Capítulo 33

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Inês

Dor no corpo. Alguém conhece essa palavra? Essa dor? Eu cá não. Já caí diversas vezes de bicicleta, até uma vez de um tronco de uma árvore pequeno, mas nunca, mas mesmo nunca senti uma dor assim, intensa e como se tivesse em cacos. É como se os meus 206 ossos não tivessem juntos e sim em cacos, separados. É como se não conseguisse senti-los, mas quando me mexo, os sinto. Alguém já teve essa sensação? É horrível.

Será que também os meus 650 músculos também estão assim? Ou simplesmente estão tensos por eu estar nervosa?

Truz, truz, truz.

- Quem é? – Perguntei com uma voz um pouco rouca, frágil até.

- Sou a Joséfa, vim trazer-lhe o almoço.

- Auxiliar de saúde, suponho – entrou com um sorriso.

- Fico feliz por alguém reconhecer o que eu sou e não julgar que sou uma empregada da cozinha.

- Só não reconhece um auxiliar de saúde, quem não tem o mínimo cuidado de aprender algo. Quem tem cultura, até que seja pouca, sabe que atualmente quem dá nos hospitais comida ao utente, neste caso paciente, altera as roupas das macas, lava o paciente se não tiver capacidade de se mobilizar, ajuda o paciente a fazer fezes, é um auxiliar de saúde.

- Muitos acham, que isso é trabalho dos enfermeiros – suspirou – eu e muitos auxiliares de saúde sentimo-nos postos de lado. Todos se lembram dos enfermeiros e dos médicos, mas esquecem-se que existem outros profissionais - subiu um pouco a minha maca e começou a dar-me a sopa à boca – ainda no outro dia, discuti com uma prima minha. A dizer que quem dá comida são funcionárias do refeitório que dão e que a auxiliar de saúde só verifica, e quem faz posicionamentos etc, são as enfermeiras.

- Não faça caso disso, são pessoas que têm a mania que sabem tudo e na verdade não sabem nada. É por esse determinado tipo de gente, que Portugal não melhora em determinadas circunstâncias!

- Concordo.

- Já agora, tens que idade?

- 21 e tenho o curso de auxiliar de saúde.

- És só dois anos mais velha que eu – sorrimos.

- Porque estás aqui?

- Tive um acidente de carro, parti o braço. Estou sobre vigilância por causa da minha gravidez.

- Deve ser horrível para ti estares o dia aqui, fechada.

- Não me importo, é bom por um lado, sossego para além tenho de me habituar.

- Porquê? Espero não estar a intrometer-me.

- Estou na universidade a fazer licenciatura em enfermagem, depois quero fazer especialização em obstetrícia e pediatria, por isso, terei que me habituar a uma vida no hospital.

- É bom trabalhar no hospital, por vezes faz-nos sentir uteis – sorriu – só que também, por vezes temos pacientes que são extremamente mal-educados e nem sequer convém esperarmos por um obrigada.

- O meu professor já nos disse isso – torci a boca – é pena que as pessoas gostem de ser tratadas, mas não sejam capazes de agradecer. É como se não nos valorizassem.

- Sei o que isso é.

- Comes rápido – começámos a rir-nos.

- Desde que estou grávida, comecei a comer mais. Nem quero imaginar quando o bebé estiver maior.

- Estás de quanto tempo?

- Um mês e três semanas.

- Como soubeste?

O idiota do meu inimigo de infância - 1°Livro | revisão |Where stories live. Discover now