Capítulo 42

16 3 0
                                    

Já estava no final do quarto mês de gestação, estava me sentindo bem, sentia falta do Antony, do meu filho Brayan, estavam sempre viajando, vivo preocupada, ainda mais com esses ataques terroristas que ouço todas as noites nos jornais, morro de medo que algo aconteça com eles. Fazia uns quinze dias que eles tinham viajado. Antony liga para eu ir ao Rio de Janeiro, ele faria um show no próximo sábado, queria que eu estivesse lá para vê-lo, e que estava com saudades. Resolvi ir na sexta-feira queria fazer uma surpresa. Cheguei ao Rio ainda de manhã, peguei um táxi e fui para seu AP, chego, toco a campainha, e nada, ninguém abre a porta, desço para a portaria, pergunto para o Daniel se o Antony tinha chegado, disse que não, mesmo assim entregou a chave reserva para mim. Entro no AP, impecável como sempre, muito limpo e organizado com cheirinho de limpeza, vou para a cozinha, abro a geladeira, estava cheia, frutas, iogurtes, leite; abro o freezer do duplex, encontro sorvete, pego o pote e vou para a sala, ligo a TV, sento no sofá, fico entretida com o filme que nem vejo as horas passarem, ouço alguém tentando abrir a porta do AP, me assusto, levanto rapidamente e vou para a cozinha guardar o pote de sorvete. Se o Antony me visse comendo sorvete de almoço, me xingaria, estou até vendo. Volto para a sala, vejo o trinco da porta sendo forçado para cima e para baixo com força. Vou olhar no olho mágico, e vejo dois rapazes, com bonés e óculos escuros tentando abrir a porta. Pego o telefone e ligo para a portaria.

–Daniel, tem dois rapazes aqui tentando abrir a porta do AP, chame a polícia, rápido, eles vão entrar aqui, estou com medo. Desligo o telefone com um baque, eu mesmo poderia ter ligado, mas não lembrava os números, 199, 192, sei lá, dane-se, eu não lembrava mesmo, estava com medo, fiquei imaginando mil e uma coisas, e cada vez que via a fechadura da porta sendo forçada, dava um arrepio, vou para a sacada, até isso eu fiz, olho para baixo, vejo se a polícia chegou, nada, volto para a cozinha, pego uma colher de pau, vou para a porta e começo a bater com força, ouço eles correrem, olho no olho mágico, não tinha mais ninguém, me escoro na porta e vou descendo até sentar, começo a chorar, ouço batidas na porta, levanto assustada, olho através do olho mágico – era o Daniel. Abro a porta e pulo no pescoço dele.

– Graças a Deus a senhora está bem, a polícia conseguiu prendê-los, estavam em quatro, dois homens aqui e dois no carro, tinha percebido algo de errado com aqueles dois homens no carro, mas esses dois não. Não sei como entraram, não os vi passarem na portaria, não vou me perdoar por isso.

Soltei meus braços do pescoço dele, ainda tremendo e chorando, falo meio soluçando.

– Você não tem culpa, Daniel.

– Você está aqui sozinha – perguntou ele.

– Si...im, ache....achei que o An...Antony es...tivesse aqui.

– Calma, sente-se aqui – levou-me até o sofá. – Vou preparar água com açúcar para você, quando você estiver calma vamos ligar para ele está bem.

– Sim.

Ele foi até a cozinha, trouxe um copo enorme, cheio de água doce, quase morri de ânsia, estava até a goela de sorvete, e agora um copo cheio de água doce, dei uns dois goles, não conseguia beber mais.

– Toma tudo, vai fazer bem – diz ele –, vai acalmá-la – ele insistia.

– Não, obrigada, já estou melhor. Vou ligar para o Antony.

– Deixe, eu ligo, tomou o telefone das minhas mãos. Começou a digitar os números. – Ninguém atende, está na caixa postal, deve estar desligado ou fora de área – falou Daniel. – Tenho que descer, você vai ficar bem aqui, sozinha? – Perguntou.

– Sim Daniel, obrigada por tudo, pode ir, vou ficar bem, qualquer coisa ligo pra você.

– Tudo bem, vou tentar ligar para o senhor Antony, se conseguir, aviso, tranque bem a porta.

Acompanho ele até a porta, tranco bem, coloco uma cadeira embaixo da fechadura para não forçar, volto para o sofá, me sinto perdida. Eu, tentando fazer uma surpresa, e a surpreendida sou eu. Vou para o seu quarto, abro a porta, está escuro, ligo a lâmpada, ligou do teto e dos abajures, dou três cliques, vou a janela, puxo as cortinas para a claridade entrar, olho ao redor do seu quarto, é maravilhoso, com cama king, uma cômoda com uns porta-retratos da família e uns perfumes, não reparei quando estive aqui, pego um perfume e passo no meu braço, é cheiro de Antony, vou para seu closet e abro as portas, tem camisas das mais variadas cores; e ternos, nem se fala, todos de marcas, bem-arrumados, das cores escuras para as cores mais claras, sapatos e tênis, dava para montar uma loja, vou ao banheiro, olho para a banheira, encho ela de água, sais de banho, tiro minhas roupas e entro, a sensação é maravilhosa, nunca tomei banho de banheira, estava no céu, então o sono bateu, tive que abandonar a água, sequei-me e vesti o roupão do Antony e deitei na sua cama, o travesseiro tinha seu perfume, era tudo tão macio, e aconchegante que durmo no mesmo instante. Acordo, são 10h. da manhã, é sábado, como dormi tanto, estava morrendo de fome, tomei café e fui tomar uma ducha, mas antes olhei se tinha alguma mensagem do Antony, graças a Deus tinha uma.

"Querida, te amo, e amo também nossos filhos, nunca se esqueça disso. Tem uma caixa para você no meu closet, use hoje à noite, te amo."

Volto para o closet, pego a caixa e abro, dentro tem um vestido branco, primeira olhada não me agrada, parecia tão desproporcional ao meu corpo, duvido que eu caiba dentro dele. Então, eu provo o vestido branco, era transparente nos lugares certos, cintura alta, e acima do joelho, com umas pontas esvoaçantes caindo no comprimento das minhas pernas, parecia feito sobre medida, fiquei bem nele, minha barriga já estava saliente, calço os sapatos prata de salto que estavam juntos com o vestido, eram confortáveis, arrumo meus cabelos, uma maquiagem para a noite, estava pronta, pego minha bolsa e desço até a portaria.

– Boa noite, Daniel.

– Boa noite, senhora, está muito bonita, quer que chame um táxi.

– Sim, obrigado, conseguiu falar com o Antony Daniel?

– Não, senhora.

– Estou preocupada, Daniel, vou até a boate, nós combinamos de nos encontrarmos lá, mas se ele chegar aqui, avise que já estou esperando.

Tentei ligar, estava sempre fora de área ou desligado, a noite chegou e nada de eles aparecerem, vou ter um treco se não souber o que está acontecendo. Mesmo não sendo hora de ir à boate, pego o táxi e vou, o trânsito estava horrível, ficamos uma eternidade no engarrafamento. Ligo para o Antony, não atende, o que está acontecendo, ligo para o Brayan, também não atende. Droga, por que não atendem ao telefone, mando mensagens, e nada de respostas? – Seus filhos da mãe, esperem só até eu colocar minhas mãos em vocês. Até que enfim chegamos à boate, desço do táxi, pago a corrida, e entro na boate, a casa estava não muito cheia, tipo umas 250 a 300 pessoas, ou mais, não conhecia ninguém, procuro por eles, não encontro, procuro por seus irmãos também não encontro, vou falar com o segurança, disse que não tinha os visto ainda. Sento em uma mesa perto da porta, assim veria se eles chegassem, a música começou, hora do show – pensei. Ouço no microfone chamarem por mim.

– Marcela, poderia vir até a frente do palco, por favor.

Desligaram as luzes, levantei, um facho de luz focou em mim, olho para o palco um telão com minha imagem, ando até lá, uma cadeira digna de uma rainha estava colocada em frente ao palco. – Sente-se, por favor. Sentei, meu coração já estava a mil, eu estava tremendo, alguém percebeu que eu estava ficando nervosa, trouxeram um copo de suco, bebi uns goles, respirei fundo, meus olhos encheram de lágrimas, quando fico nervosa, choro feito uma Maria Madalena. Então as luzes do palco faram ligadas e começou a música Na Linha do Tempo, de Victor e Léo. Então, Antony entra cantando, sempre olhando para mim. Ouço as mulheres suspirando por ele.

Há Quanto Tempo Esperava Encontrar Alguém AssimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora