[75] Significado.

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| N i n a |

Acordo sem Adam ao meu lado. Sabia que hoje ele teria teste de literatura, então mando uma mensagem para o seu telefone desejando boa sorte. Ele precisaria, já que não havia estudado. Não de fato. O máximo que havia estudado sobre O Morro dos Ventos Uivantes e Jane Eyre, fora o que eu lhe contei sobre os livros quando me disse do teste. Fiquei furiosa por ter negligenciado seus estudos por minha causa.

O meu quarto está iluminado pelos raios solares de um lindo dia. Minha mãe se encontra sentada na poltrona perto da janela lendo Maya Angelou através dos seus óculos grandes de leitura que pouco usa. Quase não a vejo ler nada que não contratos ou livros de arquitetura.

- Bom dia, querida. Como se sente? - Ergue seu olhar até mim.

- Abandonada pelo meu namorado. - Brinco.

- Então somos duas. - Ela sorri.

Fecha o livro e o deixa sobre a mesa ao lado da poltrona azul surrada. Imagino quantas mães desesperadas já não se sentaram nela em busca de um conforto forte o suficiente para lidarem com a dor de ver um filho em uma cama de hospital. Queria que minha mãe não tivesse de ser uma delas.
Tira seus óculos de leitura, o posiciona sobre a capa amarela e se levanta para caminhar até mim em passos lentos. Está calma, o que me deixa confortável.

- Ele foi um pouco antes de eu chegar. Expliquei a situação para a diretora, mas ela disse que não teria como ajudar com os testes, apenas com as faltas em aulas. Pediu para que os professores fossem gentis com ele, porque está passando por uma período conturbado. - Se senta na ponta da cama. - Como você pediu.

- Obrigada. É provável que sejam compreensíveis com ele.

- Eles serão. Ela me garantiu. - Afaga meu braço. - Eu vou pegar seu café da manhã, ok? Você está abatida. Certeza de um café irá te levantar.

- Tudo bem. Gosto de tomar café com você. - Sorrio.

- São meus momentos favoritos da vida. - Se inclina para beijar minha testa. - Adam deixou um livro para você. - Aponta para Hollywood, de Bukowski, na cabeceira. Sorrio.

- Ele sabe como conquistar uma garota. - Reviro os olhos ainda carregando um sorriso bobo no rosto.

Minha mãe sai. Pego o livro na mesa e leio o bilhete.

"Talvez essas palavras te ajudem como me ajudaram. Encontrei ontem entre as minhas caixas de mudança - que preciso urgentemente desfazer - e acho que isso foi um sinal de que é a sua vez de ler.

Eu te amo, Nina. Muito.
Te vejo à tarde.

Adam."

P

uxo o papel amarelado de dentro do livro e o desdobro com calma.

"Cara Diana,
estou morrendo. Sinto em lhe dizer isso, pois compreendo que a morte seja pior para quem fica, que para quem vai. Ainda que eu saiba que você vá sofrer, acredito que talvez eu possa amenizar sua dor.
Nós nascemos sabendo que iremos morrer e vivemos sabendo que iremos morrer. Não estaremos realmente prontos para absorver o entendimento da partida de alguém tão próximo de nós, como nós duas somos. E por mais que nenhuma de nós tenha religiões firmadas, sem ideias de deuses e espiritualidade, ainda acreditamos que exista algo. Algo, mas não alguém. Não alguém específico, como um deus. Por acreditarmos veemente nesse algo, temos um elo. Elo esse, que nos permite acreditar que nos veremos novamente. Não sei se você, querida, acredita tanto nisso, mas eu sim. Que, onde quer que eu esteja, estarei olhando por você. Como sempre fiz enquanto viva.
Quero que saiba que eu terei morrido quando receber essa carta, mas você não. Estará viva e com uma vida inteira pela frente. Meu último pedido, já que saber da minha partida me permite um, é que você fique bem, querida. Que não prolongue o luto além do necessário. Não estarei aqui em carne e osso, mas estarei aqui. Para sempre nas suas memórias, nas fotografias e no seu coração, além de, é claro, em algum outro lugar que não sabemos bem como.
Lembre de mim com amor e não deixe que as reminiscências da minha existência ao seu lado se tornem fantasmas, assombrando-te por toda uma eternidade. Não quero que supere a ida, apenas que a aceite. Esse é o ciclo da vida e, quando aceitar, ficará em paz. Você merece paz, mais que qualquer outra pessoa no mundo.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora