Capítulo 28

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Fiquei no quarto, parada feito uma estátua, e aquele homem maravilhoso nem se despediu, já estava chorando. Então ele entrou correndo, me abraçou, cobriu minha boca com a sua. – Prometo ligar para você, não se esqueça de mim, eu não vou me esquecer de você, beijou-me novamente, deixe as chaves com a Júlia. Addios amore mio.

Addios bello, ragazzo.

– Foi tão bom conhecer você, Marcela.

– Igualmente, agora vai ou o avião vai sem você, gostosão, se cuida beijei seu rosto.

– Não chore se não vou ficar.

– Ia adorar que você ficasse, pode ir, vou ficar bem, sério.

Acompanhei Antony até o táxi, beijou-me novamente, entrou no táxi, acenou para mim, e comecei a chorar.

– Droga, se vê que alegria de pobre dura pouco, quando está feliz com alguma coisa ou ela quebra, morre ou vai embora, o que vou fazer sem você, sorriso lindo, subi para o AP, sentei no banquinho perto da geladeira.

– Júlia, faz tempo que você trabalha para o Antony?

– Sim, uns 12 anos, acho.

– Sério!

– Sim.

– Conheceu a mulher dele?

– Sim.

– Era bonita?

– Muita bonita.

– Eles viviam bem como casal.

– Não, ela era muito ruim com Antony, exigente demais, não sei como ele aguentava. Ele é tão querido.

– Eu sei, ele nem me conhecia, convidou para ficar aqui no AP.

– Fazia tempo que não o via tão feliz como esses dias.

– Verdade?

– Sim, de uns tempos para cá, ele só trabalha e viaja.

– Você conhece a família dele, onde moram?

– Sim, o pai mora no Mato Grosso do Sul, o Márcio, na Bahia, é dono de vários restaurantes, José estuda veterinária aqui no Rio.

– Você conhece a Jaqueline?

– Essa é outra que não presta, vive dando em cima do Antony, ele não quer nem saber dela, então ela corre atrás do mulherengo do Márcio.

– Então quer dizer que a poodle gosta do Antony?.

– Sim, mas ele não a quer nem pintada de ouro.

– Sabe se ele tem namorada?

– Não, nunca o vi com mulheres, para mim ele virou gay.

– Só você mesmo, Júlia, vou arrumar minhas coisas, que também vou para casa.

– Quer almoçar antes de sair, Marcela?

– Não, como alguma coisa no aeroporto, obrigada por tudo, Júlia, desculpa pelo trabalho, aqui a chave, voltei para o meu quarto, arrumei minha mala, saí para a sala, abracei Júlia, vou sentir saudades daqui, olhei ao redor. – Mande um abraço para o Antony, se você ver ele logo, diz que estou esperando a visita dele. Meu celular apitou uma mensagem.

Marcela. Sei que está no meu AP ainda, já estou com saudades, quando vamos nos encontrar novamente para dançar?

– Tem certeza que é só para dançar – digito de volta.

Pode ter certeza que não, o que vou fazer sem você?

– Não sei, mas dançar seria uma ótima ideia, ainda mais um show de striper particular.

Essa música é para você lembrar-se de mim (Right Here Waiting), vou te esperar, agora vou desligar, tenho que embarcar, beijo, não se esqueça de mim, por favor, vou te procurar assim que voltar, tem um presente para você embaixo do travesseiro, na minha cama, use e lembre-se de mim. Desligou o celular, e olhei para a Júlia.

– Já volto, subi correndo as escadas, entrei no quarto, lá estava a caixinha preta embaixo do travesseiro. Peguei e abri, dentro havia uma gargantilha, com um pingente em forma de coração com rubis vermelhos cravejadas, que fofo, saí correndo para a sala.

– Olha o que o Antony me deu, Júlia, ajude-me aqui, por favor.

– É linda, Marcela.

– Também gostei, nunca tive uma gargantilha – disse com lágrimas nos olhos.

– Ele parece gostar da senhora, nunca o vi tão feliz como esses dias.

– Ah, Júlia, por que tem que ser assim? A gente demora tanto para achar alguém, quando encontra não podemos ficar juntos.

– Sei lá, filha, mas se é para acontecer, vocês vão se encontrar novamente, o mundo é pequeno, filha.

– Obrigada Júlia, beijei seu rosto, chamei um táxi, desci para esperar. Vi Júlia ir embora pra casa, o táxi chegou. No momento em que estávamos colocando minhas coisas dentro da porta mala, passou dois pivetes e levaram tudo, fiquei com as mãos abanando, fiquei mais perdida que cachorro quando cai da mudança, sentei na calçada chorando, desesperada, o taxista chamou a polícia, mas não encontraram nada.

– O que vou fazer, como vou para casa? Fiquei somente com as roupas do corpo, passo a mão no meu pescoço, a minha gargantilha havia sumido. Acompanhei os policiais até a delegacia, para o boletim de ocorrência de roubo dos documentos. Mandei fazer as segundas vias dos documentos.

– Vai demorar um mês para ficarem prontos – disse um policial.

– Não tenho dinheiro, não tenho onde ir dormir, sentei no sofá chorando. – Droga, não tenho nada.

– De graças a Deus que você está com vida – disse um policial. – Dinheiro e documentos se recuperam, mas a vida, nunca mais.

– Eu sei, mas eu tinha um voo para pegar e ir para casa, tenho que avisar minha família, poderia emprestar o telefone, preciso falar com meus filhos. Contei que fora assaltada que ficaria um mês no rio até arrumar meus documentos, disse para cuidarem-se, e que estava com saudades. Desliguei o telefone, uma mulher que trabalha na delegacia mandou esperar até ela sair do trabalho. Levou-me para a pizzaria de seu irmão e contou a minha situação.

– Olha, se você quiser trabalhar, pode ser pra gora, daqui a pouco isso vai bombar, estou com poucos funcionários.

– Agora! Só que não tenho onde dormir.

– Tem um quartinho nos fundos, você pode dormir lá por esse mês.

– Obrigada, seu João, e a senhora também dona Rita, se todas as pessoas tivessem coração tão bom igual ao de vocês, muita gente na minha situação estariam salvas, obrigada.

– Foi um prazer ajudar, menina.

– Obrigada pela menina, Rita, mas acho que sou mais velha que você.

– O quê? Acho que não, eu não sou tão jovem assim, tenho já meus trinta e poucos anos, falou rindo. – Bom. Tenho que ir, meus filhos esperam, boa sorte no trabalho, Marcela.

– Obrigada Rita.

– Mãos a obra, Marcela, tem um avental ali na cozinha, vai ver como os outros servem as mesas, para aprender. Uma hora de serviço já estava trabalhando igual aos outros, ou melhor, gostavam de perder tempo com conversa fiada, melhor para mim, quanto mais servia, mais gorjeta ganhava. Estava chegando o fim do mês, tinha que ir para casa, mas como se meu dinheiro não chegava para ônibus, resolvi pegar carona para casa.

– Seu João, poderia me avisar se algum entregador da minha região vier fazer entrega, poderia ir para casa junto de carona.

– Avisarei sim, mas os que entregam mercadorias pra mim vêm do Mato Grosso, daqueles lados.

– Igual, avise-me, Mato Grosso do Sul para a minha região é um pulo.

Há Quanto Tempo Esperava Encontrar Alguém AssimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora