Capitulo 78 - Velhos amigos

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E lá estava eu, no meu segundo dia de trabalho naquele inferno gastronômico. O estresse parecia estar só começando, os clientes sempre reclamavam de alguma coisa, o vinho pouco gelado, a carne no ponto errado, as batatas salgadas, o molho muito ralo... sempre havia uma reclamação, o serviço naquele restaurante estava sendo oferecido de uma maneira porca, como se ninguém estivesse mais preocupado com a qualidade do que era servido.

- Becky, é o terceiro cliente que reclama do ponto da carne. - Jogo o prato sobre uma das bancadas. - Ele pediu ao ponto, e essa carne está crua.

Ela pega o pedaço de bife e corre seus olhos por ele.

- Esse é o ponto da casa, se ele não gosta, devia pedir bem passado!

- Olha, eu não entendo nada de culinária mas esse "ponto da casa" está claramente cru.

Ela sorri, jogando o bife na lixeira próxima.

- Percebe-se que você não entende nada, mesmo. SAI UM MIGNON BEM PASSADO! - Ela grita para seus cozinheiros.

Respiro profundamente e saio da cozinha, quando sou parada por um ajudante de cozinha, que carregava uma pasta transparente cheias de notas.

- Srta. Avelino, esses são os comprovantes de alguns produtos que recebemos esse mês. Queijos, vinhos e carnes.

Abro a pasta e passo os olhos pelo valor, me assustando.

- Isso tudo foi só nesse mês? Mas o mês acabou de começar. Teve realmente toda essa saída? Como está o estoque de carnes?

Ele da de ombros.

- Eu só estou te repassando os valores. Qualquer duvida, a senhorita deve tratar diretamente com a chefe.

Assinto, engolindo minhas palavras e saindo da cozinha.

Eu não queria deixar minha implicância falar mais alto, eu não sabia quanto um restaurante podia gastar por dia. Era cedo para pensar que estava havendo algum desvio ou desperdícios. Mas eu precisava de um pouco de silêncio para analisar os valores, e comparar com as projeções dos meses anteriores, considerando o consumo e os preços.

Subi as escadas até o escritório, onde Henry escrevia seu livro no mais absoluto silêncio e sossego. As persianas estavam abaixadas e ele ignorava o fato de que, no andar de baixo, o restaurante estava pegando fogo.

Assim que me viu, ele tirou seus olhos do computador e esboçou um meio sorriso.

- Como está indo?

Suspiro, abrindo as cortinas para que pudesse ter a visão lá debaixo.

- Casa cheia. Algumas reclamações. Tivemos uma queda de energia, os vinhos acabaram perdendo a climatização ideal. Houve um excesso de sal nas batatas e alguns clientes reclamaram do ponto da carne.

- Precisamos consertar o gerador para que essa situação dos vinhos não se repita. Quanto ao ponto da carne, é normal, sempre vai ter uns clientes que vão reclamar porque não entendem o que é uma carne ao ponto, geralmente são clientes mais novos. Sobre as batatas, esse erro é inadmissível, vou procurar saber com a Becky o que aconteceu. - Assinto para ele, me aproximando do vidro da sala, olhando o salão lá embaixo, enquanto me perguntava se deveria levantar a duvida sobre aquelas notas, ou fazer os cálculos antes. - E quanto ao restante?

Ouço seus passos atrás de mim, mas não me viro.

- Ta tudo bem. - Respiro profundamente, decidindo não falar. - Casa cheia no almoço, reservas para o jantar... ninguém ainda reclamou do piso... - Deixo escapar uma risadinha.

A Estranha Cecília - Chris EvansWhere stories live. Discover now