36. Mortas-Vivas

145 20 3
                                    

Enquanto caminhava entre as pessoas no aeroporto, Ariela tentava se mostrar descontraída e sincronizar seu espírito com sua nova pele - seu lema devia ser pouco se lixar para os outros e cuidar da sua vida, mas isso não era possível porque por den...

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Enquanto caminhava entre as pessoas no aeroporto, Ariela tentava se mostrar descontraída e sincronizar seu espírito com sua nova pele - seu lema devia ser pouco se lixar para os outros e cuidar da sua vida, mas isso não era possível porque por dentro ela continuava a mesma, mesmo vestida totalmente de preto como uma estrela de rock com sua guitarra nas costas.

Estava com medo, não sabia o que estava a acontecer lá fora depois de dois dias dentro do espaço do Nagrelha a praticar sua nova personalidade. Dois dias era muito pouco tempo, mas era o que tinha e devia fazer fazer funcionar.

Quando as pessoas olhavam em sua direcção, o receio de ser reconhecida reacendia, mas então percebia que ninguém se importava com sua pessoa - excepto o adolescente que olhou para ela encantado com sua figura e perguntou se era uma estrela de rock famosa. Ela respondeu que não, ainda, mas era bom que ele se lembrasse dela.

Era tudo parte de um personagem, claro. Ela não seria nenhuma cantora, tudo o que não precisava na sua vida era de atenção. Chegaria a Manila, conseguiria um trabalho num bar, galeria ou qualquer canto ligado a arte e passaria a vida como servente, tal como qualquer outro cantor falhado termina.

A área de check in estava livre. Caminhou com firmeza mesmo tremendo por dentro, com medo de seus documentos serem descobertos falsos ou seu rosto identificado como Ariela.

A mulher que atendia olhou para ela e esticou a mão para receber seu passaporte. Tão mal hurmorada e rígida como se o dia tivesse ido muito mal para ela e não quisesse simpatias com ninguém.

- Seu nome e local de nascimento?

- Está escrito aí.

Ela lançou-a um olhar assassino e Ariela a enfrentou sem medo algum. Se o dia ia mal, podia ficar ainda pior.

- Acha que não sei ler?

- Então por que pergunta se tem meu documento em mão?

- Quer voar ou ficar aqui a medir inteligências comigo? Porque pode se pôr de lado e deixar quem quer viajar avançar, depois do meu expediente eu trato de ti, Einstein.

- Meu nome é Tala. Tala Ballesteros. Nasci em Manila, nas Filipinas. - Ariela respondeu, não era boa ideia causar atritos com aquela mulher.

- Quem se importa? - a mulher retrucou só pelo prazer e continuou - O que a trouxe até este país?

- Música. Eu estava a estudar música.

A mulher olhou de relance para ela e emitiu um "umm" e passou o passaporte e o bilhete pelo digitalizador.

Enquanto esperava, Ari recobrava os detalhes da sua história na última sessão com Nagrelha.

- Meu nome é Tala Ballesteros, nasci em Manila, nas Filipinas. Meu pai é um músico... era um músico. Agora sua vida se resume a de um velho farmeiro de uma pequena cidade do interior com cancro da garganta de tanta nicotina, acho que sai a ele na parte de ser uma falhada. Ele conheceu minha mãe, uma bela jovem espanhola a servir bebidas num dos bares onde tocava com sua banda. Ele a engravidou e partiu para uma turnê de um ano pelo país. Quando voltou, foi procurar a sua hermosa e ela lhe recebeu com uma surpresa e um bebé, eu. A surpresa não era eu, claro. A surpresa foi o que ela disse a seguir. Que ela havia me carregado no ventre por nove meses enquanto ele vagueava pelo país de show em show sem ideia do que havia deixado atrás, era a vez dela de viver sua vida, então ele que cuidasse de mim. E assim ela partiu numa aventura que dura até hoje.

Um sonho Para MimWhere stories live. Discover now