[20] Realidade.

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Faz cinco dias que eu não vejo Nina. Eu não a vejo no colégio, ela tranca a porta do seu quarto, sai mais cedo de casa e não atende às ligações, às mensagens e às batidas na porta. Ela não desce para jantar e nem almoçar e o mais próximo de vê-la que cheguei durante esse tempo, foi o fato de ela ter passado por mim e seguindo até porta no fim do corredor. Foram os cinco dias mais longos de toda a minha vida e eu não quero que essa tortura dure mais nenhum segundo.


"Eu quero saber o que ela tem." Digo, adentrando à sala de Victoria após passar pela sua secretária irritante.


"Perdão, sra. Davis. Ele saiu entrando." A mulher diz, ainda segurando meu braço.


"Pode deixar, Allison." Ela diz para a secretária, que me entreolha zangada e sai do local, fechando a porta.


"O que diabos ela tem?" Digo, movendo minhas mãos no ar.


"Quem?" Ela franze o cenho e ri.


"É sério, Tori. Eu estou tentando fazer amizade com a sua filha, mas faz quase uma semana que ela simplesmente não aparece no meu campo de visão." Suspiro, frustrado, e me sento na cadeira em frente a sua mesa.


"Nina ouviu uma conversa entre você e Natalie, a qual Natalie disse que não gosta da proximidade entre você e Nina. Ela só não quer que a Natalie fique irritada, mesmo que diga que sabe que você não vai se apaixonar por ela." Ela diz diretamente e eu rio com ironia.


"Isso é sério?" Rio com ironia.


"Se eu fosse ela, faria o mesmo." Ela balança a cabeça. "Olha, tudo o que a minha menina menos quer, é atrapalhar a vida das pessoas. Ela não quer que a Natalie brigue com você, por tentar ser amigo dela."


"Ela não brigou comigo, Tori. Nós conversamos sobre isso, mas não foi nada demais. Eu gosto da Nina. Ela é uma boa pessoa e não merece passar o dia inteiro trancada dentro do quarto, se privando do que há do lado de fora, se afastando das pessoas, só porque parece conveniente. Ela é um ser humano e mesmo que vá te dizer que está bem com isso, ela não está." Digo, mais alto que relamente deveria. "Eu quero ajudá-la. Eu não gosto de vê-la assim."


"Adam, eu aprecio a sua tentativa e ainda mais porque eu pedi, mas você não pode achar que vai curar a depressão da Nina rapidamente, só porque conseguiu curar a sua. O pai dela morreu há cinco anos e ela ainda não superou, mas ela vai. Não queremos prejudicar o seu relacionamento porque ela tem problemas que não te dizem respeito. Você não precisa disso."


"Eu não preciso, mas ela precisa. Victória, você passa todo o seu tempo trabalhando e acha que o fato de ter a Margot cuidando da Nina e vigiando cada passo que ela dá, vá suprir a sua ausência e a do pai dela, mas você não pode pensar assim. Ela precisa de amigos e família ao lado dela, e não só de uma garota magra demais, uma mulher que passa algumas horas do dia com ela e uma psicóloga que a vê duas vezes por semana. Isso não é e nunca será o suficiente para salvar a vida de uma garota afundada na depressão. Você tem alguma noção do que é viver dentro disso?" Arregalo os olhos. "Se você quer que a sua filha melhore, me deixe ajudá-la. Eu imploro." Digo.


"Eu não posso fazer nada. Eu não quero pressioná-la." Ela suspira.


"Então você vai deixá-la acreditar que incomoda a vida de todas as pessoas e vai deixá-la se afastar das pessoas porque não consegue ver que ninguém se incomoda com ela? Vai deixar sua filha viver em uma bolha só porque não quer pressioná-la? Se você quer o bem dela, tem que me ajudar a ajudá-la. Boas pessoas não merecem passar pelo o que ela passou e permanecer assim. Por favor, Victória. Quando a minha mãe morreu, eu só tinha o meu pai para me ajudar e até eu entender que ficar daquela forma não valia a pena, foi difícil. Eu fiz tudo sozinho. Ela não precisa fazer sozinha. Ela não precisa." Olho-a nos olhos, apelando. "Victória, ela não precisa."


A mulher suspira e abre um sorriso orgulhoso. Ela permanece olhando para mim por alguns minutos, com os olhos semicerrados, sem dizer nada.
Tori se inclina sobre a mesa e retira o telefone preto do gancho. Ela disca o número calmamente.


"Sou eu, querida." Ela diz e meu sangue volta a fluir novamente. Ela está falando com a Nina. "Eu preciso conversar com você. Tem como me encontrar no Starbucks que tem na esquina da empresa?" Ela suspira, ainsa olhando para mim. "Eu te vejo em alguns minutos, ok? Tome cuidado. Eu te amo, Nina." Ela diz e desliga.


"Obrigado. De verdade." Suspiro em alivio e me levanto.


"Acho que sou eu quem deve agradecer." Balanço a cabeça. "Eu vou esperá-la lá."


"Faça esse favor." Ela sorri e me viro, caminhando em direção à porta. "Adam." Ela chama meu nome. "Obrigada por tentar."


"Não tem que me agradecer." Sorrio, saindo do local.


Suspiro, caminhando até o elevador. Assim que as portas se abrem, vejo meu pai. Bem vestido, com um sorriso no rosto, as mãos no bolso. Ele é um cara jeitoso.


"O que faz aqui?" Ele diz assim que paro ao seu lado.


"Eu vim falar com a Tori." Dou os ombros.


"Sobre a Nina, pressuponho." O homem balança a cabeça.


"Eu não a vejo há cinco dias. Precisava saber o porquê."


"Ela não quer interferir na sua vida. É só isso." Ele afaga meu ombro.


"Por que vocês acham que ela interfere na minha vida?" Reviros os olhos.


"Você e Natalie..."


"Pai, eu quero ajudar a Nina. A Natalie entende isso e se ela não entendesse, eu terminaria com as coisas entre nós, porque eu dou o Adam e eu gosto de ajudar as pessoas. Se a Natalie não quisesse que eu ajudasse Nina, pediria pra que eu parasse de ser eu, e então, ela não gostaria mais de mim. Eu só quero ajudá-la. Ela não atrapalha a minha vida, pai. Eu gosto de estar com ela."


"Acredito em você." Ele assente com um sorriso. "Aonde está indo?"


"Encontrá-la." Digo, com olhos semicerrados.


"Tenho orgulho de você."


"É a minha obrigação como ser humano. Mas com ela, eu faço porque gosto dela. Ela é boa."


"Sim, ela é." Meu pai abre um sorriso e balança a cabeça.


Saio do elevador e aceno para ele. Tomo o caminho até o Starbucks da esquina e me sento em uma mesa reservada. Eu não quero que ela me veja e volte para casa.

Passo algum tempo mexendo nos nós dos meus dedos enquanto penso no quão bonita ela irá aparecer aqui, vestindo um grande casaco cinza e calças jeans, que é o seu usual para o frio. Ela irá se sentar, beber seu café e eu vou falar e falar e falar. E é só.

Mas depois de uma hora e meia sentado, esperando-a, noto que ela não vem mais. Noto que, provavelmente, ela me viu e foi embora, ou então, sabia que era algo relacionado a mim, e não hesitou em se levantar da cama. Ou pode ter ocorrido um acidente. Deus me livre.


"Ela não veio. Estou indo embora." Digo para Victória ao telefone.


"Ela acabou de me ligar. Ela disse que te viu e voltou para casa. Eu estava discando seu número." Ela suspira. "Eu sinto muito, mas não posso obrigá-la."


"Então faço por mim mesmo." Bufo, desligando o celular e adentrando ao meu carro.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora