23 | Date?

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| N i n a |


Respiro fundo. Estou nervosa. Muito nervosa. Hoje é quarta-feira. O colégio já está meramente decorado para o dia dos namorados.

Que é semana que vem.

De qualquer forma, é sufocante. Os corredores com balões, cartazes em foma de coração pelas paredes, flores indo e vindo pelo colégio, pessoas gemendo pelos banheiros do colégio, toda essa química - sabe, a adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, a serotonina e as endorfinas. - à flor da pele e essa coisa que as pessoas gostam. É um pouco inconveniente, ainda mais porque esse colégio faz um baile de dia dos namorados e as pessoas estão convidando uma as outras para passar a noite dentro de um ginásio, sendo supervisionados por professores e inspetores e não em um espaço, sozinhos, onde podem, de fato, liberar toda a endorfina que seus hormônios gritam para que seja liberada. Eu não faço nada. O amor não é para mim. Eu não amo nenhum garoto - E nenhuma garota. - e nem sequer gosto de um. Acho que o máximo que cheguei de gostar de um garoto, foi na sexta série, que eu tinha uma quedinha pelo Blake Fisher. Ele era muito bonito e inteligente, mas eu deixei de gostar dele depois de alguns meses. Eu não faço ideia do que é ir além disso. Então, a semana do dia dos namorados - ou a semana anterior -, para mim, é Química. E eu não gosto de química.


"Você ouviu?" Anna, minha única amiga, murmura.


Mais uma vez, não.


Ela é uma amiga incrível e me entende muito bem. Eu confio nela, mas ela fala demais. É uma garota legal, que tem anorexia e ela se auto-mutila, mas eu tento ajudá-la o máximo que posso. De qualquer forma, ela fala demais e eu não presto atenção em muitas das coisas que ela diz. Sempre são sobre ciências, química, física, biologia, matemática... sabe, ela é uma nerd completa, que tem quinze anos - Numa turma de dezessete. -. Ela é da turma do Adam, segundo ano.


"Desculpa, estava pensando na inutilidade do mês de fevereiro ser capitalizá-lo em pról da química." Sorrio.


"As pessoas amam. É legal." Ela dá os ombros. "Queria ter alguém para amar além dos meus pais e do meu irmão. Sabe, um garoto."


"Você já contou uma experiência falha no amor. Mesmo assim, tentaria de novo?" Franzo o cenho para ela. Ela é bonita. Grandes olhos verdes, longos cabelos negros, é magra demais, inteligente demais, tem seios grandes e é bem legal.


"Sim. Eu sei que terminou em uma catástrofe, mas como eu me sentia durante, era bom. Faria de novo só para sentir aquele bem estar, mesmo que, no fim, doa como se alguém tivesse arrancado seu coração à sangue frio e pisado nele."


"Fala sério." Reviro os olhos e ela ri.


"Você faz o amor parecer ruim, porque nunca amou." Ela arruma seu cabelo atrás da orelha. Mesmo com a mínima diferença de idades, temos o mesmo tamanho. Somos pequenas.


"O amor não é bom." Digo.


"Meus pais são felizes juntos. Sabe, eles estão juntos há uns vinte anos, eu acho. Eles se amam de verdade." A garota balança a cabeça.


"Nem todos têm essa sorte." Abaixo a cabeça, encarando minhas sapatilhas. Visto meias coloridas por debaixo delas. Minhas favoritas.


"Mas todos têm essa chance. Cabe a nós, eu acho. Temos um amor verdadeiro em toda a nossa vida, só temos que identificá-lo e dar tudo de nós mesmos para que não venha a desfalecer. Minha mãe quem diz isso." Anna murmura.


"Para mim, o amor é um jogo de sorte. Nem 90% dos casais que estão aqui, agora, amando-se tão intensamente," comento com ironia. "Sobreviverão ao restante do ensino médio ou à faculdade. Não são todos que ganham o jogo. Seus pais ganharam. Não significa que ganharemos."


"Seus pais se conheceram aonde?" Ela semicerra os olhos e mastiga a ponta do lápis. Ela diz que e nojento e a faz perder a fome.


"Festa de formatura da faculdade. Eles estavam bêbados, jogando pôquer. Ficaram juntos por treze anos depois que eles acordaram em um apartamento, só de roupas íntimas. A história da minha mãe não é essa, mas eu li no diário dela. Vingança por ela ter mexido nas minhas coisas." Dou os ombros e Anna assente.


"Meus pais se odiavam."


"Amor e ódio são faces diferentes de uma mesma moeda. E mesmo que sejam diferentes, ainda fazem parte da mesma moeda." Enfatizo.


"Eu acredito no amor."


"Você é inteligente demais para acreditar no amor, Anna." Reviro os olhos.


"O amor não é para tolos. O amor é para os sábios que sabem aproveitar a vida. Acredito que uma vida sem amor, não vale à pena."


"Amor é perda de tempo."


"Não temos tempo estimado. Temos todo o tempo do mundo para gastar, para perder. Se o amor é um jogo de sorte, quem perde, perde tempo e ganha experiência. De qualquer forma, uma hora ela ganha."


"Se você não ganha amor, perde seu tempo. É sério? Perder tempo por isso?"


"E em que mais você irá gastar seu tempo? Bebendo? Trabalhando? Escrevendo? Sabia que a maioria dos escritores dos livros mais realistas, tinham depressão? Eles enxergavam a vida como ela é: e no fim, eles notaram que a real perda de tempo deles, foi ver o mundo como ele é. A ilusão, nem sempre é, de todo, ruim." A garota afirma. Não consigo discutir com ela.


"Ok."


"Ah, Nina. Aposto que alguém vai te convidar em breve. Você se prende."


"Só eu?" Arqueio as sobrancelhas.


"Mas se alguém me convidasse, eu iria. Eu acredito no amor. Você o superestima. Não serei menos inteligente por amar. Cérebro e coração não são no mesmo lugar; não agem da mesma forma." Ela diz.


Então, seu celular toca.


"Eu te vejo depois." Ela diz calmamente. "Tente falar com alguém." A garota sorri.


"Tente comer algo." Sorrio, afastando-me. Provavelmente, é a dra. James, mãe dela.


Respiro fundo, abrindo meu armário. Guardo alguns dos meus cadernos e pego o livro de geografia para a próxima aula. Até gosto de geografia e a insistência constante dos professores em nos ensinarem sobre os continentes.


"Ei, oi!" Uma voz baixa diz espontaneamente. Olho para o lado. Ok, Chris Roberts. O garoto que nos parou quando eu e Adam adormecemos no carro. Ele é um babaca.


Foco meu olhar em meu armário novamente e puxo meu estojo, que acaba de engatar e um dos cadernos ali. Esses armários são irritantemente pequenos.


"Sou o Chris." Ele volta a dizer e mexe na alça da sua mochila em seu ombros. Assinto, pouco me importando.


Chris é alto, muito bonito, olhos azuis, louro, ficou com todas as lideres de torcida, frequenta, estranhamente, os clubes de xadrez e de cálculo e é um bom aluno em matemática. Só em matemática. Ele só pensa em seios, bundas e vaginas. Ele também gosta de coxas, pressuponho. É um cafajeste com um charme irrefutável e uma persistência irritante. Ele tentou sair com a Anna só por conta dos seios dela, mas ela sacou na hora. Ela revirou os olhos e o deu o dedo. Boa garota, pensei. Eu estava com ela, naquele momento.

A questão é: Por que ele está falando comigo? Eu não tenho seios grandes, nem bunda grande e minhas pernas nunca estão à mostra. Ok, é óbvio que eu tenho uma vagina, mas antes de chegar até lá, esse babaca sempre opta pelo simplesmente visível.


"Eu sei que não tenho uma boa fama e também sei você sabe disso." Ele balança a cabeça. "Eu não quero que pense que quero te usar, porque é a última coisa que eu faria com você." Ele morde o lábio inferior e posso ver seus dentes brancos. Ele é superficial.


Assinto, mas eu sei que não é verdade.


"Você não gosta de mim, certo?" Ele suspira. Eu anuo. "Mas eu te acho bem legal. Você é diferente. É na sua, lê bastante, é inteligente e eu te vi no clube de xadrez. Você detonou o Jonas Prior. Ele é muito bom mesmo." Ele diz e ambos rimos.


Não ria, Nina.


"Você vai fazer alguma coisa no dias dos namorados?" Ele semicerra os olhos levemente.


Assinto freneticamente, tentando parecer convincente, mas falho miseravelmente. Parabéns, Nina.


"Não tem, certo?" Ele ri e eu dou os ombros. "Eu queria saber se quer, sabe, sair comigo?" Ele diz, aparentando estar nervoso.


Chris Roberts? Nervoso? Comigo? Até parece.


O que eu mais quero, é dizer que ele é um galinha, que não quero ser a idiota do ano no seu dia dos namorados, que ele não vai me levar para a cama e nem, sei lá, me mandar fazer seu dever de casa. Que eu quero que ele vá embora e tente falar com outra garota, porque eu não quero.

Mas eu não consigo.
Elas ficam presas.
As palavras ficam presas na minha garganta.
Engulo as palavras e olho em seus olhos.
São bonitos.
Ele é, de fato, atraente.
Mas é um idiota.
Isso não cobre sua idiotice.
Nada cobre sua idiotice.


Nego com a cabeça.


"Ah, Nina, qual foi? Você é uma garota legal. Eu sei que outros mil caras devem ter te chamado para sair, mas não custa. Aposto que seria mais legal que eles." Ele abre um sorriso forçado engraçado de propósito. Não sei se rio do sorriso ou da ideia absurda de algum outro garoto ter me chamado para sair.


Nego com a cabeça novamente.


"Pronto. Você não pode ficar em casa comendo sorvete e assistindo Titanic para passar o tempo." Ele suspira. Quero muito mesmo que ele me deixe em paz, mas eu não consigo me mover. Eu estou ficando nervosa. Isso não é nada bom.


Nada bom.


"Não precisa ficar nervosa, entende? Eu prometo que não vou tentar te beijar ou te levar para a cama. Você é diferente." Ele abre, agora, um sorriso mais genuíno. "Podemos ir com o Adam e a Natalie, se quiser. Sabe, se achar mais seguro."


Reviro os olhos e bufo. Eu vou ter um ataque de pânico. Estou começando a ficar sem ar. Nina, respire fundo.


Assinto freneticamente para que ele vá embora. Chris abre um sorriso ainda maior e assente. Ele diz que vai me pegar as oito, segunda, no horário do baile. Balanço a cabeça e ele nota que eu quero que ele vá embora.


Chris caminha de volta pelos corredores, olhando para trás algumas vezes.

Corro para o banheiro. Meu lugar mais seguro nesse colégio. Fecho os olhos com força ao entrar na cabine.

Parece que eu vou morrer. Eu fico presa dentro de mim. Eu tremo e parece que eu vou morrer e parece que eu vou cair mesmo que eu esteja sentada e parece que o mundo vai acabar e eu não tenho ar e minha cabeça dói e meu corpo fica dormente e eu choro e as coisas parecem estar fora do lugar mas não estão mas estão mas não estão mas estão e tem muita gente lá fora e tem muita gente aqui dentro e tem muita gente falando. Muita gente andando muita gente gritando e eu sinto que vou desmaiar mas não desmaio mas parece que eu vou morrer mas eu não morro mas eu tremo e eu tremo muito eu não consigo respirar eu vou desmaiar mas não desmaio aí eu quero desmaiar mas eu não desmaio. Parece que eu vou cair eu não quero que ninguém olhe. Fico desesperada parece que eu vou morrer mas não morro mas eu quero mas parece mas não acontece nada e meu Deus é horrível.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora