Capitulo 94 - Benção

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Eu não consegui colocar o meu vestido de noiva, não quis ver como seu Hugo o estava preparando, nem qual seria o modelo, eu apenas confiei que ele faria a melhor escolha. Estava triste demais para me ver em um vestido. Depois de tudo o que tinha acontecido naquele dia, à ultima coisa que eu gostaria de fazer era me fantasiar de noiva feliz. Talvez eu devesse cancelar aquele casamento, mas eu não conseguia magoar o Henry daquela forma, e ainda achava que ele fosse a única pessoa capaz de curar o meu coração. Ainda assim, não era justo com ele, que eu me casasse apenas porque a minha primeira opção havia desistido de mim.

Sempre foi o seu Christopher, mesmo que eu tivesse lutado contra isso, mesmo que eu acreditasse que não devia ser ele, que a escolha era ruim, que o Henry fosse o único capaz de me fazer feliz, sempre foi o Christopher Graham. Eu vivia um dilema, ser feliz sem nunca viver o amor da minha vida, ou viver o amor e nunca ser feliz? Por que, simplesmente, as duas coisas não podiam andar juntas.

Eu quis me enganar, acreditar que eu poderia ter no Henry as duas coisas, ou que me bastaria a felicidade que ele me proporcionava, mas a verdade era que eu não conseguia parar de pensar no seu Christopher. Ele era como um pensamento intrusivo rodeando a minha mente, ele me tirava o sono, a paz. Como eu poderia me livrar, se ele estava em, absolutamente tudo?

Eu não queria ficar sem ele, e doía muito pensar que mesmo que ele tivesse me machucado, era nele que eu pensava no fim do dia, era para ele que eu voltaria, à ele que meu coração pertencia. Mas eu não queria mais ser uma garota de coração partido, eu não queria continuar amando-o, eu precisava superar, eu precisava seguir em frente, ser feliz novamente.

Antes de passarmos a noite juntos, eu tinha decidido casar com o Henry, e estava certa de que era a escolha, racionalmente, certa. Se estive convicta em algum momento, poderia voltar a ficar. O problema, é que talvez eu nunca tivesse tido certeza. A todo momento desejei que ele continuasse implorando por mim, até que eu cedesse. E eu cedi. Cedi no exato momento em que ele desistira. Meu ego nunca me permitiria lidar com isso de uma forma diferente, se não, me casando.

O Henry me amava, era um homem maravilhoso, poderia me fazer feliz, e me casar com ele machucaria o Chris. Era, definitivamente, a ideia mais absurda, por isso ela parecia incrível.

•••

Quando abri as portas de casa, minha mãe estava na cozinha, preparando o almoço, enquanto meu pai trabalhava em algo no computador, na sala. Ele não estava falando comigo desde a nossa ultima discussão, ainda assim não conseguia esconder a insatisfação pela hora que eu estava chegando à casa.

Entrei e segui em direção ao outro lado do balcão, sem dizer nada a ele, se ele não queria falar comigo, então eu também não falaria com ele. Tinham coisas demais acontecendo, para que eu ocupasse meu tempo lidando com os dramas do meu pai.

- Tem um pratinho pra mim? - Pergunto, fazendo minha mae se assustar. Ela estava tão distraída cortando legumes na pia, que nem viu a hora que entrei.

- Ai, Cecilia! - Ela ri, levando as mãos ao peito - O que está fazendo aqui, menina? Não estava com o seu Christopher? - As ultimas palavras saem em um sussurro.

Arqueio minhas sobrancelhas para ela, confusa. Mas era óbvio que ele tinha avisado a ela, só isso justificaria eles não terem me ligado a madrugada inteira.

- Não é o que a senhora está pensando...

- E como sabe o que estou pensando? - Esboça um sorrisinho bobo.

- Hm... não sei, talvez por esse sorriso, aí!

Ela gargalha, me batendo com a toalha de prato, que antes estava sobre seu ombro.

- Ah, para! Sabe que eu sou contra o que vocês estão fazendo...

- Não estamos fazendo, absolutamente, nada. Muito pelo contrário, conversamos sobre o que poderia acontecer, e bom... - Engulo o desconforto em minha garganta, junto da vontade de chorar, nunca pensei que seria tão difícil dizer isso para minha mãezinha. Ela estava feliz com a possibilidade da nossa reconciliação, mas agora eu precisaria ver a esperança deixar os seus olhos. Por um segundo, acho que ela imaginou como seria se a gente a desse netos. - ...a gente decidiu que tava na hora de colocar um ponto final, definitivamente!

Exatamente como eu havia imaginado, seus olhos se ofuscam e seu sorriso se desfaz, ela foi mais do que pega de surpresa, ela foi destruída sem que pudesse ter se preparado para isso. Talvez ela so estivesse refletindo os meus sentimentos.

- Ah... - É tudo o que se limitou a dizer.

- Vai ser melhor assim, mãezinha. O Henry e eu vamos nos casar...

- Eu sei, querida, mas eu pensei que, até lá, seu Christopher tivesse feito você mudar de ideia.

- Não existe "até lá", mãe. Henry e eu nos casaremos no sábado.

Se em algum momento eu imaginei como seria dar essa noticia à ela, certamente nunca foi da forma como aconteceu. Seu rosto perdeu a cor, sua boca perdeu a voz, e ela parecia mais do que perplexa, estava em estado de choque. Minha mãe nunca foi boa em fingir sentimentos, não seria agora que fingiria ficar feliz por mim. Em sua mente passeava muitas coisas, e provavelmente em todas elas, ela estava me chamando de burra.

- Como assim? - Foi tudo o que conseguiu dizer.

- Decidimos adiantar o casamento. Ele vai passar um bom tempo em Londres, agora que o pai dele morreu, estarmos casados vai facilitar que eu possa ir para Londres. - Dou de ombros. - Faz sentido...

- Sentido, Cecilia? Vai se casar por um green card britânico? - Faz aspas com as mãos. - Conhece esse homem há tres meses, Cecilia. Não sabe, absolutamente, nada sobre a vida dele. Onde pensa que vai chegar com isso? Não te dou um mês para pedir o divórcio!

- Podia fingir que está feliz...

- Como quer que eu faça isso, se nem você está. Ta me contando como se fosse uma tragédia. Eu não to acreditando nisso...

- Eu estou feliz! - Disparo, ofendida, embora ela estivesse, terrivelmente, certa.

- É essa cara de bosta que você chama de felicidade? - Aponta para o meu rosto. - Por que ta fazendo isso, Cecilia? Ta gravida?

- Que? - Agora são minhas sobrancelhas que se franzem - Claro que não.

- Então, por que ta correndo como se precisasse tirar o pai da forca?

- Eu já disse, ele vai passar um tempo em Londres, ainda precisa ler o testamento do pai e encontrar um sucessor para o titulo de conde, já que vai renunciar. Eu não faço ideia de quando ele poderá voltar aos Estados Unidos, e quero poder visita-lo sem me preocupar com a validade do visto.

- Cecilia... - Ela agarra em meu rosto, me obrigando a olhar fixamente em seus olhos. - É um casamento, não é um carimbo no passaporte. Uma vez casada, nem depois do divorcio você voltará a ser solteira. Quer, realmente, viver essa experiência com um homem que você não ama?

- Eu o amo, sim!

- Não de verdade... Eu não posso te deixar fazer essa loucura.

- Eu não estou te pedindo permissão, mãe. Eu estou te convidando para o meu casamento. Quero muito te ter comigo no dia, vai ser muito importante e especial para mim.

- Não posso ser testemunha da sua infelicidade.

- Para de falar isso, eu não vou ser infeliz, muito pelo contrário, Henry será um marido maravilhoso!

- E ainda assim, não será o suficiente pra você, simplesmente porque não o ama, e não adianta me dizer que ama, porque se amasse jamais o teria traído. Se fosse o seu Christopher no lugar dele, você nunca teria feito o que fez, não com a consciência tão tranquila... Está sendo egoista, Cecilia. Ta usando esse rapaz como tapa buracos. Todos vocês sairão muito machucados dessa história. Se ta esperando a minha benção, esquece!

E ela não abençoou. Se haveria alguém que gritaria do "fale agora ou cale-se para sempre" seria a minha mãe, isso porque ela ainda nem sabia que eu não me casaria em uma igreja católica. Certamente, ao descobrir, seria um tiro em seu coração. Mas era o meu casamento e ela não podia espelhas as próprias expectativas.

(Continua...)

A Estranha Cecília - Chris EvansWhere stories live. Discover now