew pudesse se transformar em rato, há milhões de ratos, como é que Black vai saber qual é o que está procurando se estava trancafiado em Azkaban?
— Sabe, Sirius, a pergunta é justa. — Disse Lupin, virando-se para Black com a testa ligeiramente franzida — Como foi que você descobriu onde estava o rato?
— Dá logo esse rato antes que eu mesma mate ele com as minhas próprias mãos! — Vega rosnou impaciente fazendo menção de avançar em cima de Ron, mas ainda fungando e tentando enxugar as lágrimas
— Puxa, você tem o gênio da sua mãe. — Sirius riu por uns segundos
— Obrigada. — Vega também riu
— Só um momento. — E então Black enfiou uma das mãos, que lembravam garras, dentro das vestes e tirou um pedaço de papel amassado, que ele alisou e mostrou para nós.
Era a foto da minha família, que aparecera no Profeta Diário no último verão, e ali, no ombro de Rony, estava Perebas.
— Onde foi que você arranjou isso? — Perguntou Lupin a Black, perplexo
— Fudge. — Disse Black — Quando ele foi inspecionar Azkaban no ano passado, me cedeu o jornal que levava. E lá estava Peter, na primeira página... no ombro desse garoto... reconheci-o na mesma hora... quantas vezes o vi se transformar E a legenda dizia que o menino ia voltar para Hogwarts... onde Harry estava...
— Meu Deus. — Exclamou Lupin baixinho, olhando de Perebas para a foto no jornal e de volta ao rato — A pata dianteira...
— O que é que tem a pata? — Dissse Rony em tom de desafio
— Tem um dedinho faltando. — Afirmou Black
— Claro. — Murmurou Lupin — Tão simples... tão genial... ele mesmo o cortou?
— Pouco antes de se transformar. — Confirmou Black — Quando eu o encurralei, ele gritou para a rua inteira que eu havia traído Lílian e James e falou que a Sienna também estava morta por minha culpa. E então, antes que eu pudesse lhe lançar um feitiço, ele explodiu a rua com a varinha escondida às costas, matou todo mundo em um raio de seis metros, e fugiu para dentro do bueiro com os outros ratos...
— Você já ouviu falar, não Rony? — Perguntou Lupin — O maior pedaço do corpo de Pedro que acharam foi o dedo.
— O que com certeza é ligeiramente estranho. — Concluí
— Olha aqui, Perebas com certeza brigou com outro rato ou coisa parecida! Ele está na minha família há séculos, certo...
— Doze anos, para sermos exatos. — Disse Lupin — Você nunca estranhou que ele tenha vivido tantos anos?
— Nós... nós cuidamos bem dele!
— Não cuidamos não. — Resmunguei em voz baixa
— Ratos não vivem tanto tempo assim! — Vega revirou os olhos e cruzou os braços encarando meu irmão
— Exato, e mesmo que esteja cuidando tão bem, ele não está com um aspecto muito saudável no momento, não é? — Comentou Lupin — Imagino que esteja perdendo peso desde que ouviu falar que Sirius fugiu...
— Ele tem andado apavorado com aquele gato maluco! — Justificou Rony, indicando com a cabeça Bichento, que continuava a ronronar na cama.
Mas isso não era verdade, ocorreu a mim de repente... Perebas já estava com cara de doente antes de conhecer Bichento... desde que voltamos do Egito... desde que Black escapara...
— O gato não é maluco. — Disse Black, rouco. Ele estendeu a mão ossuda e acariciou a cabeça peluda de Bichento — É o gato mais inteligente que já encontrei. Reconheceu na mesma hora o que Peter era. E quando me encontrou, percebeu que eu não era cachorro. Levou um tempinho para confiar em mim. No fim eu consegui comunicar a ele o que estava procurando e ele tem me ajudado...
— Como assim? — Murmurou Hermione
— Ele tentou trazer Peter a mim, mas não pôde... então roubou para mim as senhas de acesso à Torre da Gryffindor... Pelo que entendi, ele as tirou da mesa de cabeceira de um garoto...
O meu cérebro parecia estar fraquejando sob o peso do que ouvia. Era absurdo... ou fazia o total sentido, contudo...
— Mas Peter soube o que estava acontecendo e se mandou... — Falou Black — Este gato... Bichento, foi o nome que lhe deu?... me disse que Peter tinha sujado os lençóis de sangue... suponho que tenha se mordido... Ora, fingir-se de morto já tinha dado certo uma vez...
— E sabe por que é que ele se fingiu de morto? — Perguntou o garoto impetuosamente — Porque sabia que você ia matar ele como tinha matado os meus pais!
— Você não está ouvindo a história garoto!? — Vega perguntou impaciente — Godric Gryffindor dai-me paciência!
— Você é da Gryffindor? — Black se surpreendeu e Vega lhe deu um sorriso
— Agora não é hora. — Lupin os interrompeu — Harry, não.
— E agora você veio acabar com ele!
— É verdade, vim. — Disse Black, lançando um olhar maligno a Perebas
— Então Snape deveria ter levado você! — Gritou Harry.
— Harry. — Disse Lupin depressa — Você não está vendo? Todo este tempo pensamos que Sirius tinha traído seus pais e que Peter o perseguira... mas foi o contrário, você não está vendo? Peter traiu sua mãe e seu pai... Sirius perseguiu Peter...
— Até que faz sentido. Se o Black tivesse fugindo não ficaria dando bobeira atoa por aí, ele teria sumido do mapa, considerando que era um animago, a menos que ele realmente tivesse algo a tratar com Peter. — Concluí tentando juntar as peças do quebra cabeça
— NÃO É VERDADE! — Berrou Harry — ELE ERA O FIEL DO SEGREDO DELES! ELE DISSE ISSO ANTES DO SENHOR APARECER. ELE CONFESSOU QUE MATOU MEUS PAIS!
O garoto apontava para Black, que sacudia a cabeça devagarinho; de repente seus olhos fundos ficaram excessivamente brilhantes.
— Harry... foi o mesmo que ter matado — Disse, rouco — Convenci Lílian e James a entregarem o segredo a Peter no último instante, convenci-os a usar Peter como fiel do segredo, em vez de mim... A culpa é minha, eu sei... Na noite em que eles morreram, eu tinha combinado procurar Peter para verificar se ele continuava bem, mas quando cheguei ao esconderijo ele não estava. Mas não havia sinais de luta. Achei estranho. Fiquei apavorado. Sienna estava na casa dos pais dela, os Misttigan, aquele dia, ao mesmo era o que eu achava. Eu então corri na mesma hora direto para a casa dos seus pais. E quando vi a casa destruída e os corpos deles... percebi o que Peter devia ter feito. O que eu tinha feito.
A voz dele se partiu. Ele virou as costas.
— Basta. — Disse Lupin, e havia um tom inflexível em sua voz que eu nunca ouvira antes — Tem uma maneira de provar o que realmente aconteceu. Rony, me dê esse rato.
— Que é que o senhor vai fazer com ele se eu der? — Perguntou Rony, tenso
— Vou obrigá-lo a se revelar. — Disse Lupin — Se ele for realmente um rato, não se machucará.
— Dá esse rato pra ele de uma vez! — Falei, impaciente
Rony hesitou. Então, finalmente estendeu a mão e entregou Perebas a Lupin. O rato começou a guinchar sem parar, se contorcendo, os olhinhos l negros saltando das órbitas.
— Está pronto, Sirius? — Perguntou Lupin
Black já apanhara a varinha de Snape na cama. Aproximou-se de Lupin e do rato que se debatia e seus olhos úmidos pareceram, de repente, arder em seu rosto.
— Juntos? — Perguntou em voz baixa.
— Acho melhor. — Confirmou Lupin, segurando Perebas apertado em uma das mãos e a varinha na outra — Quando eu contar três. Um... dois... TRÊS!