Há Quanto Tempo Esperava Encontrar Alguém Assim

Capítulo 31

Nisso passa outro empregado em cima de um trator e grita.

– E daí, coisinha, vai ordenhar burro?

– Não, vou tirar leite-de-galinha, o que acha?

– Fica quieto, não caia na provocação dele, ele é um estúpido, não sei como o patrão não mandou embora ainda.

Trabalhei o dia todo na lavoura, cheguei em casa morta de cansada, tomei uma ducha, jantei e caí na cama, dormi tanto que parecia a bela adormecida, era meio-dia quando Ilda me chamou.

– Marcela, Marcela, acorde mulher, você não foi trabalhar, o Celso vai ficar louco com você.

– Ai, Ilda estou com sono, por que me acordar tão cedo?

– O quê? Já é meio-dia mulher, levante que eu trouxe os testes de gravidez.

– Pulei da cama. Caracas, já é meio-dia, o Celso vai me matar, saí correndo para o banheiro. Ilda, traga os testes que esqueci – gritei. Ficou azul, putz, positivo, gritei. – Ilda o que vou fazer?

– Sei lá, Marcela, tirar o bebê é que não, né!

– Por Deus, Ilda, nem brinque. Saí para trabalhar. Celso ficou de boca aberta com o que eu sabia fazer na lavoura, e com o gado.

– Mulher você, ops, homem você trabalha melhor que certos homens aqui.

– Gostou.

– Sim, e muito coisinha, de repente ele ficou sério, olhando bem para você, você não é homem e nem mulher, parece mesmo uma coisinha.

Dou outro soco no braço dele, mas agora foi com vontade. – Como foi, parece soco de uma coisinha.

– Ai! Doeu tá, se fosse no meu nariz tinha quebrado, espero que nunca faça isso.

Chegou à sexta-feira, estavam todos ansiosos, sábado tinha show de Victor e Léo, Celso e Ilda me convidaram para ir junto com eles, o problema é ir vestido de homem. O maravilhoso sábado chegou, não queria ir de jeito nenhum, mas fui obrigada, até que não foi tão ruim assim, tirando a zoeira do Celso comigo.

– Olha Marcelo, tem duas moças te azarando.

– Sério, Celso, nem vi. Fica no teu canto e pare de me zoar, cabeção, pode pegar as duas para você, já que não está com nada.

Não demorou muito Celso já estava enrolando as duas na conversa, falava com elas e olhava para mim e ria. Fiquei com dó da Ilda, tadinha, não suportava olhar para o Celso. Nunca tinha ficado tão nervosa, por ele não se importar com ela, juro que se ele chegasse perto de mim daria um soco no meio daquela cara bonitinha. E não é que ele veio mesmo para perto de mim, com as duas moças, todo assanhado, acho que ele estava bêbado.

– Marcelo, as meninas não tentarem nada com você, por que você é gay. – Disse Celso.

– O quê? Dei um sopapo em seu nariz, ele caiu no chão, não sei se foi pela força do meu soco ou a bebedeira. – Ai! Celso, que cabeça dura, droga, machuquei meu pulso.

Ele levantou meio cambaleando. – Por que você deu um soco em mim?

– Acha pouco me chamar de gay na frente das meninas, tenho que mostrar que sou macho – sussurrei para ele.

– Tá, mas precisava ser tão forte assim?

– Desculpa, quando vi você já estava no chão, me desculpe.

– Olha só, a coisinha nocauteou o Celso, quem diria – falou Ruben, gargalhando.

– Vamos para casa – disse Ilda sussurrando e pegando meu braço. – Vamos antes que o Celso e o Ruben briguem.

– Vamos, Celso, dê a chave da caminhonete que eu dirijo. Celso não teimou comigo, entregou a chave e entrou na caminhonete, se esparramando no assento, pegando todo o espaço.

– Celso, levante, quero sentar também, me ajude aqui, Marcela, a levantar esse doido, credo como pesa.

Levantemos, mas logo caiu no colo da Ilda. Começou falar baboseiras para ela. Ilda, eu amo você, quero casar com você, ter uns cinco filhos – continuou resmungando até dormir. – Caracas, tudo isso, falou Ilda, nos olhamos e começamos a rir. Dei partida na caminhonete e voltamos para casa, colocamos Celso na cama, deixei Ilda tirar suas roupas, esperei fora do quarto.

– Ilda, você gosta dele?

– Gosto, mas acho que ele ainda sente alguma coisa pela antiga namorada, não tenho chance.

– Sinto muito, Ilda, vocês formam um casal muito bonito, vamos dormir que estou acabada, amanhã a gente conversa, boa noite, Ilda.

– Boa noite, senhora.