MINHA SALVAÇÃO (Concluído)

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Desde criança eu sou conhecida como a menina moleca, que não tinha papas na língua e falava tudo que vinha a cabeça, mas também, tendo que conviver com três irmãos mais velhos, eu precisei desenvolver uma forma de me proteger ou acabaria sendo a bonequinha quebrável que todos achavam que eu era.

Meus irmãos falam que sou literalmente uma força da natureza, pois até para nascer eu forcei o curso natural da vida, já que minha mãe havia feito uma laqueadura, porém foi realizado com o processo de amarras das trompas, no entanto 15 anos depois eu nasci. Segundo o médico obstetra dela, as amarras se soltaram, um processo raro, mas não impossível de acontecer e aqui estou, linda, leve, plena e maluquinha.

Agora imagina o susto que Dona Leonora aos 42 anos e o Senhor Juvenal com 44 anos, tiveram em saber que a menina que eles tanto desejaram estava a caminho? Pois é, estão vendo: Eu precisava nascer para balançar minha família, e claro deixar meus irmãos Tarcísio que já tinha 20 anos, Murilo de 17 anos e Diego com 15 anos desorientados da cabeça. E quando fui ficando mocinha, nossa eu aprontei muito com eles, e já os peguei em cada situação que nunca vou esquecer.

Maio de 2004

– Milena, vai chamar seus irmãos que o almoço está quase pronto e Tarcísio está chegando com Laura. – Minha mãe grita da cozinha enquanto eu tentava fazer meu dever de casa.

– Já vou mamãe. – Deixa meu caderno e lápis na mesinha de centro da sala e sigo saltitando escada acima, em direção ao quarto dos meus irmãos, entrando primeiro no quarto do Murilo e como sempre, estava falando o telefone com sua namorada chata.

– O que foi Mila, porque você está aí parada me olhando? – Ele pergunta logo que encerra a ligação e vem me pegar no colo, eu adoro o carinho dos meus irmãos.

– Você estava falando com a chata da Letícia de novo? – Falo querendo descer, ele não vê que já tenho 10 anos e não precisa me pegar mais no colo.

– Mila, a Letícia é minha namorada e não é chata e ela gosta muito de você. – Ele fala e reviro os olhos, gosta é nada, ela fica louca para eu ir dormir pra ficar se agarrando com ele na sala que eu já vi. – E você não veio aqui para saber com quem eu estava falando não é mesmo?

– A mamãe tá chamando para almoçar e falou que o irmãozão está chegando com a Laurinha.

– Certo, pequena, agorinha eu desço. – Eu o ouço falar enquanto já caminho para o quarto do Diego, mas quando eu abro a porta e entro sem bater, vejo meu irmão no telefone com uma mão dentro dos shorts, eu hein, que menino doido, mas ele se assusta a me ver.

– Sai daqui sua pirralha, quantas vezes eu já falei para não entrar no meu quarto sem bater. – Vixi ele tá mesmo bravinho.

– Pirralha nada Didi, que culpa eu tenho se você é doido, a mamãe mandou te chamar para almoçar.

Saio do quarto dele enquanto ele reclama e eu volto rindo desse maluco. Credo, eu não fiz nada, quem manda não trancar a porta.

E depois disso já peguei muitas atrapalhadas deles, até que foram se casando e saindo de casa. Amo muito meus irmãos, mas sempre precisei enfrentar eles para não mandarem em minha vida e com o tempo perceberam que se eles poderiam fazer alguma coisa, eu também iria fazer, não era porque eu nasci mulher que iria ser a princesinha que cresceria numa redoma de vidro.