Capitulo 85 - Os meus desejos não importam mais

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Cecilia Avelino

Depois que Henry adormeceu, a base de um forte calmante, eu fui até a sala, onde seu Christopher me esperava na sacada com a cara mais emburrada que a de uma criança mimada que perdeu no pique pega. - Ele havia saído do quarto depois de muita luta, e claro que Henry e eu havíamos percebido seu surto de ciúmes, mas diante de tudo o que estava acontecendo, aquela era a menor das nossas preocupações. Parei ao seu lado no parapeito. - O Brooklyn tinha bastante prédios, mas a maioria não tinha muito mais do que cinco andares, nos permitindo ver o céu com mais facilidade do que do outro lado da ponte, especialmente Manhattan, com seus arranha céus e sua quantidade infinita de prédios por metro quadrado. Mas, nem por isso, a visão era mais bonita, o céu em Nova York não era tão limpo devido a poluição e o inverno, e ali não tinha a beleza das luzes da cidade. Ainda assim, parecia menos desesperador observar o mundo de uma sacada mais baixa. - Recostei meus cotovelos na grade, suspirando e evitando olhar diretamente para ele.

- Obrigada. - Digo, soltando todo ar preso em meu pulmão. - Eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse aqui. Provavelmente...

- Provavelmente você teria dado um jeito. - Me interrompe. - Você sempre dá!

- Eu ia dizer que provavelmente ele teria morrido. E quando penso nisso... - Engulo o desconforto em minha garganta, mas não fora o suficiente para evitar a lagrima de cair. - Quando eu penso nisso...

- Então não pense!

Percebo seus olhos mirarem em mim, mas não sou capaz de devolver o olhar, embora ainda pudesse senti-lo me observar.

Era inverno, e eu usava apenas um vestido fino na sacada de um pequeno prédio, assistindo a neve cobrir o teto das casas abaixo de nós. Mas o frio que sentia de nada tinha a ver com a temperatura do ambiente, era como uma energia que saia do meu abdômen e percorria por meu baixo ventre até alcançar a pontinha dos dedos dos pés. Estava nervosa, mais nervosa do que estive na primeira vez que o vi. Em partes, pela paixão que eu reprimia, mas em outras, pela culpa que me consumia.

- Me sinto mal, eu ja me sentia antes, mas saber que ele estava aqui, sofrendo sozinho, enquanto você e eu estávamos juntos, me faz sentir pior.

- Quer me contar o que aconteceu?

- O pai dele morreu. - Respondo diretamente, sem rodeios. Não queria que pensasse que o Henry não tinha um bom motivo para estar desesperado.

- O aristocrata inglês? - Seus olhos se arregalam - Então agora você vai se casar com o principe da inglaterra?

- Uma pessoa morreu, e você ta fazendo piada? - Finalmente viro meus olhos para ele, na certeza de que agora eles já não brilhavam mais como segundos antes.

- Desculpa... - Balança negativamente a cabeça, afastando os pensamentos. - Tem razão, isso... isso... ham... me desculpa!

Pisco lentamente, pensando em suas palavras que, apesar de debochadas, até tinham uma certa razão. Eu não ia me casar com um principe, mas ia me casar com um conde, e isso beirava ao absurdo. Era tão cafona que eu sequer conseguia falar em voz alta.

- O Henry não quer isso... - Digo, mais para mim mesma, do que para ele, que franziu as sobrancelhas confusos, porque ainda não podia ler os meus pensamentos, nem entender que a minha afirmação fragil, quase uma pergunta, era na verdade, eu mesma tentando me convencer disso. - ...ser um conde...

A Estranha Cecília - Chris EvansOnde histórias criam vida. Descubra agora