Olá pessoal. Mais um capítulo de Corações em jogo. Essa história também é muito especial para mim, principalmente por conta do amor de Anne e Gilbert que nunca deixou de ser um sentimento intenso apesar dos obstáculos e das separações. Espero que me deixem seus votos e comentários como incentivo. Muito obrigada por acompanharem essa história também. Beijos.
GILBERT
O envelope nas mãos de Gilbert pesava como chumbo. Ele respirou fundo, tentando não se deixar levar pelas lembranças do passado que arrasaram com suas crenças pessoais.
A imagem de Sarah sempre surgia em sua mente em momentos assim, e apesar de já terem se passado tanto tempo, Gilbert não conseguia se esquecer da dor de perdê-la de maneira tão covarde.
A enfermidade que ceifara a vida de Sarah era covarde. Ela simplesmente destruía tudo o que havia de mais positivo na vida de alguém, e o reduzia a nada, pois não era só o aspecto saudável do corpo que ela arrasava com suas garras maléficas, ela também roubava a energia, a paz, a alegria e por último a esperança, enterrando dessa forma todos os sonhos, um futuro, os planos, deixando para trás um rastro doloroso de corações quebrados e banidos deste mundo para sempre.
Gilbert não se sentia mais fracassado, pois Anne tivera um enorme trabalho em fazê-lo enxergar diariamente o quanto o seu ofício era importante, e que mesmo que algumas batalhas fossem perdidas, muitas outras eram ganhas justamente por seu esforço em lutar por um paciente até a última gota de suor em seu rosto. No entanto, a mágoa de Sarah ter partido tão cedo ainda estava lá em sua mente, muito bem escondida na maior parte do tempo, porém, em momentos assim, o rapaz não podia deixar de senti-la em seu coração.
Ele olhou mais uma vez para o envelope, tomou coragem e o abriu. Os resultados dos exames de Bertha após o início do tratamento tinham chegado, e esperava que fossem melhores do que os primeiros. Gilbert sabia que não operaria nenhum milagre ali. Ele não tinha esperanças de salvar a vida de Bertha, mas, prolongá-la por mais algum tempo talvez fosse possível.
Gilbert tinha a muito despido sua capa de super homem que ele pensar ser um dia quando se tornara médico. Ele acreditara que tinha todo o poder nas mãos de resgatar almas perdidas da morte, e agora sorria de sua própria ingenuidade. O diploma em sua parede atestava o que ele era, um homem da ciência, formado em medicina, um cirurgião com muitos outros, e sem nenhum poder especial.
Ele era bom do que fazia porque amava sua profissão, mas, sabia que não tinha a frieza necessária para ver um paciente como um caso qualquer em sua lista, o qual deveria tratar sem envolver seu coração. Muitos de seus colegas de profissão conseguiam separar a medicina de seus sentimentos pessoais, mas, talvez a criação que se pai lhe dera, os princípios que ele o ensinara tivessem tornado-o sensível demais para não se importar.
Devagar, ele desdobrou a folha fina de papel que trazia com ela o destino de uma mulher que errara muito, não por desejo próprio, mas pelas circunstâncias que a levaram a abandonar sua filha de quem não se aproximara por anos. Gilbert não conseguia ver Bertha pelo mesmo prisma que Anne, embora também não a isentasse do sofrimento que causara a sua esposa. No entanto, ele achava injusto que a pobre mulher também tivesse que pagar com sangue por algo que a própria vida lhe impusera. Anne ainda não a perdoara, e Gilbert não conseguia ver quando isso aconteceria, embora a ruivinha tivesse mudado um pouco sua atitude em relação à mãe. Ela não mais se referia a Bertha como "aquela mulher", mas tampouco a chamava de mãe. Era um avanço, se ele pensasse em todas as coisas ofensivas que ouvira Anne dizer sobre Bertha
Qualquer pessoa que conhecesse a natureza doce de sua esposa, estranharia essa sua postura rancorosa em relação ao seu passado, mas, ninguém conhecia suas cicatrizes como ele, ou a tinha visto chorar como ele vira nos últimos dias, por não conseguir seguir em frente e apagar de suas lembranças o abandono que sofrera. Gilbert pensava que se ela conseguisse perdoar sua mãe biológica e deixar para trás todas as suas mágoas em relação a ela, Anne seria muito mais feliz, mas, ele não se sentia no direito de lhe dizer nada, ou mesmo explicar seu ponto de vista, porque o fardo que ela carregava era grande demais, e eventualmente iria diminuir se Anne assim o permitisse com o passar do tempo.
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Anne with an e- Corações em jogo
FanfictionAnne Shirley Cuthbert foi abandonada ao nascer em um orfanato por sua mãe biológica, mas ela nunca deixou de acreditar que sua vida mudaria. Aos nove anos de idade foi adotada por dois irmãos que a amaram desde o primeiro momento, e a levam para mor...