[16] Ciúmes.

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— Você vai ficar com a gente, querida? — Victória diz assim que vê Natalie.

— Eu tenho que ir embora. — Ela suspira.

Nina vem descendo as escada. Seu cabelo está molhado e é a primeira vez que eu a vejo sem nada cobrindo suas pernas.

— Pode parar de olhar para as pernas dela, Adam? Isso é deselegante. — Ela susssurra para mim.

Porra, Adam, o que tem de errado com você?

— Eu só estava... — Tento arranjar uma desculpa, mas nunca fui bom em mentir.

Eu realmente estava olhando para as pernas dela. Não estava admirando nem nada, só constatando que não há meia alguma, diferentemente do habitual.

— Na verdade, eu fico. — Ela diz. — Acho que seria bom conhecer um pouco mais de vocês duas.

— Nina, você me ajuda a pegar o sorvete? — Meu tio diz com um sorriso gentil. Ela assente e eles caminham até a cozinha. — Adam, você também.

Acho que meu tio é meio sem noção poe pôr vários potes nas mãos da Nina. Mais que ela pode suportar e que ela possa ver para onde está seguindo.

— Deixa que eu te ajudo. — Rio e pego alguns dos que ele empilhou nos braços dela. — Está mais fácil assim? — Pergunto e ela assente.

Nina desaparece pela porta da cozinha e deixa os potes sobre a mesa de centro da sala.

— Você está conseguindo interagir com ela? — Cody questiona, tirando-me do transe.

— Sim. Ela é incrível, a propósito. Bom gosto musical, bom gosto para a literatura e ainda gosta de bolo de chocolate! — Exclamo como uma criança e meu pai ri.

— Isso é bom, Adam. Ela não tem amigos e seria bom que você tentasse ser. — Ele dá um tapa nas minhas costas.

— Hoje nós fizemos bolo.

— Você queima ovos. — Ele arqueia as sobrancelhas.

— Deu certo, de qualquer forma. — Rio. — Ela é uma garota bem legal. Nina tem constantes ataques de pânico?

— Sim. Você presenciou um? — Ele arregala os olhos.

— Sim. Me deixou desnorteado. — Suspiro.

— O que você fez?

— O que a mãe fazia. — Dou os ombros. — Funcionou, aliás. Depois nós viemos pra casa, fizemos bolo e cantamos... bem, até a Natalie chegar. Depois disso que foi pro quarto e eu levei bolo pra ela. — Suspiro.

— Você está deslumbrado. — Ele ri.

— Ela é uma garota legal.

— Você está deslumbrado porque não convive com garotas que se interessam pelo o que você se interessa.

— Pode... Pode ser.

— Amor, você não vem? — A voz de Natalia invade a cozinha.

— Sim, claro. — Assinto.

(...)

Nina ganhou o monopoly e comeu bastante sorvete de morango com chantilly. Natalie não gosta de jogos de tabuleiro, mas jogou porque eu sei que ela quer impressionar e mostrar que gosta das coisas como todo mundo. Não para mim, mas para a minha família. Eu gosto da Natalie da forma como ela é, assim como todas as pessoas que convivem com ela. Eu já disse a ela que eu sou o único que precisa ficar encantado com quem ela é, não a minha família. Ela namora comigo, não com eles.

— Mimica com filmes? Isso é um clichê. — Meu tio gargalha. — Natalie, você começa, já que é convidada. Quem tiver menos pontos, lava a louça! Menos a Natalie.

— Pode ser qualquer filme? — Ela diz e se levanta, parando na nossa frente no sofá. Tori assente.

Natalie começa a fazer gestos com as mãos de que parece estar morrendo afogada e eu não faço ideia do que seja.

— Titanic! — Victoria grita e Natalie assente com um sorriso. Como?

— Ok, agora sou eu. — Ela se levanta. Meu pai marca um ponto para Victória.

Ela faz gestos de como alguém que está indo para o altar, mas mil filmes são assim.
Nina levanta a placa e "Vestida para casar" está escrito. Ah, esse é bom.

— Vai, filha! — Ela exclama.

Nina estende 5 dedos na mão. Ok, 5 dedos. Ela faz uma cara de mau e eu rio, porque é engraçado. Depois ela faz como uma princesa e eu saco: The Breakfast Club.

The Breakfast Club, gente. — Reviro os olhos. Nina ri e assente.

— Eu deveria ter descoberto! É o seu favorito. — Tori revira os olhos.

The Breakfast Club é o seu filme favorito? — Arregalo os olhos e ela assente. — O meu também.

— Vai logo, Adam. — Meu pai me empurra e eu rio.

Faço gestos com a mão como alguém que escreve e subo na mesa de centro, fazendo um gesto com a mão de como quem diz "sim, capitão!"

Nina ergue a placa com "The Dead Poetry Society".

— Sim! — Afirmo.

Bom gosto.

(...)

Meu pai perdeu de forma vergonhosa, mas no fim, Tori e ele fizeram as coisas juntas. Eu e Nina empatamos. Acho que até o nosso gosto impecável para filmes é compatível.

Agora, estou parando o carro de Natalie em frente à sua casa. Sugeri que poderia levá-la em casa e pegar meu carro, já que ela mora perto do colégio. Nina está mexendo em seus dedos no banco de trás. Meu pai sugeriu que eu a trouxesse e ela não negou. Nenhuma das duas proferiu uma palavra durante toda a viagem, e isso vindo da Natalie, é assustador e preocupante. Eu estou muito fodido.

Natalie sai do carro assim que paro. Saio em seguida e sigo seus passos até a porta branca de madeira da sua casa.

— Você está bem? — Inquiro quando nós dois paramos.

— Sim. — Ela assente.

— Você não disse nada durante a viagem e eu tenho certeza de que tem algo te incomodando. — Afago seus braços. — O que é?

— Ela. — Ela aponta para Nina discretamente.

— Ela? — Franzo o cenho.

— Ela é perfeita e parece com você. É ridícula a forma como vocês são iguais. Eu não... não gosto dela, Adam. — Natalie bufa, cruzando os braços.

— A Nina é legal. Só estou tentando set amigo dela, nada além disso.

— Pelo amor de Deus, Adam. Você a conheceu há quatro dias e vocês têm mais química que nós dois em um ano e meio. — Ela fica ruborizada, mas de raiva.

— Só porque temos algumas coisas em comum? — Dou os ombros. — Pode entender que eu gosto de você? Você e mais ninguém. — Reviro os olhos.

— Bem, não parece. — Ela suspira.

— Mas é. Eu tento, sei lá, deixar as coisas confortáveis pra ela, porque ninguém fez isso por mim, a não ser a Victória e o Cody. Nina é legal e você poderia tentar ser amiga dela. — A seguro pelos ombros levemente.

— Eu tento. — Ela dá os ombros.

— Você está irritada com ela, sendo que ela só foi ela. Não está tentando.

— Ok, tem razão. — Ele balança a cabeça. — Eu vou tentar.

— Obrigado. — Beijo sua testa. — Tenho que ir; está ficando tarde.

— Ok. Fique bem. — Ela sorri e fica na ponta dos pés para me beijar.

— Eu vou. Boa noite, Nat.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora