Capítulo 51

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Inês

De todas as vezes que vim para as aulas da universidade, esta é a primeira vez que não chego atrasada. Antigamente ou era por causa do trânsito, ou por causa da história dos – são só mais cinco minutos – outras vezes era, porque não sabia o que haveria de vestir. Qualquer moça que viva a vida como eu vivo, stressada, sempre de um lado para o outro e quase sem tempo para se dedicar a si própria, sabe como é.
Entrei dentro da sala e todos ficaram a observar-me, provavelmente devem estar a remoer mentalmente a decisão que o Eduardo tomou. Que eu saiba, eu não lhe obriguei a desistir da universidade, muito menos me opôs a alguma coisa, por isso, isso só significa o quanto imaturo foi, ao fugir dos problemas e dar a desculpa – eu não queria que ela sofresse mais ou a magoar – até uma criança de dez anos sabe dar uma desculpa muito melhor!
Sentei-me ao lado do Afonso, como antigamente o fazia e foram regras impostas pelo professor Nuno.

- Olá – disse-lhe e o mesmo olhou para mim, sem me dizer nada – também estás chateado comigo não é? Tudo bem, podes ficar assim como estás – apontei o dedo – só quero que saibas, eu não apontei uma arma à cabeça do Eduardo para desistir da universidade!

O mesmo ficou a olhar fixamente para a minha face, provavelmente deve estar a tentar arranjar um bom argumento para se desculpar.
Olhei para o telemóvel e apercebi-me que hoje fazia anos. Eu não acredito, como é que eu pude esquecer-me do meu próprio aniversário – suspirei – até o meu próprio pai se esqueceu do meu aniversário, isto é horrível! Mas também…como é que eu mesma poderia me ter apercebido disso, se tenho a vida vida de pernas para o ar por causa do Eduardo?

Todos os meus colegas vão entrando na sala e vão-se sentando no seu devido lugar. Mais uma vez, todos me ignoravam. Devem pensar que eu sou a pior pessoa do mundo por causa do Eduardo se ter ido embora, eles devem odiar.
Peguei nas minhas coisas e no meu dossiê, enquanto algumas lágrimas começam a cair da minha face abaixo. Eu não posso arrecadar culpas do que eu não fiz.

- Diz ao professor que eu fui anular a minha matrícula – disse ao Afonso e o mesmo ficou a olhar novamente bastante sério para mim.

Começo a descer as escadas para ir até à porta de entrada da sala. Não faz sentido continuar numa turma que não me fala e que me aponta o dedo através dos seus olhares e como também já perdi grande parte da minha matéria, não haverá problema. Irei ser apenas menos um membro da turma.
Mal chego ao centro da sala, aparece o professor Nuno, com um sorriso enorme nos seus lábios.

- Bom dia turma – disse o meu professor e dirigiu o seu olhar a mim – estou a ver que finalmente tenho de volta a minha Inês! – Disse o meu professor.

- Teve por minutos, eu vou-me embora – disse.

- Vais-te embora porquê? – Pergunto-me bastante confusa.

- Porque eu tive alta há pouco tempo do hospital, mas eu mesmo assim quis vir para a universidade, para poder estar com as minhas amigas e afins – deixei uma lágrima cair – e desde que entrei na sala, ninguém me falou, por isso, não vale a pena estar aqui, se não me querem na turma eu vou-me embora – disse.

De repente, vejo alguns membros da minha turma a levantarem-se como se fossem me dizer alguma coisa, mas ao mesmo tempo, parecia que simplesmente até concordavam com a minha ideia.

- Inês, sabes que dia é hoje? – Perguntou o meu professor e eu respondi – muito bem, eu não sei por onde começar – disse o meu professor com um sorriso meio sem jeito do que haveria de dizer – eu queria dizer-lhe, que estou bastante feliz por tê-la novamente na turma, por saber que estás bem tal como o bebé, também quero informar, que toda a matéria que tens perdido nestas últimas aulas, irás repôr, porque eu mesmo irei dar-te aulas extras para não saíres prejudicada e antes demais, também quero dar-te os parabéns pela chegada dos teus vinte anos – sorri – espero que tenhas muito sucesso na tua vida, que o teu bebé seja um motivo de orgulho e o mesmo, que te abençoe no futuro – assim que o meu professor acabou o seu discurso, eu o abracei.

- Obrigada por tudo professor Nuno – disse com um sorriso, mas ainda meio confusa de como é que o meu professor soube que eu fazia anos.

De repente, começo a ouvir diversas cadeiras a fazerem barulho e quando olho, vejo os meus colegas a levantarem-se e virem em minha direção.

- Inês…– disse o Afonso.

- Sim? – Perguntei meio confusa com o que se estava a passar.

- Bem…nós todos temos estado a pensar bastante em ti, porque ainda não tivemos a oportunidade de estar contigo desde que soubeste que estavas grávida – alguns sorriram – até que, há quatro dias chegou aos nossos ouvidos que fazias anos hoje. Começámos a fazer diversos planos, caso estivesses no hospital, nós mesmos iríamos lá para estar contigo, mas como tiveste alta, há última da hora tivemos que alterar todos os nossos planos.

- Então, vocês não estão chateados comigo? – Perguntei com um sorriso na face.

- Não – disseram-me.

De repente, a porta da sala abre-se e quando eu olho, vejo a minha irmã e o meu pai a entrarem com um bolo de aniversário acesso e todos começaram a cantar-me os parabéns. A emoção era tanta, que eu mesma não consegui conter as lágrimas como alguns dos meus colegas e quando dei por mim, já estava a chorar. Assoprei as velas e abracei todos da minha turma, devido ao gesto que tiveram para comigo.

- Obrigada a todos por esta surpresa – disse – e por terem tornado este dia diferente.

- Ainda não acabou – disse o Afonso – eu e a Cláudia temos umas coisas para te dizer.

- Ai o que virá daí! – Disse e todos se riram.

- Isto é meu – disse o Afonso enquanto abria um papel – Inês, eu sei o quanto a tua vida não tem sido fácil nos últimos tempos, sei o quanto foi difícil conseguires ultrapassar estes obstáculos todos, sei que não é fácil ser mãe tão jovem logo no preciso momento em que se está na universidade, mas sei o quanto forte foste e és para conseguires vencer. Também quero que saibas o quanto me orgulho de ti e quero que continues a ser a pessoa que és – abracei-o enquanto chorava de emoção.

- Agora é a minha vez – disse a Cláudia – minha linda e maravilhosa melhor amiga, eu sei que nos últimos tempos tenho andando mais afastada de ti, mas não é nada de mal e quando poder eu mesma irei explicar-te, mas quero que saibas que sempre tiveste no meu pensamento, que tive diversas saudades tuas, que até pedi aos meus unicórnios para que ficasses boa o mais rápido possível e voltasses para as aulas. Eu sei que tens vivido momentos difíceis e que por vezes, passou pela tua cabeça desistir, mas orgulho-me bastante pelo facto de teres erguido a cabeça e continuares a seguir em frente, sem medo do amanhã. – Sorri – já agora, viva! Viva a ti, viva ao bebé que carregas no ventre e sobretudo, viva aos teus vinte anos! – Gritou.

- Viva! – Disse a minha restante turma enquanto batiam palmas.

- Bem, quem me conhece sabe que não sou muito boa nestas coisas, muito menos com discursos – sorri – mas só quero que vocês saibam, que eu gosto muito de vocês e que, dificilmente eu irei esquecer de vocês, porque conseguiram marcar a diferença! Um grande obrigada para vocês todos! – Disse.

Ficámos a falar mais um pouco enquanto comíamos o meu bolo de aniversário e depois disso, o professor Nuno aproveitou o pouco do tempo que restava da nossa aula.

O idiota do meu inimigo de infância - 1°Livro | revisão |Where stories live. Discover now