SALVA PELO CHEFE (COMPLETO)

INCOMPETENTE?

 'Ange'

Finalmente em meu apartamento e antes mesmo de ascender à luz me desfaço de meus sapatos e jogo minha bolsa onde sei que está meu bom e velho sofá vermelho e confortável. Depois com as luzes acesas olho para meu apartamento sempre bem organizado e espaçoso; minha sala tem piso de madeira clara e que modestamente mantenho impecável e é dividido em dois patamares o mais alto é onde fica o sofá e as poltronas floridas que ganhei de minha vizinha e amiga Christina que é uma excelente designer de interiores, ela as colocou de cada lado do meu sofá de frente para minha TV de tela plana que tive o capricho de comprar junto com a raque super moderna em preto e branco onde estão organizados todos meus filmes favoritos e alguns baseados em meus livros favoritos. No patamar mais baixo separado apenas por um degrau tenho uma imensa área livre que se pode dançar balé se quer saber e eu adoro isso, encostada a parede está minha estante de livros que já está cheia e também repleta de fotografias minha com Lance e Christina, as fotos estão organizadas em ordem cronológica começando de cima quando Lance e eu tínhamos apenas três anos e brincávamos no jardim de sua casa com bambolês até a última de umas duas semanas atrás quando estávamos no Central Park comendo pretzels, nós estávamos colocando um na boca do outro quando um senhor tirou a foto e nos ofereceu por dois dólares e claro que com o coração mole que Lance tem e o meu medo com o que aquele senhor faria com a fotografia, pagamos e colocamos ela em um porta retrato cheio de carinhas de humores diversos, sorri ao me lembrar que Lance me arrancou de casa naquele dia e me levou pra dar uma volta por Manhattan, me sinto tão menos quebrada quando vejo o quanto Lance se preocupa comigo, mas já ta na hora dele fazer mais da vida do que cuidar de mim tá na hora dele cuidar de si mesmo e ser feliz!

Enquanto olho para mais algumas fotografias, sinto uma estranha sensação de que algo não está certo, o que me incomoda e me deixa apreensiva, é como se estivesse sendo observada e ao mesmo tempo sentia que as coisas não estavam em seus devidos lugares... será que alguém teria entrado aqui? Senti-me mal e com medo até.

Desci para o patamar mais baixo olhando tudo com mais atenção, os livros em cima de minha mesinha de leitura ao lado da estante estavam exatamente como deixei, a luminária de cabo móvel também estava como me lembro, às duas cadeiras de estofado florido estavam encostadas a parede como também deixei, olhei com mais atenção à organização dos meus livros na estante em ordem de minha preferência e nada estava errado, mas a sensação ruim não me deixava, olhei para meus quadros na parede oposta à estante estavam perfeitamente alinhados, os olhos escuros de Lance me observavam com carinho e ao seu lado a pintura de Christina com seus cachos escuros caindo em seus ombros numa bela e suave cascata moldando seu belo rosto fino com formosos lábios rosados num sorriso tímido e contido, seus olhos cinzentos estavam atentos a tudo enquanto sua franja caia livre por sua testa crescendo ao redor de seu rosto e ao lado uma pintura de Manhattan a noite... tudo estava perfeitamente em seu lugar... mas ainda parecia que havia algo...

Fui até meu aparador encostado à parede abaixo de meus quadros onde deixo minha pequena coleção de bailarinas de porcelana, que ganhei da mãe de Lance quando tinha dez anos, todas estavam em suas posições, algumas acompanhas por seus príncipes outras dançavam sozinhas... mas ainda nada fora do lugar, franzi a testa frustrada, fui até a sacada e tentei abrir as portas de vidro cobertas com cortinas marrom claro para ver se estavam destrancadas, mas estavam muito bem fechadas, respirei um pouco aliviada, mas por via das dúvidas peguei a chave em uma pequena gaveta na estante que até parece decorativa para ser mais seguro e abri as portas, o ar frio do anoitecer em Manhattan soprou em meu rosto jogando meus cabelos para trás, o som dos carros e das pessoas lá embaixo se tornou mais alto e de alguma forma tranquilizador, eu gosto do silêncio, mas o som do mundo lá fora me dá um certo conforto e segurança.

Saio em minha pequena, mas confortável, sacada onde tenho uma maravilhosa vista dos incríveis prédios da cidade e ainda um pequeno parque quase ao lado onde gosto de me sentar e ler às vezes... muito às vezes.