[17] À noite.

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Caminhamos pelo meio da rua iluminada apenas pelas luzes provindas dos postes de luz e pelos olhos de Nina. O brilho dos olhos dela iluminam a rua mais que qualquer uma das luzes.
 
— Você parece chateada. — Digo, afagando seu braço.
 
— Não. — Ela murmura, abaixando a cabeça e mexendo na barra da camiseta.
 
— Por que diabos as pessoas parecem tão chateadas o tempo todo? — Suspiro em frustração.
 
Ela dá os ombros.
 
Os rasos pêlos do seu braço estão arrepiados, e creio que seja porque está frio, então tiro meu casaco e o ponho sobre seus ombro. Ela nega com a cabeça, mas ignoro o seu protesto frenético.
 
— Está com fome? — Pergunto e ela assente em resposta.

Mesmo tendo comido muito sorvete, pizza e tudo o que havia perto, ela ainda sente fome. Não sei para onde toda essa comida vai.

— Vamos ao Mc Donald's. — Sugiro.
 
Um enorme sorriso brilhante surge em seu rosto e eu nunca o vi tão brilhante. Acho que a única coisa que ele venera mais que os livros e seus pais, é a comida.

— Você adora comer besteira, não é? — Rio.

Ela solta uma linda gargalhada e anui.
 
— Sim, é muito bom. — Sorrio. — Vamos lá. — Puxo seu corpo para mais perto do meu. — Você parece cansada.

— Remédios.

Talvez os remédios que Nina tome a façam sentir sono ou só simplesmente cansada. Eu não sei, talvez deva saber mais sobre eles.

— Vem, sobe aqui. — Digo e ela nega com um olhar óbvio. — Como seu novo amigo, acho que posso dar algumas ordens. — Brinco e ela cruza os braços e franze o cenho, teimosa. — Eu estou brincando, calma. — Rio. — Mas sobe nas minhas costas.
 
Ela revira os olhos, e até aparentando ser amarga, é doce. Nina tenta subir nas minhas costas e seus braços ficam ao redor do meu pescoço, enquanto suas pernas ao redor da minha cintura.
 
— Tudo bem se eu... — Digo, referindo-me ao fato de ter que segurar em suas pernas para que ela tenha mais estabilidade. Ela dá os ombros e toco em suas pernas sobre a calça jeans. — Você pode me contar algo que gosta de fazer? Além de ler e ouvir música, é claro.
 
— Piano. — Sua voz doce profere.
 
— Sabe tocar piano? — Sorrio.
 
Aham. — Ela balança a cabeça.
  
— Por que não tem um? Sua mãe tem dinheiro e tem espaço para um. — Digo.
 
— Tenho. — Ela ri.
 
— Tem? Onde? — Franzo o cenho. — Está escondido?

— É.

— Por quê?"

— Se-segredo. — Ela comenta baixinho e deita sua cabeça em meu ombro.

Paro para pensar: Naquela enorme casa, que antes só acomodava duas pessoas, mas agora quatro, tem seis quartos. O meu, o da Nina, o dos nossos guardião, o escritório deles, o de hóspedes e um que fica no fim do corredor, mas também pensei que fosse de hóspedes. Eu nunca ouvi nenhum barulho de dentro de nenhum deles.
 
— Queria ter um lugar só, sabe? Eu tenho muitos lugares. — Comento. — E não tenho um preferido.
 
Ela parece tentar dizer algo, mas nada sai.
 
— Chegamos. — Digo, em questão ao colégio.
 
— Ei, cara! — Ouço uma voz familiar chamar por mim e me viro. Chris. — O que faz aqui a essa hora?

— Vim trazer a Natalie em casa e pegar meu carro. Longa história. — Balanço a cabeça. — E você?

— Estava andando. Meus pais estavam enchendo meu saco sobre a faculdade e eu saí de lá. — Ele gargalha, soltando a fumaça do cigarro que habitava em sua boca.

— Você sabe que pode ir lá pra casa. — Bato em seu ombro.
 
— Eu sei. — Ele dá os ombros. — Quem é a boneca? — Ele abre um sorriso malicioso desnecessário.

— Nina. — Digo simplesmente.

— A filha da Tori? Não imaginava que ela fosse tão gata. — Ele gargalha. Nina está com a cabeça deitada em meu ombro, mas apoia seu nariz no mesmo.

— Chris, para. — Digo, olhando-o seriamente.
 
— Ok. — Ele dá os ombros.
 
— Temos que ir. Boa sorte em casa. — Sigo até meu carro, deixando-o no meio do nada. — As vezes ele pode ser bem babaca, não ligue. — Nina assente e eu abro a porta do carro.

Chris Roberts é meu amigo desde a quinta série. Nós somos bem diferentes, mas mantivemos a amizade. Ele é o tipo clichê de um babaca sem coração, mas também pode ser bem legal, as vezes. É por isso que é meu amigo. Ele mora ao lado da minha antiga casa, aliás. Ele não será babaca com a Nina. Não com ela.

— Tudo bem. — Ela balbucia e se senta no banco.

— Tem um Drive Thru a caminho de casa. — Digo. — Passamos por ele na vinda.
 
Ela cantarola ao som de You Found Me, dos The Fray, que toca na rádio. Seus dedos tocam sua perna como tem toca um piano. Nesse momento, encontro-me extremamente ansioso pelo dia que a verei tocar.
 
— O que vai querer? — Digo assim que saímos do carro.

O Drive Thru está fechado, mesmo que diga "24 horas" em um letreiro especialmente grande.
 
Ela aponta para o Cheddar, aponta para a batata grande e ergue dois dedos e aponta para Coca-cola. Ok, ela gosta dele lugar.

— Dois cheddares, quatro batatas grandes e duas coca-colas. — Digo, a entreolhando. Nosso gosto por comida é semelhante.
 
Entramos no carro e passamos uma hora comendo, conversando –— Eu falando quase que sozinho, na verdade. –—, rindo e ouvindo músicas boas. E, de verdade, foi um bom momento. Engraçado, até. Sabe, a parte que ela pôs Ketchup na ponta do nariz e conseguiu tirar com a língua, ou quando ela riu tanto, que quando encostou no banco, ele foi para trás e rimos mais ainda. Até mesmo quando fui desafiado a pôr o maior número de batatas na boca, e quando competimos para ver quem terminava mais rapido, de beber o refrigerante. Estava tão gelado, que o cérebro dela congelou e eu liguei o aquecedor. Sempre deu certo comigo.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora