[11] Eu te amo.

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Meu celular vibra em meu bolso e até tento ignorar, mas pela persistência, logo imagino que seja a Natalie. Por isso, fecho o livro e atendo o telefone antes que ela dirija até aqui e pergunte-me o porquê de eu não ter atendido e desconfiar de algo fora da realidade. Isso faz o feitio dela, mas eu acho engraçada a forma como ela se enciuma desnecessariamente. Tudo o que eu mais tento na nossa relação é expressar confiança justamente porque não acho saudável o ciúme. É claro que eu sinto ciúmes dela em certas ocasiões, mas não só dela ficar perto de um amigo ou rir da piada dele, mas ela, sim.
 
— Oi, Nat. — Digo para ela.

Ei, você quer vir aqui em casa? — Ela sugere animada. — Amanhã tem prova oral de história e eu não estou entendendo muita coisa. — Ela suspira. É uma desculpa.

— Sim, eu vou logo. — Dou os ombros.

Ok. Obrigada. Você é um anjo. — Ela diz docemente. — Vou deixar a porta aberta, ok? Minha mãe saiu e meu pai está viajando.

— Está bem.

(...)

— Mas isso é a história normal, Natalie. Tipo, a colonização, a criação das ferrovias, Guerra Cívil... Nós aprendemos isso desde sempre. — Reviro os olhos, apoiando minhas costas contra parede rosa do seu quarto, já que estou sentado em sua cama.

— Eu dormi em muitas aulas de história. — Ela suspira. — Eu sou boa apenas em física, química, biologia... —  Natalie dá os ombros e põe seu cabelo cacheado atrás da orelha.

— Ok. Nós fomos colonizados pela Inglaterra, França e Espanha. — Começo, mas ela revira os olhos como se fosse óbvio. — Bem, você sabe que a Guerra da Cívil ocorreu entre 1861 e 1865, entre os estados do Norte e os estados do Sul. O Sul era responsável pela agricultura porque eles possuíam um solo mais fértil e é a parte mais, então o sistema de plantation tomou meio que conta de lá. O Norte, onde era mais frio, tinha o solo meio merda para agricultura, então eles optaram por ficar com a parte do comércio e a manufatura, eu acho. Por isso, eles, o Norte, acharam se mostrando mais desenvolvidos em questão à 'tecnologia', digamos...
 
Quando Natalie finalmente entende, fico feliz. Ela está respondendo algumas perguntas no caderno e eu estou voltado para o livro, lendo-o mais. Eu realmente estou gostando desse livro.
 
— Por que está lendo um livro sobre depressão? — Ela franze o cenho e morde a ponta da caneta.

— Eu queria entender a doença da Nina. — Digo simplesmente, voltando meu olhar para o livro.

— Ela tem depressão?— Ela parece surpresa com a alegação. — Eu pensei que ela só fosse tímida.

— Sim, ela tem. Sabe, até onde eu li, é muito pior do que eu imaginava. —  Suspiro e fecho o livro.

— Mas é claro que é ruim, Adam. — Ela afaga meu braço. — De qualquer forma, você não vai ler isso até o fim. A mãe daquela menina meio esquisita, a James, é uma psicóloga famosa. O livro dela virou Best Seller quando ela tinha vinte e oito anos. Minha mãe tem e fala muito dela e vai a várias palestras. — Ela dá os ombros. — Você vai aprender mais que lendo esse livro enorme.
 
— Mas acho que nenhuma dessas pessoas viveu em uma pele assombrada pela depressão, Natalie.
 
— A Dra. James conta no livro que sofreu de depressão na adolescência.
 
— Talvez eu tente arrumar um consulta com ela, mas eu realmente quero ler esse livro. Ele é importante pra Nina. —  Dou os ombros. — Agora, senhorita, vamos focar aí. Se você quer ir para a Universidade de Verisya, tem que tirar notas boas, minha linda aluna. Beijo sua testa.
 
— Com um professor tão dedicado como você, há meios de eu tirar alguma nota menor que 8? — Ela sorri e retira o livro da minha mão para poder sentar em meu colo.
 
— Se eu realmente fosse um bom professor, não acha que tiraria A? —  Pouso minhas mãos em seu quadril.
 
— Não seja tão duro consigo mesmo. É difícil prestar atenção nas palavras que saem da sua boca, e não só na sua boca. — Ela solta uma risada.
 
— Então a mocinha está jogando a culpa na minha boca? — Semicerro os olhos.
 
— Exatamente, Adam Collins. — Ela beija meu nariz. — Você quer fazer um jogo?
 
— Contanto que envolva a matéria...
 
— Então vamos lá. A cada resposta correta minha para as suas perguntas, você tira uma peça da sua roupa. — Natalie põe ambas as suas mãos em meu ombro.
 
— Não acho justo só eu tirar a roupa. —  Puxo meu corpo mais para mim. — Pode me fazer questões sobre... física. A cada resposta certa, menos uma peça de roupa em você.
 
— Acho justo. — Ela assente. — Qual a fórmula mais famosa criada por Einstein  — Ela semicerra os olhos.
 
— Acho que você quer tirar a roupa. —  Rio. — e = mc2 — Reviro os olhos.
 
— Vou começar pelas meias. — Ela puxa as meias azuis de seus pés pequenos. — Sua vez.
 
— Por que o país é tão miscigenado hoje em dia? Qual fato desencadeou isso?
 
— Quando as ferrovias foram construídas, eles juntaram gente de todo o mundo e por ter demorado alguns anos e muitos terem criado família, uma quantidade generosa de gente ficou aqui. — Ela diz com um sorriso convencido.
 
— Acho que eu sou um professor bom. — Sorrio e puxo meu casaco, jogando-o no chão.
 
— Qual a primeira Lei De Newton?
 
— Princípio da Inércia. Se nenhuma força for exercida sobre um corpo inerte, ele permanecerá inerte. Acho que é isso ou mais ou menos isso. — Digo simplesmente.
 
— Menos uma blusa. — Ela puxa sua blusa cinza para cima, revelando seu sutiã rosa de renda.

Eu sei bem o que ela quer com isso.
 
— Durante quais anos a Guerra Cívil durou?
 
— 1861 e 1867? — Ela arqueia as sobrancelhas em dúvida.
 
— 1865. — Rio. — Tente não esquecer, porque ele irá perguntar isso.
 
— Ok. — Ela faz beicinho. — Uma fórmula da cinemática.

(...)

— Agora eu tenho que ir. — Digo, arfando enquanto pego minha calça de cima do seu tapete branco felpudo.
 
— Obrigada. — Ela diz, ainda deitada em sua cama com o lençol escondendo seu corpo nu suado.
 
— Espero que você tire dez. — Sorrio enquanto fecho o zíper. — Você é inteligente, vai se sair bem. — Visto minha blusa. — Eu te vejo amanhã, ok? — Inclino-me para beijar sua testa e depois seus lábios. — Durma bem e tranque tudo quando eu sair. — Pego as chaves do meu carro sobre a mesinha de carniceira e caminho até a porta.
 
— Adam... — A voz de Natalie chama meu nome.
 
— Sim? — Olho para trás.
 
— Eu... eu te amo. — Ela diz simplesmente, mas nervosa.

Empertigo. Porra. Eu não esperava isso.
 
— Natalie, eu... — Tento dizer, mas ela sorri e prossegue.
 
— Não diga nada. — Ela deita sua cabeça no travesseiro branco. — Eu só precisava dizer isso logo.
 
Assinto, abro um sorriso ocioso e saio do quarto o mais rápido possível, como se aquilo fosse uma sentença de morte, mesmo que esteja longe de ser verdade.
Entro em meu carro respirando fundo, tentando esquecer as três tão impactantes palavras. Mas é impossível.

Eu não amo Natalie. Não essa Natalie. Talvez eu amasse quem ela era antes de ser a líder de torcida mais popular de toda a escola, a pessoa que falava com aqueles que não são tão conhecidos como ela. Talvez, em algum momento, eu tenha a amado. Contudo, agora, eu mal a reconheço. Ela vestiu uma máscara grossa e é ela quando estamos sozinhos, sem ninguém ao redor, como agora há pouco.

Natalie é, sem dúvida alguma, uma garota inteligente, bonita, especial... Ela é uma pessoa incrível e eu gosto dela. É minha namorada há algum tempo e sempre esteve comigo, ao meu lado. Ela se dá bem com o meu pai, adora a Victória e é afeiçoada à Nina, ao que parece. Eu não poderia ter uma namorada melhor, mas eu nunca pensei em questão à esse tipo de sentimento.
Sabe, o amor é algo bem mais profundo do que eu acho que nos realmente temos. Eu sei que pareço um idiota e sou um babaca por pensar e sentir dessa forma, mas há algo que não me deixa amar Natalie. Como eu disse, ela é incrivel, qualquer cara quer estar no meu lugar e ter a honra de ser namorado de uma garota como ela, mas eu não acho que amor seja o termo certo para definir o que eu sinto por ela. Eu estou apaixonado e isso é, no mínimo, trivial, mas não quero magoá-la e nem que ela ache que não sinto nada por ela.

Bato a cabeça propositadamente contra o volante e o seguro com força com ambas as mãos. Porra, murmuro para mim mesmo. Não amá-la talvez tenha sido a coisa mais cruel que eu lhe fiz. E que não há como desfazer.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora