24 | Anna.

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| A d a m |
 
 
 
"E aí? Ela aceitou?" Pergunto ao Chris, assim que ele para a minha frente.
 
 
"Sim." Ele sorri. "Ela é legal, até. E é muito mais bonita de dia, porque consigo ver seu rosto."
 
 
"Ótimo. Vamos impôr algumas regras." Semicerro os olhos. "Você não irá assediá-la, beijá-la, tentar transar com ela, fazer piadas idiotas ou falar coisas ruins dela depois do encontro, tanto quanto ir encontrar outra garota na mesma semana. Vista-se bem, vá a um restaurante legal, leve flores -- ela ama flores. Amarelas, aliás. Hum, sorria, também." Balanço a cabeça.
 
 
"Eu sei o que fazer, Adam." Ele ri. "E quem define o limite, é ela, não você." Ele diz e eu reviro os olhos.
  
 
"Ok, mas ela não irá te dizer os limites, porque ela não fala com pessoas novas."
 
 
"Encontro duplo. Vamos com você e a Natalie." Ele se enconta no armário ao lado do meu.
 
 
"Ótimo." Suspiro em alívio. "Pelo amor de Deus, seja gentil."
 
 
"Ela não tem cara de quem quer que eu puxe a cadeira para ela sentar ou a leve em um restaurante com muitos talheres." Ele gargalha.
 
 
"Posso tentar levar a Natalie em outro." Afirmo.
 
 
"Ok, tudo bem. Você me avisa."
 
 
"Christian, se ela ficar sabendo disso, eu realmente quebro a sua cara." Digo entredentes.
 
 
"Sou mais alto que você."
 
 
"Não é mais forte e nem mais rápido."
 
 
"Foda-se. Ela não vai ficar sabendo." Ele balança a cabeça.
 
 
Eu sei que é errado eu pedir para Chris que ele leve Nina para sair. Se ela descobrir que estou sendo idiota a esse ponto, irá me odiar e retirar a chance que me deu, mas eu queria que ela pudesse acreditar que alguém pode chegar para chamá-la para sair. Afinal, Chris disse que não chegaria perto dela só porque é minha "irmã" e eu pedi para não foder com tudo. Mas eu disse que tudo bem, então está tudo certo. Não estamos fazendo nada de errado, certo? Será algo bom.
Porém, o fato de ela ter aceitado, deixa-me desconfortável. Nina nunca aceitaria sair com um cara, ainda mais como o Chris. Não a conheço há muito tempo, mas tempo o bastante para perceber que ele não é o tipo dela, se é que ela tem um tipo. De qualquer forma, vê-lo dar encima dela por uma noite não será tão ruim. A parte mais difícil disso tudo, será convencer Natalie a mudar o restaurante e aceitar um encontro duplo.
 
 
"Ela aceitou mesmo?" Arqueio as sobrancelhas.
 
 
"No desespero de me mandar embora, sim." Ele ri. "Ela é a maior gata. Se você não vai pegar, eu vou."
 
 
"Ela não é um objeto, para você pegá-la. Você é um babaca."
 
 
"Obrigado. É uma honra." Ele assente com um sorriso despreocupado.
 
 
"Tantos caras nesse colégio e eu fui em você..." Bufo, começando a me arrepender.
 
 
"Fique frio, mano. Vai dar tudo certo. Sou confiável."
 
 
"Ah, estude gramática." Comprimo os lábios.
 
 
Por um instante, vejo Anna James correr para alguma das suas aulas que deve ser no outro prédio e ela não quer se atrasar. O corpo magro dela contrasta com toda a massa de corpo a que habitam no corredor e todos a olham de lado. Nunca entendi esse fato. Anna é linda, de verdade. Cabelos negros e ondulados até um pouco depois dos seus ombros, olhos verdes claros e chamativos, um rosto pálido e muito bonito e, quando sorri, mostra que seu sorriso também é demasiado agradável. Além de ser a garota mais inteligente do colégio e estar dois anos adiantada, ela lê a mesma quantidade de livros que Nina, mas mais sobre anatomia, física, matemática, química. Eu ainda não sei como as pessoas não gostam dela. Pensei que o padrão social fosse: Magra, bonita e... burra. Bem, ela é inteligente por todo o grupo das líderes de torcida juntos -- Eu sei que é um clichê, mas aquelas garotas se preocupam mais em hidratar o cabelo louro, que em estudar para a prova de biologia. Ela tem boa parte do caminho trilhada. Deveria ser aceita. As pessoas não a deveriam olhar de lado. E em todos esses aspectos, ela e Nina são iguais -- mesmo que Anna seja muito mais inteligente que Nina e que eu e que Patric Hills, que é um cara bem inteligente. --, e ambas têm o famoso problema da exclusão. Todos nós temos as nossas peculiaridades que nos fazem ser únicos, então por que excluir aqueles que só tem peculiaridades distintas das nossas? É idiotice. Você se adequa a um grupo com divergências parecidas à sua, mas se alguém também é diferente, mas de outra forma, você o abomina. Pessoas e suas manias babacas de temer o diferente só porque é algo novo, como se tudo para nós sempre já tivesse sido conhecido desde sempre.
 
 
"Anna." Chamo seu nome e seguro seu braço sem força. Ela olha para mim. Olhos fundos, olheiras salientes, bolsas d'água debaixo dos olhos, semblante cansado. "Você está bem?"
 
 
"Com certeza não estou melhor agora." Ela revira os olhos e puxa seu braço, voltando a andar.
 
 
Para uma uma idade inferior a de todos aqui, ela é mais madura de 90% desses adolescentes. Incrível.
 
 
"Ah, certo." Rio. "Não quero te incomodar, mas..."
 
 
"Missão fálida." Ela sorri e eu prossigo acelerando o passo ao seu lado.
 
 
"Ok, estou sendo chato. Eu sei que deve achar que eu quero te zoar, mas eu só queria te fazer uma pergunta." Tento dizer.
 
 
"Diga." Ela acaba por parar. "Vou me atrasar por sua culpa."
 
 
"Eu sei que está adiantada na matéria. Seja qual for." Cruzo os braços.
 
 
"Vá direto ao ponto, por gentileza."
 
 
"Eu sei que a sua mãe é super famosa. Uma psicóloga renomada, premiada e tudo mais, mas será que ela tem um pouquinho de tempo para me atender? Sabe, um mínimo espaço na sua agenda?" Semicerro os olhos.
 
 
"Ligue e pergunte." Ela diz simplesmente, dando os ombros.
 
 
"Pode me passar o número?"
 
 
"Sim." Ela balança a cabeça e passa sua mochila para a frente do seu corpo, onde abre e puxa um cartão. "Número, nome e endereço do consultório."
 
 
"Que profissional." Sorrio. "Por que anda com cartões da sua mãe?"
 
 
"As pessoas só me param para falar dela. Parece que ela é uma psicóloga boa demais." Ela abre um meio sorriso.
 
 
"Deve se orgulhar."
 
 
"Sim, eu me orgulho." Ela balança a cabeça. Vejo a verdade em seus olhos. "É um assunto urgente?"
 
 
"Sim." Afirmo. "Só queria fazer uma entrevista."
 
 
"Você é do jornal da escola? Eles já foram lá em casa antes e ela já deu palestras aqui. Não tem muito o que perguntar." Ela dá os ombros.
 
 
"Eu sei, mas eu tenho muito o que perguntar." Guardo o cartão no meu bolso.
 
 
"Olha, se ela não tiver tempo para falar com você no consultório, posso arrumar um jeito de te fazer falar com ela fora. Ela é legal, não se importaria."
 
 
"Sério, muito obrigado. De verdade, Anna." Suspiro em alívio. "Você é legal, no final das contas."
 
 
"Valeu. Tenho que ir. Mesmo que seja uma matéria por mim com ajuda do meu pai, não posso faltar às aulas. Harvard está de olho em mim."
 
 
"Wow, Harvard." Arregalo os olhos.
 
 
"É, Harvard. Ouviram falar dos pais e ouviram falar dos filhos. Minha mãe já deu palestra lá e alguns dos ex-alunos trabalham para o meu pai e para o meu avô." Ela dá os ombros como se não fosse nada demais.
 
 
"Bem, boa sorte em Harvard." Sorrio.
 
 
"Tchau, Adam." Ela segue o corredor.
 
 
Ótimo, agora eu só tenho que ligar para lá e tentar conseguir um horário.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora