55 | Late.

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| N i n a |
 
 
Acordo com beijos sendo espalhados pelas minhas costas, ao longo da minha pele nua. As grandes mãos acariciam meu cabelo e logo ele sobe seus lábios para o meu pescoço. Meu corpo está arrepiado por inteiro e não consigo pensar numa melhor forma de acordar.
 
 
⠀⠀⠀— Bom dia. — Adam murmura com sua rouca voz matinal.

⠀⠀⠀— Bom dia. — Dou um sorriso seguido de um bocejo gigante bem na cara de Adam.

⠀⠀⠀— Intimidade é um mal da sociedade. — Ele brinca. — Dormiu bem?
 
 
Se eu dormi bem? Acredito nunca ter dormido tão bem. A noite passada foi extraordinária e o bom é que nada pode tirar o que ocorreu de mim. Ninguém pode apagar a linda memória de nós dois juntos, como um só. Eu me senti uma pecadora tendo a honra de conhecer o paraíso por misericórdia. É estranho, mas é bom. Eu estou feliz. Feliz por poder amar Adam e por me sentir amada de verdade. Eu me sinto infinita, como se nada pudesse tirar esse sentimento de mim. O amor é tão bonito, e eu acordo ao lado dele todos os dias.
 
 
⠀⠀⠀— Muito. E você? — Dou-lhe um selinho. Minha vista está embaçada por não usar óculos, mas ele ainda é o borrão mais lindo que já vi na vida.

⠀⠀⠀— Posso dizer o mesmo. Já teve tempo o suficiente de se arrepender de tudo?

⠀⠀⠀— Acho que não o suficiente. — Sorrio. — Que horas são? Tenho de estar no aeroporto às 14:00.

⠀⠀⠀— Um segundo. — Ele procura o celular pelos lençóis e o acha.

⠀⠀⠀— São 12h07?! — Meus olhos se arregalam. — Ai, meu deus! — Levanto-me.
 
 
Adam corre para vestir o jeans largado no chão e eu só pego o primeiro short jeans que vejo. Sem sutiã, com a blusa do Oasis do Adam que fica enorme em mim, de meias de abacaxi calçadas, eu jogo tudo que vejo pela frente dentro da mochila e Adam faz o mesmo. Ele pega a blusa que estava usando ontem e nem se preocupa em abotoar, porque não temos tempo. Joga todos os shampoos e sabonetes dentro da bolsa, como um protocolo da minha mãe, pega seus sapatos, uma das minhas bolsas de livros e eu pego a outra. Escovamos os dentes o mais rápido que podemos, lavamos nossos rostos e eu prendo meu cabelo num rabo de cavalo horrível. Descalços, desarrumados, descabelados, exaustos, com os sapatos nas mãos e cheios de bolsas, corremos para o quarto de Anna e Max. Batemos na porta e Anna está escovando o dente. Está de vestido, meia-calça e casaco, como sempre.
 
 
⠀⠀⠀— Nós vamos fazer o check-out agora ou nunca chegaremos ao aeroporto para o vôo. A Tori vai nos jogar na pista para sermos atropelados pelos aviões. — Adam diz, ofegante.
 
 
Ele pega a minha mão e corremos para fora do quarto e pelo corredor, em direção ao elevador. Quando a porta se abre, há um casal muito bem arrumado para um provável compromisso importante nos olhando de cima a baixo, como se estivéssemos no lugar errado. Ficamos atrás deles. Adam me entreolha e tentamos não rir da situação desesperadora, mas hilária. O casal desce no térreo e eu e Adam corremos em direção à recepção. Eles ainda nos olham com um ar de superioridade, mas não levo a sério. Eu estou muito feliz, nervosa, desesperada e extasiada para ligar. Eu estou me divertindo durante cada milésimo de segundo da minha vida. A brisa fria que vem do oceano lá fora, o cheio de areia e sal toma conta do saguão; o sol que brilha e ilumina tudo, a sensação de se estar viva, o amor que eu sinto em cada parte do meu ser. Eu me sinto livre e feliz, mesmo prestes a perder um vôo e uma oportunidade imperdível que definiria muito da minha vida como bailarina. Eu não ligo.

Deixo Adam fazendo o check-out e saio do hotel em direção à praia. Tiro minhas meias e deixo meus pés sentirem a areia úmida. Caminho até a beira do mar e sinto a água gelada. Afundo meus pés na areia, fecho os olhos. Eu nunca me senti tão viva, tão bem. Parece que as coisas mais simples me foram escondidas durante tantos anos, que eu estive morta e nasci aos poucos. Por todos os anos de melancólia, agora sinto-me alegria, sinto-me poesia. Por toda a dor e agonia de nunca pertencer a nada nem a ninguém, agora sinto-me minha. Por tanto tempo nunca entendendo o amor, agora eu o vejo, sinto e ouço de toda cor, de toda forma, de todo sabor, de todo o som, de todo o coração. Depois de tanta dança, e música e escrita, nada fazia sentido antes de eu me sentir assim, viva. Eu nunca mais quero sentir menos que isso. Eu não mereço menos que isso. Eu mereço o mundo, e dou-me esse aviso. Pois sendo assim, nunca mais recebo e dou menos que corpo e alma, porque é isso que salva.
É o que me salvou.
 
 
⠀⠀⠀— Nina! — Adam me chama. — Está tudo bem? Temos de ir.
 
 
Quando ele chega até mim, com a roupa amarrotada, a cara amassada, o cenho franzinho, eu o beijo, porque eu o amo e amo beijá-lo. Porque beijar Adam e amar Adam também me faz sentir viva.
 
 
⠀⠀⠀— Temos de ir. — Ele acaricia meu rosto. — Está tudo bem?

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora