Capítulo 23- O que me pertence

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ANNE

Matthew ressonava em seu cochilo vespertino, e Anne o observava enquanto ele dormia. A saúde dele estava muito melhor, e ele voltara a fazer algumas de suas atividades costumeiras, mas sem exageros, e Anne cuidava pessoalmente para que Matthew cumprisse todas as ordens médicas sem exceção

Ela olhou com carinho para seu pai adotivo, acariciando seus cabelos embranquecidos pelo tempo, e alisou com ternura suas rugas expressivas na testa, e pensou com o coração apertado, que pessoas como Matthew deveriam ser proibidas de envelhecer, pois sua bondade era tanta que mereciam tempo extra para viver nesse mundo e espalhar sua delicadeza e consideração por onde quer que passassem. Era uma pena que a vida não tivesse muita compaixão por pessoas assim, e colocassem em seu caminho mais pedras do que flores e seu sofrimento parecia ser infinitamente maior do que de outros seres humanos, talvez porque acreditassem tanto na boa vontade de seu próximo que se esqueciam de se proteger dos caprichos do destino.

A Anne doía-lhe muito ver Matthew em uma posição tão fragilizada, pois em sua memória ainda estava o homem sorridente que a trouxera para Green Gables, e que fizera de sua infância uma grande aventura. Fora Matthew que a ensinara a amar quando em seu coração somente havia medo e mágoa, fora ele que a colocara para dormir todas as noites, e que afagara seus cabelos quando o mundo desabava em uma tempestade sem fim. Até agora, Anne odiava raios e trovões, e sempre cobria a cabeça quando ia dormir e começava ouvir ao longe os estrondos que abalavam todas as estruturas de seu quarto, fora de Matthew o último rosto que vira quando entrara no carro de sua tia Amélia e fora levada embora de Green Gales, e a Matthew ela devia todas as coisas boas que foram lhe dadas quando ela achara que o abandono seria seu único lar.

Sua atenção foi despertada pelo barulho do celular que lhe mostrou uma mensagem de Cole que brilhava no visor de seu telefone:

" E ai, ruivinha, como você está? " Tem se divertido muito? " Espero que já tenha agarrado o Doutor Blythe bonitão, caso contrário eu mesmo o farei. KKKKK, estou brincando. Volto no próximo fim de semana e conto com você para me entreter com as novidades. Te amo, para sempre. Cole"

Anne riu da mensagem descontraída de Cole, ela o adorava. Nunca tivera amigo melhor além dele e Diana, ele era como um irmão que ela nunca tivera, e sempre lhe dava ótimos conselhos. Ela amava o jeito de Cole encarar a vida sempre de maneira leve e otimista, ela queria ser mais como ele, pois com certeza sua vida teria sido muito mais fácil, mas, seus temperamentos eram muito diferentes, então, sempre contava com ele para colocar um pouco de sensatez em sua cabeça, principalmente quando não conseguia ver as coisas com clareza. Cole era como seu anjo da guarda, estava sempre do seu lado quando ela precisava de apoio, estando ali fisicamente ou não.

Anne voltou sua atenção para o livro que lia, continuando ao lado de Matthew. Ela vinha fazendo isso todas as tardes, mesmo Marilla dizendo que ela não precisava desperdiçar os dias de suas férias fazendo companhia para ele, mas, a verdade é que ela não se importava. Gostava de passar as tardes com ele jogando cartas ou simplesmente conversando. Perdera muito tempo longe de casa, e queria recuperar o tempo perdido, Matthew merecia sua atenção assim como ela merecia tê-lo por mais tempo em sua vida.

O barulho do celular a fez de novo olhar para tela para ver quem estava lhe mandando mais mensagens, e viu com um sorriso no rosto que era Gilbert. Que saudades estava sentindo dele. Não se viam desde do último fim de semana, quando ele pedira sua mão em namoro para Matthew e Marilla. Depois disso, Gilbert tivera uma semana muito ocupada no hospital, tivera que trabalhar horas extras além de seus plantões, porque um de seus colegas pegara uma gripe forte, e Gilbert tivera que cobri-lo.

Anne with an e- Corações em jogoWhere stories live. Discover now