[76] Solidão.

1.1K 145 14
                                    

| N i n a |

- Está apertado? - Indago a Adam quando ele faz careta.

- Se eu fosse um cadáver, estaria perfeito, mas eu ainda preciso respirar. - Brinca ao afrouxar a gravata. - Está tentando me matar porque já não me aguenta mais?

- Você é dramático. - Reviro os olhos enquanto carrego um sorriso bobo no rosto pela sua palhaçada.

Ele se olha no espelho, arrumando a camisa, mas semicerra os olhos como quem não gostou de como ele se parece. Ele está como Cody, engravatado e contido. Não digo a ele que é provável que se sinta menos desconfortável usando um suéter e calças caqui que o deixariam parecendo rico... Bem, ele é, considerando a herança da mãe, mas ele não é do tipo rico que transparece isso nas roupas.
Hoje Adam tem uma entrevista na Universidade de Verisya, uma cidade a algumas horas da nossa. Foi onde Cody se formou em economia e onde Adam quer, estranhamente, se formar. Escolheu economia depois de um conflito interno sobre não ser um artista como a mãe. Não saber desenhar e pintar. Por ser consideravelmente bom com números, acha que seu destino está em mexer com eles, mas, para ser sincera, Adam não parece eufórico com a premissa de estudar economia. Cody, por outro lado, está orgulhoso como nunca, o que motiva Adam o suficiente para que ele vista um terno. Ele fica bem de terno. Fica bem de qualquer jeito.

- Como estou? - Murmura, nervoso.

- Eu te daria uma bolsa e depois tiraria a sua roupa. - Dou os ombros.

Ele desfaz o semblante preocupado e a postura tensa e se senta na poltrona próxima ao espelho. Sento-me em seu colo sem medo de amassar sua roupa.

- Sério? - Passa os braços ao meu redor.

- Sim. E se seu entrevistador fizer isso, juro que não culparei ninguém senão sua mãe por ter feito um filho tão bonito e adorável. - Beijo sua bochecha.

- Adorável não soa bem quando eu quero parecer promissor.

- Não concordo. - Rio.

Passo a mão por seus cabelos e organizo os cachos. Minhas mãos descem para o seu rosto e o seguro com minhas mãos pequenas. Encaro-o.

- Você vai se sair bem, Collins.

- Eu não sei, Nina.

- Você tem notas excelentes, é inteligente, ensaiou seu currículo de cabo a rabo, em três línguas diferentes da nossa, tem uma dicção invejável e é simpático, além de ter uma longa lista de atividades extracurriculares, elogios, cartas de recomendação e, é claro, ser o capitão do time de lacrosse colegial que mais vence em Gaya. O que mais eles podem querer de você?

A insegurança de Adam transparece poucas vezes, como agora, então sinto que devo sempre tentar enrolá-la garantindo que ele é bom, porque ele é. Não há nenhuma mentira no que eu disse.
Seu nervosismo é concebível, assim como o da minha mãe, o de Cody e... o meu. O meu sinto ser mais egoísmo que nervosismo. Perder meu namorado - assim como meus amigos - para faculdades distantes é horrível. Tento me contentar com as possíveis visitas de trem em feriados, mas não consigo parar de pensar em como tudo pode se desgastar com a distância. Em como Adam pode conhecer uma garota mais madura, saudável, bonita e talentosa que o envolva em um encanto irrevogável. Em como Natalie, quando na faculdade, não estará mais comigo nas aulas de dança e nem me defendendo nos corredores. E então Anna e Max partindo para universidades do outro lado do país, juntos no início de uma coisa que parece mais assustadora para mim que para eles. Provavelmente irão conhecer pessoas novas e Anna, sendo genial como é, irá encontrar amigos que sejam geniais como ela - coisa que não sou - e uma amizade comigo não fará mais tanto sentido, considerando sua formação em medicina. Não consigo dizer isso a nenhum deles. Não consigo dizer isso para ninguém, nem mesmo para Dra. James.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora