A Estranha Cecília - Chris Evans

Capitulo 45 - A decisão

- Ce-ce-ceci, o que foi? - Nick pergunta, com as mãos trêmulas, assim que me vê entrar no carro, agarrada a minha bolsa e com as lágrimas por meu rosto. - Vo-vo-voce ta pa-pa-passando mal?

- To! - Recosto a cabeça na poltrona, fazendo um esforço para não amassar as folhas em minhas mãos - Mas não é físico, Nicolas, é espiritual... - Ofereço os papéis à ele, sem coragem de olha-lo ler. - A minha alma ta com uma ferida enorme...

Eu precisava compartilhar a minha dor com a única pessoa que eu confiava a minha vida, o único homem, depois do meu pai, que valia alguma coisa. Nick esteve comigo no pior momento, e agora ali estava ele novamente. A única coisa que me reconfortava, era a sua existência. Ele era o único no mundo que podia me mostrar que eu não estava sozinha. Eu não queria guardar aquela tristeza para mim, mesmo que ele fosse me dizer: eu te avisei.

- Ceci, que isso? - Seus olhos se arregalam, enquanto passeavam por cada linha dos prints em suas mãos. - Ceci, ele... ele... ele... ele... ai meu deus!

- Pode dizer que me avisou. - Não consigo segurar o choro alto, por mais que eu tentasse me conter, os soluços me escapavam. Eu tinha dito que não era físico, mas era sim, minha cabeça latejava, meus olhos se incharam e a contração muscular fazia meu corpo inteiro doer.

- Você era a amante do seu Christopher, Ceci?

Assinto, com um movimento de cabeça. Estava dominada pela vergonha, mas sabia que esconder não ia mudar a fatídica realidade. Eu realmente era o que ele falou, a amante. Eu quis acreditar que tínhamos um amor de outras vidas, que dona Ana, na verdade, era que estava errada por ter se colocado entre nós, quis fechar os olhos para o sofrimento que causei naquela mulher, naquela família... mas como castigo, deus me fez perceber o meu erro da maneira mais dolorosa possível.

- Ele me enganou, Nick... - Passo as mãos em meus olhos, me livrando, inutilmente, do choro, mas ele simplesmente não parava de cair. - Ele me usou. Ele me seduziu para maquiar o balancete, depois ficou com medo de nós dois roubarmos ele, e continuou com a farsa. Ele chegou a prometer cancelar o casamento... - Outro soluço me foge, e levo as mãos à boca, como se fosse possível engoli-lo. - E ele fez isso logo depois da mensagem que recebeu do seu Will.

- Passou essa noite com ele, Ceci?

- Eu acreditei nele, Nicolas... - Inclino minha cabeça, quase que implorando piedade. Eu sabia que ele não me julgava, mas o fato de eu mesma fazer isso, me fez acreditar que ele também poderia.

- Ceci... - Seus olhos azuis se enchem de lagrimas, enquanto repetia o meu movimento de cabeça e tocava meu rosto em uma carícia. - Como pôde acreditar nele, minha amiga?

- Ele parecia honesto, Nick... ele fazia eu me sentir como uma verdadeira princesa dos contos de fadas. Quando na verdade, eu estava mais para o lobo mal. Viu como eles falavam de mim? Suburbana, burra, que só serve pra fazer sexo... A forma como seu Christopher falou que ninguém me queria antes e ele tinha me colocado do jeito dele... - Mais um soluço, enquanto esfrego os olhos por baixo dos oculos - Ele nunca falou aquelas coisas bonitas para me ajudar a superar o meu trauma, ele só queria que eu fosse bonita pra não sofrer tanto quando dormisse comigo.

Ainda com lágrimas nos olhos, Nicolas abre a porta do carro, com certa raiva, mas é detido por minhas mãos, que o agarra pelo pulso, puxando-o de volta à poltrona, enquanto meu choro caia ainda mais.

- O que vai fazer, Nicolas?

- VO-VO-VOU ACA-BA-Ba-BaR COM ESSE CHRI-CHRI-CHRISTOPHER GRA-GRA-GRAHAM! - continua fazendo força para o lado oposto, tentando sair do carro, mas ele era mais desastrado que eu, e não conseguia, se quer, se livrar de mim. - ME ME ME ME SOLTA, CECI!

- Para, Nicolas... - Suplico, chorando ainda mais, ao ver meu amigo sair de si e enfrentar todos seus medos apenas para defender a minha honra. - Ele não está ai, Nick...

- Ma-ma-mas a-a-aque-aque-quele sujo do William está! - Tanta empurrar minhas mãos que ainda o seguram, agora que ele havia conseguido colocar seus pés para fora. - ME-ME-ME SOLTA CE-CE-CECILIA, PO-PO-PO-PORQUE E-E-E-EU VOU MA-MA-MATAR ELE. EU VO-VO-VOU QUE-QUE-QUEBRAR AQUELE ENGO-GO-GOMADINHO NA PO-O-RRADA!

- Para, Nicolas, por favor! Ele vai te bater se você tentar fazer alguma coisa com ele, por favor, não piora a situação. Seu Will é alto e forte, Nick...

- Nãnãnãnão importa!

- Nick, me escuta. Bater nele não resolve, não vai mudar nada, ele só vai bater em você e ganhar, de novo. A gente só pode vence-los com o que eles não possuem... inteligência, Nicolas. A gente vai ganhar esse jogo com a única coisa que eles não exercitam, o cérebro! - Ele relaxa contra poltrona, trazendo os pés para dentro do carro novamente. Seus olhos passeiam por meu rosto, extremamente preocupado. Ao mesmo tempo que ele queria me perguntar qual era o meu plano, ele tinha medo da resposta. - Conseguiu o dinheiro que eu te pedi?

- Um-um-uma parte...

- Já é suficiente.

Forço um sorrisinho, me afastando dele e secando as lágrimas em meus olhos. Eu jurava, pela minha própria vida que dessa vez tudo seria diferente. Eu não ia me esconder por um homem, eu já fiz isso antes, e a única que se prejudicou nessa relação, fui eu. Dessa vez eu queria mais, eu queria poder fazer ele sentir toda a humilhação que eu senti. Christopher Graham e William Malone implorariam de joelhos à deus para nunca terem conhecido Cecilia Rojas Avelino.

Se havia algo que Christopher tinha me ensinado, era não me culpar pelo erro dos outros. Eu assumia as responsabilidades das minhas ações, estava sofrendo por todas as escolhas erradas que fiz, mas agora também era a hora dele sofrer na mesma moeda. Ele não ia ganhar, ele não ia me destruir, e eu não ia dar à ele o prazer de rir da minha cara enquanto choro encolhida no canto.

- Vamos ver quem ri por último! - Sussurro, engolindo completamente o choro e o travando na garganta.

(Continua...)