Capítulo 2

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Um rapaz que sentou na poltrona ao lado, estava escutando música com fone de ouvidos enormes, vestia moletom preto com capuz sobre a cabeça, e óculos de aviador. Fiz a coisa mais absurda da minha vida; peguei sua mão, estava tão quente, apertei com tanta força, não soltaria nem se arrancassem meu braço fora, ele tirou o fone dos ouvidos, o capuz e os óculos, olhou para mim sorrindo, era lindo, aqueles de parar o trânsito, acho que estava babando, que vergonha, mas o medo falou mais alto àquela hora.

Toda sem jeito, pedi desculpas a ele.

– Desculpa. Você pode estar pensando que sou maluca. Confesso que nesse momento até eu estou me achando, posso segurar só por um pouquinho, por favor, só até o avião decolar.

– Não tem problema, pode apertar o quanto quiser.

Ele foi tão gentil, olhei para sua mão, estava roxa de tanto que eu apertava.

– Ah, desculpa. Não percebi que estava apertando tanto, estou com tanto medo, soltei um pouco. Ele sorriu, e perguntou:

– Senhora, é a primeira vez que voa?

Não gostei muito do senhora, mas fazer o que! Mesmo assim, fiquei remoendo meus pensamentos. Será que estou acabada assim, poxa, devo estar com aparência horrível! Tento um sorriso e respondo.

– Sim, estou achando péssimo, e morrendo de medo. Nunca viajei de avião, não vou de ônibus por que demora muito, e sacoleja como um barco ao mar, acho que eu morreria de tanto enjoo nos primeiros quilômetros. Bufei. Eu estava péssima.

– Calma! A primeira vez é ruim, eu também já passei por isso, mas é só começar a voar que você nem vai perceber.

– Acho brabo. Resmunguei. Como não vou perceber que estou voando, se estou dentro do avião! Respirei fundo, mas não estava ajudando muito, uma mão apertava a mão do pobre rapaz, a outra batucava na poltrona, estava tentando pensar em qualquer música para me distrair, mas não vinha nada em minha mente, era até difícil pensar, que loucura.

Ele olhou para mim preocupado e falou: – Posso chamar a comissária de bordo para trazer um tranquilizante, assim você relaxa, até chegarmos ao Rio de Janeiro.

– Não precisa, já estou melhor. De repente, sinto meu estômago embrulhar; assim que levanto da poltrona, vou correndo, coloco para fora até os bofes. Volto para a poltrona e sento, estava pálida, com os olhos vermelhos, e tremendo. Olha para mim, pega minha mão, desliza a dele sensível por sobre a minha, sinto minha pele arrepiar.

– Nossa! Suas mãos estão completamente frias! Você está pálida. Moça, traz um suco ou água aqui, por favor, chamando a comissária de bordo.

– Não precisa, estou bem.

A comissária chegou com o suco, e entregou a ele.

– Não senhora! Você está mal, está pálida e tremendo, suas mãos estão geladas, beba esse suco, se não vai te dar um troço mulher, bebe, vai se sentir melhor vai ver.

Peguei o copo de suas mãos devagar para não derrubar de tanto que tremia. – Obrigada, bebo o suco devagar para não correr para o banheiro novamente.

Então ele diz rindo.

– Mulher, você está horrível! Sério mesmo, nunca vi alguém ter tanto pavor de avião, achei que era ceninha só para você segurar as minhas mãos.

– Ah, Ah, ah, engraçadinho, até parece que eu faria ceninha só para pegar as suas mãos, por favor. Sei que sou horrível, meu ex-marido sempre achou isso, franzi a testa. Será que piorei?

Ele ri de mim, deve pensar que sou doida.

– Bom! Falou ele, acho que já está melhor, está fazendo piadinhas.

Fomos avisados para colocarmos o cinto para a decolagem. – Santo Deus, acho que vai me dar aquele troço que você falou.

Ele viu minha aflição, colocou sua mão sobre a minha. – Fique calma, não vai acontecer nada, é só fechar os olhos e pensar em algo bom.

– Acho difícil pensar em algo bom agora! Fechei os olhos, sentia sua mão quente sobre a minha, suave e macia, tentando me acalmar. Nunca senti uma mão tão macia assim, seu toque era tão suave, deslizava seus dedos entre os meus. Passou um filme em minha mente. Por que meu ex-esposo nunca se importou comigo? Merda! Só sei que deu vontade de chorar, apertei tanto meus olhos para ele não ver minhas lágrimas, nem percebi, já estava voando.

– Pode abrir os olhos agora, já estamos voando, está vendo, não é tão ruim assim – disse rindo.

Há Quanto Tempo Esperava Encontrar Alguém AssimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora