9. Lar, doce Lar?

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O estômago dela revira assim que os enormes portões da residência nova de Colin Vaugh abrem. A velocidade é mais lenta durante o percurso para chegar a parte frontal da casa. O deslumbramento está transparente no rosto da jovem perante a visão dos espaços verdes perfeitamente cuidados a ladear o caminho de pavê. As plantas crescem verdes e vivas, dos mais diferentes tipos. Árvores, arbustos, trepadeiras e até rasteiras. Ariela deduz que aquilo foi um trabalho mestre de algum paisagista, de certeza.

- Não acredito! - ela abaixa o vidro do seu lado - Aquilo lá no meio do arvoredo é um lago? - pergunta, fascinada, a olhar para o que parecia uma ponte sobre as águas cuja extensão não consegue ver por causa da vegetação ao redor, mas o seu azul não podia passar despercebido.

- Artificial, mas é. - Colin responde e sorri levemente com o entusiamo dela. É como uma criança num parque de diversões pela primeira vez.

Em frente à casa cinco empregados estão á espera, perfeitamente alinhados e aprumados em seus uniformes azuis de serventes domésticos e tratadores do exterior da propriedade. Ariela se contrai quando o carro pára em frente á enorme mansão.

- Espera aqui. - Vaughn diz quando o motorista abre a porta dele e sai.

Ariela fecha os olhos e respira, faz uma breve oração por força. Toda a insegurança que tentou oprimir dia após dia desde que se casou vem com força. Sente suas mãos suarem e limpa-as no tecido do vestido vermelho, cera os punhos e diz para si mesma que está tudo bem, está tudo sob controlo.

Vaughn dá a volta ao carro e abre a porta dela, estende sua mão para ela como um perfeito cavalheiro. Ari entrega a sua, trémula, ao homem que a segura com firmeza e a transmite segurança. Ele está ali com ela, vai protege-la, prometeu.

Mas a segurança desvanece no segundo em que vê, na porta do casarão, Margareth Vaughn a encara-los com a expressão dura e de reprovação que recebeu a toda hora no dia do casamento.

- Meu Deus, a sua mãe está aqui. O que eu faço? Como é suposto trata-la, agora? Senhora Vaughn? Dona Margareth? Com certeza não por mãe, ela detesta-me tanto.

Colin ri.

- Não se preocupe com a minha mãe, Ariela, não é ela quem te deve aprovar. Você é minha esposa agora, é senhora Vaughn também. E mais importante, esta é sua casa, não se esqueça disso. Só não a chame por mãe, por favor. - ele fala baixinho para ela. Ariela assente com a cabeça, é só mais uma prova, diz para si, um teste que a vida coloca á sua firmeza, e ela vai passar com sucesso do mesmo jeito que passou tantos antes, sendo ela mesma.

Margareth passa em frente dos empregados com as mãos abertas e um sorriso no rosto para abraçar o filho. É uma clássica madame, elegante de dentro para fora, até quando pisca. É daquelas senhoras que têm tudo o que desejam na vida, menos um amor que as faça sentir vivas de verdade. Por isso se apegam aos filhos, aos netos, se dedicam incansavelmente às causas sociais, fazer o bem ao outro - processos infinitos de colecta de amor, apreciação e gratidão. Esses fragmentos de amor mendigados ajudam-nas a preencher a carência que carregam. Elas chegam a ser sufocantes e obsessivas nisso.

- Colin, meu filho, saudades suas. - ela beija-lhe a bochecha - Oh, meu coração não aguenta mais ficar tanto tempo longe de si.

- Mãe, não exagera. Há anos que sai da sua alça e não vivo consigo.

- Mas pelo menos meu coração sabe que estás perto e bem. Olha para ti, estás tão magrinho e pálido. Precisas de alguém que cuide bem de ti, meu filho. - ela diz e lança um olhar lateral provocador a Ariela.

- E adivinhemos quem seria essa pessoa? A senhora, com certeza, né mamã? - Rupert aparece da parte lateral da casa a comer uma maçã que Colin presume que ele tirou da macieira do seu pomar. Margareth sorri como se a resposta fosse óbvia e claramente certa. - Então os pombinhos enfim voltaram. Foi difícil dizer adeus ás Caraíbas?

Um sonho Para MimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora