11. Cabeça contra a Parede

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Colin assente com a cabeça, seu semblante reflectindo pesar.

- Ela não se sente em casa em nenhum sítio, por isso passa a vida a viajar. E é tudo culpa minha.

Ela olha para ele com empatia, admira seu sentimento pela irmã, mas não compreende onde ele carrega a culpa naquela história.

- Colin, como você pode se culpar por algo que seu pai fez?

- Porque eu causei isto tudo. - ele diz - Quando a mãe da Moira morreu, mamã decidiu leva-la para viver connosco, ninguém sabia quem era o pai dela. Foi incrível. Moira, Lupe e eu éramos imparáveis. Ela era a nossa protegida e tudo ia bem, até que ela começou a adoecer. Ela tinha leucemia e precisava do transplante de medula. Você sabe que há maior chance de compatibilidade entre irmãos.

- Então seu pai teve que revelar a verdade?

- Ele não era obrigado porque eu fui fazer o teste de compatibilidade sem que me fosse pedido. E o resultado podia ser positivo como de uma pessoa na China. Mas ele confiou em mim a verdade porque achou que eu merecia saber de quem era a vida que eu estava a salvar. Só que eu não consegui manter o segredo da minha mãe. Eu disse para ele contar, como não o fez, fi-lo eu. Tudo estragou nesse dia. Moira saiu do hospital, as coisas não eram mais as mesmas. Minha mãe mal conseguia olhar para ela, nem ela suportava aquela situação toda.

Ariela se levanta e pára a sua frente.

- Você fez o certo, Colin. Foram seu pai e sua tia que fizeram o errado. Seu pai alguma te culpou por isso?

- Ele não ia colocar esse peso em mim, mas eu vi o abalo que seu casamento sofreu. E nada teria acontecido se eu tivesse me calado.

- Talvez ela tivesse descoberto de outra maneira. Todos cometemos erros, mas devemos ter a valentia de assumi-los e buscar fazer o certo. Fazer isso, nós mesmos, é sinal de redenção, desejo de correcção, e isso conta bastante na hora da outra pessoa nos perdoar.

Colin acena com a cabeça.

- Você tem razão. Eu nem devia estar a pensar nisso com tanta coisa a acontecer.

- Há algum problema? É sobre a empresa?

- Algumas coisas complicaram, mas vão ficar Bem, não se preocupe. - ele diz, e então olha para ela, hesitante - o Lupe trouxe também isto.

Ele entrega para ela uma pasta de documentos.

- É o contrato do nosso casamento. - ele diz enquanto Ariela abre o documento para passar os olhos - Nós não sabemos quais são as tuas motivações para este casamento, mas fizemos de tudo para garantir que saias a ganhar também. Toma o seu tempo para analisa-lo e se tiver alguma cláusula que queira discutir podemos sempre fazer a revisão. Eu recomendaria que contratasse um advogado para cuidar dos seus interesses, se confiar em nós, Lupe pode indicar-te alguém competente. Tudo o que falarem, ficará entre vós, só saberei se decidires me contar.

Ariela fecha o documento, mas seus olhos não saem dele por tempo suficiente para se notar sua tensão. Ela acena com a cabeça, e nada fala. Seus dentes mordem, por dentro, o lado direito do lábio inferior. É algo que ela faz quando está desiludida, Colin percebe, mas nada diz. Foi desconfortável para ele também quando Rupert lhe entregou o contrato feito e lhe disse que era a única coisa boa que tinha para ele depois de tanta notícia ruim naquele dia.

Não recebeu como coisa boa, não soube a coisa boa. Foi como se tivesse sido despertado de um sono tranquilo para o caos. Sentir-se assim lhe intrigou. Ainda mais por desejar que não tivesse que entregar aquele acordo a Ariela para parametrizar sua relação a cláusulas contratuais como se de uma parceria empresarial se tratasse.

Quando se despediu da mãe e do irmão, fechou-se no escritório para rever o contracto. Não que não confiasse na competência de Rupert, só queria garantir que Ariela recebesse um contrato justo e não saia a perder em nenhum ponto.

- Eu vou confiar em Lupe para me arranjar o advogado.

Colin assente com a cabeça e a avalia. Algo a inquieta.

- Colin, você mandou me investigar? - Ariela pergunta - Eu penso que sim, que você é o tipo de pessoa que vai querer saber quem dorme ao seu lado. E, principalmente, porquê eu disse sim.

- Lupe é meu advogado, é ele quem zela que não saia prejudicado em nada do que eu me envolva. Acredito que ele tenha pessoas a investigar-te, sim.

- Eu não quero vocês procurando o meu passado. Sou uma pessoa íntegra que nunca falhou pagar sequer um imposto. E há coisas da minha vida pessoal que gostava que ficassem só para mim. - está tensa, mas busca soar definitiva.

- Ariela, se há algo importante sobre ti que eu não devia saber, então aceitar este casamento foi um erro. Eu não te conheço de todo, então sempre seria investigada. Olha, eu sei que combinamos deixar as razões que nos levaram a nos casar para nós mesmos, e eu pretendo cumprir isso. Eu pedi para não serem invasivos na investigação e só serei informado se for algo que possa colocar a minha integridade e da minha família em risco.

Os sinais são claros. Batimentos martirizantes do coração. Garganta a sufocar. Calor incessante e suor a transbordar. Ariela sente o pânico chegar e não pode estar em frente a ele quando as lágrimas caírem. Seu pai tinha razão, foi ingénua, estragou tudo tudo. E Colin vai descobrir.

- Ariela - ele a chama - há algo que teme que eu descubra e prefira me contar agora?

Ela hesita.

- Não. Como eu disse, senhor Vaughn, eu tenho minha ficha limpa, e sobre a razão do meu sim não vir a tona, o meu advogado vai me ajudar a garantir isso. - ela diz e contorna o homem a caminhar segura para o seu quarto enquanto por dentro deseja voar, sumir da vista daquele homem e bater sua cabeça contra a parede infinitas vezes por ter iniciado a ruína de sua vida.©

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Um sonho Para MimWhere stories live. Discover now