ANNE
Era a primeira vez em todos aqueles dias que estavam em Avonlea, que Anne acordava antes de Gilbert. Normalmente, ela adorava ficar com ele na cama até mais tarde, namorá-lo pelo tempo que quisesse, pois em Nova Iorque, apesar do rapaz nunca deixar de lhe dar atenção, seu tempo era sempre dividido em várias etapas do dia, e só quando ele voltava para casa à noite, era que podiam ficar juntos sem interrupção.
No entanto, na fazenda dos Blythes, eles encontraram tanto espaço para o amor de ambos, que podiam se curtir de verdade, e justamente por isso, aquele sentimento que os acompanhava a vida inteira tinha crescido cem por cento, e não havia mais nada no mundo que conseguisse separá-los.
Amar Gilbert era sua missão de vida, e todas as coisas que ele fazia por ela, sua maneira de estar sempre ligado em suas necessidades pessoais, a paciência com que ele lidava com suas crises emocionais, ajudando-a a enxergar o aspecto positivo de tudo, a faziam ver que seu marido era um homem extraordinário.
Ela não tinha mais dúvidas de que sua vida ao lado de Gilbert era a única que queria viver, pois Anne já havia experimentado o outro lado da moeda, o da solidão, o da carência, a falta dele junto a ela mais de uma vez, e nunca mais queria sentir que metade sua estava faltando, porque Gilbert era seu apoio, sua proteção contra suas dores, o único a quem ela permitia conhecer todas as suas vulnerabilidades, e em sua mente e coração sempre seria os dois contra o mundo.
Naquele dia em especial, contrariando sua rotina matinal, ela acabara perdendo o sono justamente por uma questão que vinha sendo debatida em sua mente sucessivamente. Bertha Shirley era o principal motivo de sua insônia, pois Anne estava dividida entre dois lados seus que estavam em pé de guerra naquele exato momento. Uma parte sua queria perdoar, deixar o passado para trás, e escrever uma nova história a partir dali, e a outra parte ainda queria se agarrar a sua mágoa infantil, ao ressentimento que carregara pela vida afora, a falta que sentira de ter sua mãe biológica por perto, apesar de todo amor que recebera dos Cuthberts.
Era difícil separar as emoções, e levar com leveza aquela situação. Anne sabia que às vezes era intransigente, batia o pé feito uma garota mimada, e fingia que Bertha ter entrado em sua vida não a afetava de forma especial. Mas a verdade era que desde que a mulher surgira em seu caminho, seu equilíbrio fora para o espaço. Ela revivera coisas dentro de si que pensara ter superado ou mesmo esquecido, mas o que pôde constatar foi que nem sempre o tempo era o melhor remédio ou levava embora traumas e mágoas incubadas.
Se não fosse seu marido, que era seu ponto de equilíbrio e apoio, ela ainda estaria mais perdida e talvez não conseguisse encontrar um ponto de conexão entre seu passado e presente, levando-a a um caos emocional maior do que o que estava vivendo no momento.
A mão quente de Gilbert em seu ombro a fez se virar e encará-lo com seus olhos tristes.
-Pensei que você não acordaria dessa vez. - Anne disse, sentindo os braços de Gilbert enlaçar sua cintura.
-Eu sempre sei quando não está deitada a meu lado.- Gilbert respondeu, beijando-a na testa. - Senti falta do calor do seu corpo contra o meu.
-Desculpe. Eu precisava pensar um pouco.- Anne disse, encostando sua cabeça na dele.
-Está usando minha camisa. - Gilbert disse, observando o tecido curto que mal chegava na metade das coxas dela.
-Não achei minha camisola. Onde foi que a escondeu?- Anne perguntou, olhando para o rosto bonito do marido que sempre lhe arrancava algum suspiro quando o observava em todos os detalhes. Gilbert era como um bom vinho, cada ano que passava ficava cada vez melhor.
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Anne with an e- Corações em jogo
FanfictionAnne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de acreditar que sua vida mudaria. Aos nove anos de idade foi adotada por dois irmãos que a amaram desde o primeiro momento, e a levam para mor...