[18] Última aula.

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Adam! — Uma doce voz profere meu nome enquanto balança meu corpo.
 
Abro meus olhos ligeiramente e não sou bem recebido pela luz forte do sol em meu rosto. Esfrego meus olhos e olho para a Nina, ajoelhada sobre o banco do carro ao meu lado, me olhando com seus olhos verdes intensos.
 
— Que horas são? — Digo, piscando os olhos freneticamente.

Nós acabamos por dormir e nem fomos para casa. A probabilidade de Tori arrancar nossas cabeças é gigantesca.
Ela pega seu celular sobre o painel do carro e me mostra as horas. Já é tarde e perdemos muitas das aulas fundamentais. Que bom. Pego o meu celular em meu bolso e ele está descarregado, e logo o dela também acaba por desligar. Ótimo.
 
— Vamos. Ainda dá tempo de pegarmos a aula de literatura avançada. — Digo, abrindo a porta do carro e ela faz o mesmo.

Já estamos no estacionamento do colégio, então não temos que fazer tanto esforço.
Corremos para a sala de aula após passarmos em nossos armários e no banheiro e, por sorte, a aula não começou há tempo. A srta. Hale não hesitou em nos deixar entrar. Nina se senta numa cadeira no fundo e eu me sento ao seu lado.
 
— Vocês estão aqui, não para aprenderem sobre a vida de Shakespeare ou a de Hemingway... ou a de Austen. Não quero que saibam o que Virginia Woolf sentia enquanto escrevia "The Waves" ou o que Dickens sentia enquanto escrevia "A Christmas Carol". Quero que vocês me digam o que vocês sentem quando leem. — Ela sorri para nós. — Essa classe de literatura extra existe, porque só simplesmente querem sentir. Isso é lindo. — Ela se senta sobre a sua mesa. — O fato de quererem interpretar, pensar, sentir... isso torna a aula avançada. Porque quando eu dou aula para uma turma de pessoas que precisam estar lá, que são obrigadas... Não são todos que querem aprender, entender, absorver. Vocês estão aqui porque querem. Fico feliz por quererem. — Ela suspira. — Mas antes de começarmos com toda essa ideia da literatura, precisamos entender a ideia da interpretação. O que é a interpretação de textos? Alguém pode me dizer?"

— É como uma comunicação entre a pessoa que lê e o texto, que é resulta na compreensão mais pura do que está escrito — A garota de cabelo colorido diz após levantar a mão.

— Ah, vamos lá, vocês podem fazer melhor. — Srta. Hale revira os olhos. — Ok, é isso, mas me dê uma explicação menos... livro.

— É quando você pega o texto e entende aquilo através de uma experiência própria. A interpretação é pessoal, então podem haver vários meios de você entender uma coisa, contanto que haja coerência. — Finn, um cara do time de futebol, diz.

— Isso! — Ela se levanta. — A interpretação é uma coisa pessoal, uma comunicação, uma experiência. — Ela começa a caminhar por entre as mesas. — Você... Nina. — Ela aponta para a garota bonita sentada ao meu lado. — Qual a sua interpretação sobre... inferno? — Todos olham para ela. Ela não diz nada, só abaixa a cabeça. Ela está nervosa e eu não a culpo por isso. — Ah, vamos lá! Sem vergonha, expresse-se. A poesia, a escrita, a literatura... tudo isso se trata da expressão. Não fique assim. — Emery sorri. — Nina...? — Ela chama.

— Professora, posso falar com senhora? — Interfiro.

— Claro. Um segundo, turma. — Ela assente e caminha até mim.

— Ela tem fobia social, não fala muito. Pode não pressionar? — Sussuro.

— Ah, tudo bem. — Ela dá os ombros. — Nina, querida, escreva o que acha do inferno. — Srta. Hale diz.

Não leva dois segundos para Nina entregar o papel.
Emery vai até o quadro, pega um giz em sua mesa e escreve no quadro bem grande: Terra. Olho para Nina por um instante e sorrio pela sua interpretação. Eu escreveria a mesma coisa, se fosse ela, mas isso me leva a ter muitas outras interpretações sobre ela. O que leva uma pessoa a pensar que o inferno é a Terra?

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora