60 | The day (part I).

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| Capítulo narrado em 3° pessoa |
 
 
Nina e Adam se sentaram no meio fio, de frente para a infeliz avenida. Muitos carros passavam por ali.

⠀⠀— Por que estamos aqui? — Ela engoliu a seco.

⠀⠀— Porque está fingindo que nada aconteceu desde que eu cheguei. — Adam suspirou, receoso. — Está em negação.

⠀⠀— Quero ir embora.

Nina estava apavorada, ao mesmo que indiferente. Tentou, desde que chegou em Londres, ignorar a morte de seu pai. Os dias se aproximavam e essa negação parecia impossível, mas ela se sentia vitoriosa. E por mais que achasse que isso seria melhor para ela, Nina estava quebrada e desnorteada.

⠀⠀— Não pode fingir, Nina. Tem que aceitar a realidade. — Adam segurou a sua mão.

⠀⠀— Não ligo mais para isso. Eu não ligo que são seis anos. — Ela disse friamente.

⠀⠀— Entrar em estado de negação seis anos depois? Para quê? Para se ferir mais?

⠀⠀— Eu não quero falar sobre isso. — Seu olhar era distante. — Foi ali que eu vi o corpo dele. Bem ali, perto daquele carro vermelho ali. — Ela apontou. — Ele estava morto quando eu o encontrei. O corpo inerte... eu não acreditei. Foi difícil, Adam. Eu passei seis anos da minha vida assim. Eu quero apagar essa imagem da minha mente. Quanto mais velha eu fico, mais clara a imagem se parece, e mais distante meu pai está. Eu não quero falar, ouvir, pensar. Seis anos. Eu quero abstrair a lembrança. Quero fingir que nunca aconteceu e eu quero que você respeite isso.

⠀⠀— Não é saudável. Não é bom para você. — Adam suspirou.

⠀⠀— E a minha forma de lidar com isso até hoje foi? Não, não foi. Nós podemos andar pela cidade e fazer qualquer coisa, mas eu não quero lembrar dele. Não hoje, ou amanhã ou o resto da minha vida.

⠀⠀— Tem certeza disso? — O coração de Adam doía ao dizer.

Era difícil estar ali pela primeira vez, mas ele sabia a importância que encarar o local tinha. Ele amadurecera o suficiente para isso; para não chorar e reconhecia seu esforço por isso. Nina também reconhecia, mas ela não conseguia encarar a avenida da mesma forma que ele.

⠀⠀— Sim. — Ela assentiu, desviando seu olhar do carro vermelho e encarando o chão.

⠀⠀— Eu amo você. Quando e se quiser falar sobre isso, eu estarei aqui. — A mão de Adam levantou seu queixo para que ela pudesse olhar em seus olhos.

⠀⠀— Eu sei. Obrigada por isso. Eu te amo. — Ela o beijou.
 
 
(...)
  
 
Adam e Nina dormiram no sofá e seus pais no quarto de Nina. A jovem deitou-se sobre o corpo do namorado, mas perante as circunstâncias, nenhum dos dois conseguiu dormir de fato. Adam acordava de vinte em vinte minutos, mas Nina nem ao menos fechou os olhos. Tori avisou à escola que Nina não iria no dia em questão, terça-feira, então Adam achava que ela provavelmente dormiria à tarde. Entretanto, ela pareceu passar a madrugada remoendo os acontecimentos dos últimos anos na sua cabeça.

Pela manhã, Nina retirou o cobertor de seus corpos, levantou-se e cobriu. Adam sentiu um vazio e sentou-se sobre o sofá. Era cerca de seis da manhã, e o sol ainda estava raiando, e Adam a estava observando ir naturalmente a cozinha. Ela coçou os olhos e buscou uma cápsula de café na gaveta do armário da cozinha. Ela suspirou impaciente, à espera do café ficar pronto. Olhava para os seus pés cheios de bolhas, joanetes ressaltados, unhas destruídas, arranhões. Ela fazia isso todas as manhãs. Sempre levantava cedo, fazia o café e esperava ficar pronto enquanto olhava para os seus pés. As vezes fazia ponta e meia-ponta para ver se seu arco-de-pé estava bonito o bastante para uma bailarina de dezessete anos.

O Silêncio Entre Nós Onde as histórias ganham vida. Descobre agora