64 | Everything's gonna be fine.

2.2K 222 44
                                    

Nina está sentada lendo um livro, com a perna da bota ortopédica sobre o meu colo, enquanto mexo no celular, conversando com Zac e Will.
Durante esse último mês de férias, fiz uns amigos na sala de espera do consultório da Dra. James, enquanto esperava a Nina. Zac é o paciente com horário marcado após o da Nina e Will é seu namorado, que o espera para levá-lo para casa. Zac também passa por um estágio difícil de depressão e Will ainda está aprendendo a compreender como funciona. Durante as últimas oito sessões da Nina, duas por semana, fizemos amizade. Nina não fala com eles; só dá um sorriso e diz que vai esperar no carro. Ultimamente, ela quer distância das pessoas e eu não a forço a ficar entre elas. Está sendo muito difícil conseguir falar até comigo, com a Tori, Anna ou Margot.

⠀⠀— O que você está fazendo? — Ela pergunta, abaixando o livro.

⠀⠀— Conversando com o Will. Ele disse que está no hospital com o Zac, que teve um ataque de pânico assustador. — Suspiro.

⠀⠀— O que o Zac tem?

⠀⠀— Depressão, assim como você.

⠀⠀— Ah, sim. — Ela diz, mas não está satisfeita. Está inquieta.

⠀⠀— O que foi? Tem algo de errado? — Arqueio as sobrancelhas.

⠀⠀— Ele tá bem? — Ela se senta.

⠀⠀— Não, estão tentando acalmá-lo. Por quê?

⠀⠀— Quando eu tenho ataques de pânico, depois que eu melhoro, eu gosto de comer doces.

⠀⠀— Você sempre gosta de comer doces. — Digo e ela revira os olhos.

⠀⠀— Sabe, a gente podia levar pra ele. — Nina fecha o livro.

⠀⠀— Quer levar doce para o Zac? São duas e meia da manhã, Nina.

⠀⠀— Não tem hora pra fazer alguém se sentir melhor.

⠀⠀— Tem razão. Vamos. — Tiro sua perna de cima do meu colo com cuidado. — Vou pegar nossos casacos e a chave. Passamos em alguma lanchonete, tudo bem?

⠀⠀— Sim, claro.

Pego dois moletons meus e entrego um para Nina. Ela está com as calças de pijama brancas e cheia de arco-íris e de top, agora, com o moletom. Cansada, mas linda.
Ajudo-a com as muletas e seguimos para o carro. Pelo caminho, Nina deixa uma mensagem para Tori avisando que fomos ao hospital visitar um amigo.

Paramos em uma loja de conveniência e compramos sorvete e chocolate. Na loja ao lado, uma caixa com donnuts. Assim, mataremos Zac com toda essa glicose.

⠀⠀— Você é absolutamente espontânea. — Digo enquanto dirijo. — Está com o pé quebrado, de pijama e resolveu sair para ajudar um desconhecido quase três da manhã.

⠀⠀— Eu raramente tinha quem me ajudasse às três da manhã. E fazia falta quando eu não queria acordar a minha mãe ou ligar para a Anna. Não é bom se sentir um peso por estar doente. Eu sei bem disso.

⠀⠀— Agora você tem. E ele também. É isso que importa. — Desloco uma das minhas mãos do volante para apertar a sua sobre a sua perna.

⠀⠀— Eu sei. Obrigada. — Ela sorri para mim. É esse sorriso que me prende a ela. — Acha que ele vai ficar bem?

⠀⠀— Claro. Os ataques de pânico passam em algum momento e...

⠀⠀— Não, Adam. Da depressão. Ele vai sair disso?

Paro o carro de frente para o hospital. Quando olho em seus olhos, eu vejo que a pergunta não tem o direcionamento de apenas querer saber se o Zac um dia irá melhor. Vai além disso: ela quer saber se ela também vai melhorar. Em todos os momentos, Nina sente que nunca vai sair disso, mas todos nós sabemos que vai. Por mais que tenha tido uma recaída, a sua evolução desde o acidente em Londres até agora, é muito perceptível. Talvez ache que se o Zac, que está em um estágio de depressão severa, acima da Nina, conseguir sair disso, talvez ela também consiga. Talvez. Eu a conheço o suficiente para interpretar tudo isso a partir da sua simples pergunta.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora