Desesperado para evitar a vergonha de ser plantado no altar, Colin Vaughn escolhe a pessoa mais aleatória que encontra para sua noiva, sua assistente, Ariela Smoak.
Ariela vê no casamento uma solução para a única coisa que prefere manter em segredo...
Ela passa a mão na cabeça e limpa as lágrimas de forma desajeitada só para dar espaço a outras.
- Os Al-Faheem têm direitos sobre mim. Eu pertenço a eles tal como o teu relógio te pertence.
- Eu não entendo. O que estás a dizer?
- É tudo real, Colin. Os rumores são factos. Eles usam pessoas para cobrar acordos quebrados como se fossem simples objectos comerciais. Eles têm propriedade de si, e podem fazer consigo o que quiserem. Eles te exploram, abusam. Teu destino é decidido por eles, até teu direito de respirar. Minha mãe foi uma das vítimas desses monstros. Ela foi entregue a eles por seus pais quando tinha doze anos e cresceu como propriedade do Sheik, uma escrava, até que o filho deles, o príncipe Murad Bin Hassam Al-Faheem, achou-a bonita demais para sofrer com trabalhos pesados e decidiu que a queria para si e a desposou.
- Ariela... - Colin diz, chocado, mas Ariela lhe corta. Agora que começou quer falar tudo.
- Meu nome de baptismo é Mirella Marchetti, filha de Assiah Al-Shadid Marchetti, que é a identidade falsa assumida pela princesa Assuh Al-Faheem quando conseguiu fugir da Arábia Saudita para Itália.
- Assuh Al-Faheem? Você... - Colin não consegue terminar. Solta um riso breve e olha novamente para Ariela para conferir se falava a verdade - Você é uma princesa árabe?
- Não, Colin. Eu sou a escrava mais procurada dos árabes. Sou filha da princesa rebelde que desafiou o poder dos sheiks, mostrou para as outras em igual situação que podiam sonhar com liberdade e abriu a porta da revolução e uma corrente interminável de prisioneiras tentando escapar. Eu sou a filha bastarda dessa princesa que traiu o príncipe debaixo do seu próprio tecto com um dos funcionários dele, engravidou e ainda teve a audácia de fugir. Eu sou a encarnação de tudo o que eles abominam, querem destruir e usar como lição para ninguém mais ousar seguir esse caminho. A última coisa que eles me consideram, é uma princesa. E se me encontrarem, eu terei que pagar pelas escolhas da minha mãe e do meu pai mesmo não tendo nada a ver com elas.
Colin não suporta o peso daquela confissão. Senta-se no sofá e procura esfriar um pouco a cabeça e assimilar o que ouviu.
- Isso é loucura! Como você conseguiu esconder isso de mim, Ariela? Por que nunca me falou nada?
- Eu tinha medo. Eu tinha medo de você me entregar a eles e depois... depois passei a ter medo de não quereres fazer parte disto. De não quereres mais nada comigo e me expulsares da tua vida, e eu não queria correr esse risco.
- E me colocar no meio deste fogo cruzado, você queria? Percebe o que fez? Você tem noção da situação em que me colocou?
- Colin, eu sinto muito. Eu não tinha como imaginar que um dia você consideraria uma aliança com eles. Como eu podia prever isso?
- Não é sobre os malditos árabes, é mais sobre confiança. Tratava-se de eu ter o direito de saber com quem estava a me envolver em primeira instância.
- Eu não menti para si. Nosso casamento era falso. Não importava a minha verdade, não importava a tua verdade. Nós só tínhamos que aguentar seis meses e tudo acabava. Eu sei que f*di com tudo, mas você tem que entender minha posição também. Eu não te devia nada além de segurar tua mão, sorrir para o mundo e parecermos o casal mais incrível de sempre.
- As coisas mudaram de lá para cá e em nenhum momento você pensou em me falar. Porquê você se casou comigo? Por que aceitou meu pedido, Ariela? Se você queria mesmo manter distância dos árabes, você podia ter fugido para qualquer canto e viver uma vida comum. Porquê se meteu no nosso mundo?
- Porque queria estar perto daqueles que também queriam distância deles e teriam informações em primeira mão caso eles estivessem para entrar no nosso país. Foi por isso que eu não medi esforços para arrasar e ficar com o emprego de tua assistente. E eu aceitei casar contigo para estar fora do radar deles. Pensei que eles devessem esperar que eu ande longe do vosso mundo, a fugir pelas esquinas como a minha mãe, e nunca vão imaginar que afinal, a esposa de Colin Vaughn é a bastarda que tanto procuram.
Ariela olha para ele e percebe quão devastado está com aquela informação. Se senta ao lado dele e passa sua mão no seu ombro com o coração a apertar. Colin olha para ela, mas sua expressão não é de amor, nem de compaixão. Se soubesse que seria aquele olhar decepcionado que receberia , teria confessado sua verdade há bastante tempo, quando não se importava se ele estava feliz com ela ou não, quando só contava os dias que passavam para aquele casamento terminar. Agora ela morre de medo.
- Colin, por favor. Diz algo. - ele nada diz - Diz alguma coisa, por favor.
Ele demora segundos agonizantes para falar.
- Devia ter me falado, Ariela. Não podia me esconder algo assim. Algo tão importante e com o impacto que tem, não só na sua vida, mas também na minha da minha família. Na minha empresa. Devia ter me contado.
- Eu sinto muito, Colin. Eu pensei em contar, mas...
O barulho de algo a ser derrubado na cozinha faz-a a parar e põe-lhes alerta. Ambos levantam-se e em silêncio buscam escutar mais algo e averiguar se não era o vento da noite ou janela aberta.
- Colin... - Ariela ia falar, mas Colin a manda calar com simples gestos e vai se aproximando de vagar da cozinha.
O barulho da porta a fechar lhes transmite certeza da presença de mais alguém, Colin manda Ariela esperar na sala e corre atrás do intruso.
Ariela não espera. Segue casa afora e vê Colin interceptar a pessoa que a medida que se aproxima do local fora do alcance da luz, ganha a silhueta de uma mulher.
Colin segura a mulher que procura se libertar e Ariela mal pode crer quando vê de quem se trata.
- Monique?
Monique se solta quando Colin alivia a pressão sobre ela ao ver Ariela a sua frente.
- Olá, Ariela. Ou será que agora devo chama-la vossa alteza, Mirella? - a francesa pergunta, exibindo seu poder pela recente descoberta.
