Capítulo 33

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Desci para a portaria, todos me olhavam, o que uma mulher fazia vestida de homem e suja pra burro, parecia que tinha acabado de sair de dentro de um buraco de tanta terra nas roupas. Cinco horas intermináveis, seu Antônio saiu da sala de cirurgia. Internaram-no na UTI, para se algo grave acontecesse pós-cirurgia.

Estava conversando com o Doutor, Celso entrou correndo. – Marcela você está bem? E como ele está doutor?

– Está bem, a cirurgia foi um sucesso, ele ficará na UTI até amanhã.

– Meu Deus, Marcela, foi competir com tatu em fazer buraco que está suja assim? Vá para casa tomar banho e descansar, eu passo a noite aqui com o senhor Antônio.

– Avisaram os filhos? – Perguntou o Doutor.

– Sim, amanhã eles chegam.

Levantei e apaguei, quando acordei estava na enfermaria em observação, a enfermeira entrou mediu minha pressão.

– O que aconteceu que estou aqui?

– Você está grávida, teve muita sorte de não perder o bebê.

– Por quê? O que aconteceu?

– Você desmaiou, e teve começo de aborto, mas agora está bem. Daqui a pouco vão levá-la para um quarto, seu esposo foi para casa buscar roupas para você. Comecei a rir, coitadinho do Celso, meu esposo, não tem mulher e tem que se preocupar com as dos outros. Escutei bater à porta.

– E dai como que esta a futura mamãe?

– Bem, e meu esposo onde está?

– Que esposo?

– O Celso, a enfermeira falou que meu esposo foi buscar minhas roupas.

Ilda ri. – Coitado do Celso, está ficando louco com você e o patrão.

– Não queria dar trabalho para ele, e daí como vocês dois estão?

– Se ajeitando, ele hoje estava todo carinhoso, e o bebê, como está?

– Quase o perdi, deve ser um carrapatinho, passei minha mão sobre meu ventre, como está seu Antônio?

– Bem melhor, amanhã vão transferi-lo para um quarto, daqui a pouco vamos para casa, chegaram os filhos e vão passar a noite aqui com ele.

– Bom para ele, sabe Ilda, fiquei com tanta pena dele; enquanto olhávamos os campos, parecia que seria a última vez que olhava suas terras, querido, velho, sozinho, e teimoso feito burro.

– Antony briga muito com ele por ser teimoso.

– Seu Antônio tem um filho que se chama Antony?

– Sim.

– Que coincidência né, Ilda. Falo meio alto para ela entender que mentiram para mim.

– Eu que o diga, estou indo, Marcela, daqui a pouco o Celso chega com suas roupas.

– Obrigada, Ilda, por estar aqui, estava me sentindo sozinha, amanhã vem de novo, por favor.

– Sim, senhora, posso trazer alguma coisa para você comer?

– Sim, umas frutas, não está parando nada no meu estômago.

– Está bem, até amanhã.

Celso trouxe minhas roupas, tomei uma ducha caprichada, deitei e dormi. Acordei com o barulho dos carrinhos que entregam o café da manhã, que fome, meu café eram três biscoitos água e sal, uma fatia de pão torado com geleia, comi, mas rapidamente fui ao banheiro.

O médico passou no meu quarto, disse que eu estava bem. Perguntei se poderia ir ver o senhor Antônio.

– Sim, mas cuidado com o soro.

– Sim, obrigado, saí quase correndo do meu quarto, abri a porta. – Posso entrar, falei baixo enfiando a cabeça dentro do quarto, seu Antônio fez sinal para chegar perto.

– Como o senhor está, dormiu bem?

– Fale baixo, meu filho está dormindo. Não muito, fiquei preocupado, como você está?

– Estou bem.

– Por que não me contou que estava grávida?

– Fiquei com medo que o senhor me mandasse embora, e também soube essa semana.

– Sabe quem é o pai?

– Claro que sei, seu Antônio, está achando que eu tenho relações sexuais com todo mundo.

– Não é isso, filha, eu quero saber se ele sabe da sua gravidez.

– Não, e também não vai fazer muita diferença se ele ficar sabendo.

– Mas ele tem que saber, vai ter que assumir o filho.

– Seu Antônio, não é bem assim, hoje em dia um filho não segura ninguém, o pai assume se quiser, não é obrigado, e tem mais, se eu contar para o senhor, nem o senhor vai acreditar em mim.

– Conte, que vou dar meu veredito.

– Bom, o pai do meu filho não é fértil, e estou grávida de um filho dele, não é inacreditável? Pense comigo, como ele vai acreditar que estou grávida, mostrou-me o exame de espermograma que ele fez, era negativo, por isso não poderia estar grávida, mas aqui estou eu, gravida, o médico falou que eu tive ameaça de aborto, e não aconteceu nada, deve ser um carrapatinho, esse neném. Olha, seu Antônio, estou num mato sem cachorro, sento-me na cadeira, como vou chegar em casa e falar para o meu pai, não sou mais uma adolescente, sou uma quarentona, uma trepada e estou grávida de um homem que não pode ter filhos, seu Antônio, me promete uma coisa.

– O que, filha?

– Fica longe de mim você também.

– Mas, por quê?

Falei rindo. – Por que engravido só com o cheiro de homem.

– Só você mesmo, filha, para me dizer isso, vou ajudar você com seu bebê, vou gostar dele como se fosse meu netinho.

– Obrigado, seu Antônio, mas tenho que voltar para minha família, tenho duas figurinhas em casa para ver como estão, pode deixar que vou cuidar bem do bebê.

– E o pai do neném, olha meu filho que mora nos EUA também não pode ter filhos, mas se acontecesse de ele saber que teria um filho moveria céus e terra por ele.

– Esse é seu filho?

– Sim ele chegou de madrugada, por isso está dormindo, veio para cuidar de mim.

– E os outros que moram aqui, não chegaram ainda?

– Acho que não virão.

– Não se preocupe, seu Antônio, quando menos esperar, eles estarão aqui com o senhor.

– Bom dia – disse o doutor.

Levantei da cadeira. – Bom dia, doutor.

– Então a senhorita está aqui ainda?

– Já estou indo para o meu quarto, doutor.

Há Quanto Tempo Esperava Encontrar Alguém AssimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora