PRECISO FAZER SOZINHA

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'Já esteve apaixonada antes?

 'Não'

'Então como sabe que o ama?'

'Porque quando acontece, você sabe que não é outra coisa.'


********____********

 'Ange'

Eu não me sentia exatamente preparada ou corajosa o suficiente para simplesmente estacionar na frente de minha casa e entrar como se nada estivesse acontecendo dentro de mim, mas mesmo assim quando vi a simples casa branca praticamente no final da rua com apenas uma cerca viva e uma curta ladeira separando as casas da paria sabia que teria de enfrentar tudo.

Minha casa estava com o gramado destruído e já todo alaranjado que destoava do restante das outras, que estavam verdes e bem cuidadas e estava com um aspecto de abandonada apesar de estar em muito bom estado, eu estacionei em frente a ela sentindo cada parte do meu corpo tensa, como mais cedo, a ponto de dor e minha respiração estava alta e desregular... me forcei a olhar para cima e vi a janela de meu antigo quarto e me lembrei exatamente de como me sentia enquanto eu saía por ela para fugir de minha mãe e Josh... o medo, o ressentimento, a raiva... a dor! Foi como se eu pudesse me ver ali, pulando do telhado e correndo...

– Vamos Ange... – sussurro para mim mesma fechando os olhos com força ofegante exatamente como fiquei naquela noite. Soltei a direção sentindo até mesmo meus dedos doloridos pela força com que os mantinha presos ao volante e tentei inspirar e expirar com mais calma e mais profundamente até que pudesse acalmar as batidas do meu coração e fosse capaz de controlar minha mente.

Depois de girar meu pescoço e meus ombros para amenizar a tensão sai do carro sentindo minhas pernas um pouco fracas me obrigando a apoiar as costas contra o carro me deixando de frente para minha casa. Ela era simples comparada às outras, mas de alguma forma apesar do efeito dos anos e do abandono, parecia à típica casa perfeita para uma família feliz.

Durante algum tempo eu até recebi propostas muito boas para a compra dessa bela casa, praticamente dentro da praia em uma cidade pequena e tranquila... era o lugar perfeito para se começar uma família ou apenas aproveitar a velhice... mas por algum motivo eu nunca consegui vender, talvez porque eu sabia que precisaria desse momento só meu na casa.

Eu fiquei parada ali olhando para ela como se fosse apenas uma turista que a estivesse vendo pela primeira vez com o mesmo vislumbre e carinho que um desconhecido olharia com os últimos raios de sol tocando-a deixando a casa ainda mais encantadora... afinal apesar de tudo eu sei que haviam muitas boas lembranças ali dentro, assim como por todo lado de fora como na varanda onde minha mãe e eu ficávamos horas pintando com todo o piso de madeira coberto de respingos de obras anteriores e meu pai já havia desistido de pedir que ao menos cobríssemos o chão com jornais velhos... onde meu irmão também ficava em algumas noites nas escadas tocando seu violão, compondo algumas de suas músicas maravilhosas enquanto meu pai sentava em um banco de madeira cheio de almofadas lendo algum de seus livros de suspense, enquanto minha mãe se deitava praticamente sobre ele lendo algum romance cheio de açúcar, como meu pai costumava dizer e eu sentada em uma cadeira de balanço apenas observava.

Eram noites tranquilas e tão simples que talvez seja exatamente por isso que me lembro tão bem delas, eram minhas noites favoritas, mesmo depois que comecei a fugir para as festas nas casas de minhas amigas ou em qualquer lugar na praia, estar na calmaria com minha família eram os melhores momentos da minha vida, porque eu sabia que deviam ser tido como valiosos já que nem sempre era assim.

SALVA PELO CHEFE (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora