Capitulo 69 - Os olhos castanhos voltaram

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As noites em Londres eram frias, ainda mais próximo do rio, que fazia o vento parecer ainda mais gelado. Mesmo ha tantos anos morando em Nova York, eu não tinha me acostumado com as baixas temperaturas, e ali parecia ainda pior que na América. Talvez essa sensação tenha se dado porque eu havia escolhido uma roupa pouco conveniente para a estação. Eu queria estar bonita, novamente.

Dona Karoline estava ainda mais feliz por mim, que eu, e fez questão de me vestir com um dos seus vestidos, uma seda preta longa, com flores bordadas ao redor de todo decote arredondado e também nas alças do vestido. Era elegante e romântico, mas o meu cabelo preso em um rabo de cavalo bem preso, deixando a minha nuca exposta, fazia parecer sensual, também.

Henry, por sua vez, usava uma social branca e uma calça de alfaiataria cinza escura, que se escondia atrás do seu avental preto de chefe. Enquanto ele refogava alguns camarões, eu me recostava na ilha da cozinha, degustando um bom vinho italiano de uvas verdes e bem doces, um que eu precisaria vender meu rim para conseguir comprar. Nas saidas de som do iate uma música instrumental tocava em volume ambiente, deixando tudo significativamente mais gostoso.

Me assusto, quando uma chama alta sobe pelo fogão. Henry olha sobre os ombros, rindo, me fazendo perceber que aquilo era parte do seu show, respirando aliviada em seguida.

- Então o segredo para camarões perfeitos é incendia-los?

Ele gargalha baixo, sacudindo a frigideira que, agora, perdia o fogo.

- Na verdade, o segredo está em jamais lavar a frigideira. - Meus olhos se arregalam.

- Isso foi um pouco insalubre. O que a vigilância sanitária acha sobre isso?

Outra gargalhada.

- Com o tempo, vai descobrir que as coisas na europa não funcionam como no Brasil. - Se vira para mim, ainda do outro lado da ilha, se aproximando para pegar sua taça de vinho - Mas eu juro que, por você, eu tomei banho e lavei todos os utensílios dessa cozinha. - Levanta sua taça até a minha, batendo os cristais até que ecoem um "tim tim". - Um brinde a higiene brasileira!

- Se eu soubesse disso antes, tinha vindo sem banho. - Brinco.

- Ah não, por favor, eu gosto do seu cheiro de banho tomado, faz bem para minhas narinas.

- Você não costuma sentir muito cheiro de limpeza por aqui? Você é bem cheiroso...

- Modéstia parte, eu tenho bons hábitos de higiene. Mas a fama da Europa não é um mito. - Beberica seu vinho - Mas fico feliz que aprecie meu cheiro. Acho que é um ponto a nosso favor.

- Ah, é? - Minhas sobrancelhas se franzem levemente.

- Dizem que pessoas que não gostam do cheiro uma das outras são geneticamente incompatíveis, é a natureza te dizendo que essa relação nunca renderá bons frutos...

- E é isso o que está buscando? Uma relação?

- Não é o que estamos todos? No fim, não é esse o propósito da vida? Amar...?!

- Amor é o que move sua vida?

- Não é o que move a sua? - debruça os cotovelos sobre a bancada, ficando significativamente mais próximo do meu rosto.

- Não sei... acho que é um pouco arriscado depositar toda expectativa da sua vida em outro alguém. Me parece perigoso.

- E em que você depositaria as expectativas da sua vida?

- Em mim. Já cai na burrada de depositar em outras pessoas, todas as vezes eu quebrei a minha cara. Eu pensei que pudesse morrer, mas não morri. Se eu não posso morrer de amor, então eu também não posso viver por isso.

A Estranha Cecília - Chris EvansOnde histórias criam vida. Descubra agora