Capítulo 112- Um futuro cheio de promessas

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ANNE

Era a primeira vez em todos aqueles dias que estavam em Avonlea,  que Anne acordava antes de Gilbert.  Normalmente, ela adorava ficar com ele na cama até mais tarde, namorá-lo pelo tempo que quisesse, pois em Nova Iorque, apesar do rapaz nunca deixar de lhe dar atenção, seu tempo era sempre dividido em várias etapas do dia,  e só quando ele voltava para casa à noite, era que podiam ficar juntos sem interrupção. 

No entanto, na fazenda dos Blythes, eles encontraram tanto espaço para o amor de ambos, que podiam se curtir de verdade, e justamente por isso, aquele sentimento que os acompanhava a vida inteira tinha crescido cem por cento, e não havia mais nada no mundo que conseguisse separá-los. 

Amar Gilbert era sua missão de vida, e todas as coisas que ele fazia por ela, sua maneira de estar sempre ligado em suas necessidades pessoais, a paciência com que ele lidava com suas crises emocionais, ajudando-a a enxergar o aspecto positivo de tudo, a faziam ver que seu marido era um homem extraordinário.  

Ela não tinha mais dúvidas de que sua vida ao lado de Gilbert era a única que queria viver, pois Anne já havia experimentado o outro lado da moeda, o da solidão, o da carência, a falta dele junto a ela mais de uma vez, e nunca mais queria sentir que metade sua estava faltando,  porque Gilbert era seu apoio, sua proteção contra suas dores, o único a quem ela permitia conhecer todas as suas vulnerabilidades, e em sua mente e  coração sempre seria os dois contra o mundo.

Naquele dia  em especial, contrariando sua rotina matinal, ela acabara perdendo o sono justamente por uma questão que vinha sendo debatida em sua mente sucessivamente. Bertha Shirley era o principal motivo de sua insônia, pois Anne estava dividida entre dois lados seus que estavam em pé de guerra naquele exato momento. Uma parte sua queria perdoar, deixar o passado para trás, e escrever uma nova história a partir dali, e a outra parte ainda queria se agarrar a sua mágoa infantil, ao ressentimento que carregara pela vida afora, a falta que sentira de ter sua mãe biológica por perto, apesar de todo amor que recebera dos Cuthberts.

Era difícil separar as emoções, e levar com leveza aquela situação.  Anne sabia que às vezes era intransigente, batia o pé feito uma garota mimada, e fingia que Bertha ter entrado em sua  vida não a afetava de forma especial. Mas a verdade era que desde que a mulher surgira em seu caminho, seu equilíbrio fora para o espaço. Ela revivera coisas dentro de si que pensara ter superado ou mesmo esquecido, mas o que pôde constatar foi que nem sempre o tempo era o melhor remédio ou levava embora traumas e mágoas incubadas.

Se não fosse seu marido, que era seu ponto de equilíbrio e apoio, ela ainda estaria mais perdida e talvez não conseguisse encontrar um ponto de conexão entre seu passado e presente,  levando-a a um caos emocional maior do que o que estava vivendo no momento.

A mão quente de Gilbert em seu ombro a fez se virar e encará-lo com seus olhos tristes.

-Pensei que você não acordaria dessa vez. - Anne disse, sentindo os braços de Gilbert enlaçar sua cintura.

-Eu sempre sei quando não está deitada a meu lado.- Gilbert respondeu,  beijando-a na testa. - Senti falta do calor do seu corpo contra o meu.

-Desculpe. Eu precisava pensar um pouco.- Anne disse, encostando sua cabeça na dele.

-Está usando minha camisa. - Gilbert disse, observando o tecido curto que mal chegava na metade das coxas dela.

-Não achei minha camisola. Onde foi que a escondeu?- Anne perguntou, olhando para o rosto bonito do marido que sempre lhe arrancava algum suspiro quando o observava em todos os detalhes. Gilbert era como um bom vinho, cada ano que passava ficava cada vez melhor.

Anne with an e- Corações em jogoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora