Capítulo 108- Redescobrindo o passado

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Olá pessoal. Mais um capítulo de Corações em jogo. Essa história também é muito especial para mim, principalmente por conta do amor de Anne e Gilbert que nunca deixou de ser um sentimento intenso apesar dos obstáculos e das separações. Espero que me deixem seus votos e comentários como incentivo. Muito obrigada por acompanharem essa história também. Beijos.

GILBERT

O envelope nas mãos de Gilbert pesava como chumbo. Ele respirou fundo, tentando não se deixar levar pelas lembranças do passado que arrasaram com suas crenças pessoais.

A imagem de Sarah sempre surgia em sua mente em momentos assim, e apesar de já terem se passado tanto tempo, Gilbert não conseguia se esquecer da dor de perdê-la de maneira tão covarde.

A enfermidade que ceifara a vida de Sarah era covarde. Ela simplesmente destruía tudo o que havia de mais positivo na vida de alguém, e o reduzia a nada, pois não era só o aspecto saudável do corpo que ela arrasava com suas garras maléficas, ela também roubava a energia, a paz, a alegria e por último a esperança, enterrando dessa forma todos os sonhos, um futuro, os planos, deixando para trás um rastro doloroso de corações quebrados e banidos deste mundo para sempre.

Gilbert não se sentia mais fracassado, pois Anne tivera um enorme trabalho em fazê-lo enxergar diariamente o quanto o seu ofício era importante, e que mesmo que algumas batalhas fossem perdidas, muitas outras eram ganhas justamente por seu esforço em lutar por um paciente até a última gota de suor em seu rosto. No entanto, a mágoa de Sarah ter partido tão cedo ainda estava lá em sua mente, muito bem escondida na maior parte do tempo, porém, em momentos assim, o rapaz não podia deixar de senti-la em seu coração.

Ele olhou mais uma vez para o envelope, tomou coragem e o abriu. Os resultados dos exames de Bertha após o início do tratamento tinham chegado, e esperava que fossem melhores do que os primeiros. Gilbert sabia que não operaria nenhum milagre ali. Ele não tinha esperanças de salvar a vida de Bertha, mas, prolongá-la por mais algum tempo talvez fosse possível.

Gilbert tinha a muito despido sua capa de super homem que ele pensar ser um dia quando se tornara médico. Ele acreditara que tinha todo o poder nas mãos de resgatar almas perdidas da morte, e agora sorria de sua própria ingenuidade. O diploma em sua parede atestava o que ele era, um homem da ciência, formado em medicina, um cirurgião com muitos outros, e sem nenhum poder especial.

Ele era bom do que fazia porque amava sua profissão, mas, sabia que não tinha a frieza necessária para ver um paciente como um caso qualquer em sua lista, o qual deveria tratar sem envolver seu coração. Muitos de seus colegas de profissão conseguiam separar a medicina de seus sentimentos pessoais, mas, talvez a criação que se pai lhe dera, os princípios que ele o ensinara tivessem tornado-o sensível demais para não se importar.

Devagar, ele desdobrou a folha fina de papel que trazia com ela o destino de uma mulher que errara muito, não por desejo próprio, mas pelas circunstâncias que a levaram a abandonar sua filha de quem não se aproximara por anos. Gilbert não conseguia ver Bertha pelo mesmo prisma que Anne, embora também não a isentasse do sofrimento que causara a sua esposa. No entanto, ele achava injusto que a pobre mulher também tivesse que pagar com sangue por algo que a própria vida lhe impusera. Anne ainda não a perdoara, e Gilbert não conseguia ver quando isso aconteceria, embora a ruivinha tivesse mudado um pouco sua atitude em relação à mãe. Ela não mais se referia a Bertha como "aquela mulher", mas tampouco a chamava de mãe. Era um avanço, se ele pensasse em todas as coisas ofensivas que ouvira Anne dizer sobre Bertha

Qualquer pessoa que conhecesse a natureza doce de sua esposa, estranharia essa sua postura rancorosa em relação ao seu passado, mas, ninguém conhecia suas cicatrizes como ele, ou a tinha visto chorar como ele vira nos últimos dias, por não conseguir seguir em frente e apagar de suas lembranças o abandono que sofrera. Gilbert pensava que se ela conseguisse perdoar sua mãe biológica e deixar para trás todas as suas mágoas em relação a ela, Anne seria muito mais feliz, mas, ele não se sentia no direito de lhe dizer nada, ou mesmo explicar seu ponto de vista, porque o fardo que ela carregava era grande demais, e eventualmente iria diminuir se Anne assim o permitisse com o passar do tempo.

Anne with an e- Corações em jogoWhere stories live. Discover now