Capitulo 2 - Boas Notícias

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Cecilia Rojas Avelino

- Oi, filha! - Minha mãe me recebe sorridente, ao, coincidentemente, abrir a porta do apartamento no momento exato em que eu estava chegando. - Eu ia sair agora para o supermercado, não quer vir comigo?

- Ah... não, tudo bem, vai lá! - Suspiro, desanimada, passando por ela e deixando a bolsa sobre a mesa de jantar que ficava logo na entrada.

- Como foi a entrevista? - Pergunta, desconfiada.

- Bem, mãezinha, bem. - Forço um sorriso. - Mas acho que eles já tinham uma candidata em mente. Ela... - era bonita - ...ela fez faculdade em Londres e é amiga de uma das acionistas. Aquela moça da revista que eu...que eu te mostrei no café.

- Oh, meu amor, eu sinto muito, mas não fique triste, vão ter outras oportunidades.

- Eh, claro, vai sim.

Caminho até o sofá, arrastando os pés pelo taco do chão. Era óbvio que não iria, mais uma vez uma mulher mais bonita ficou com a vaga. Se não fosse a Oliver, seria outra, sempre teria alguém melhor porque, afinal, não era tão difícil se destacar mais do que a estranha Cecilia...

- Filha... - Sinto as mãos da minha mãe me abraçarem pelos ombros - E se você se arrumasse só um pouquinho?

- Eu não estou desarrumada. - Me afasto, fechando o casaco como se pudesse esconder ainda mais o meu corpo. - Esse vestido é simples mas é um vestido social, o mocassim também. É uma roupa perfeita para um escritório!

- Talvez se soltássemos o cabelo, passássemos um pouco de maquiagem...

- NÃO! - Me afasto, quando suas mãos ameaçam desfazer o meu rabo de cavalo. - Eu sou assim, mamãe, eu tenho essa aparência, e eu gosto dela. Me entristece que as outras pessoas não gostem mas eu não quero mudar só para agradar os outros. Eu não quero ter que me submeter a procedimentos estéticos e invasivos. Eu não quero ter que acordar uma hora antes, todos os dias, para fingir que sou bonita. Aquelas mulheres, como a Dona Ana, ou a Senhorita Oliver, poderiam estar sem maquiagem, com olheiras profundas e um vestido largo que ainda assim seriam bonitas. Não é o meu caso, e eu não quero fingir ser outra pessoa. Do que adianta se no final do dia, quando sair do banho, ainda terei a mesma cara?

- Você é linda, Cecilia! - Minha mãe suspira, segurando meu rosto entre suas mãos - Você renega a sua beleza e não é porque teria a mesma cara depois de sair do banho, porque a sua cara depois do banho é belíssima. Você não era assim, Ceci...

Engulo o desconforto em minha garganta, quando sinto meus olhos marejarem. Sou inundada por um sentimento doloroso, uma lembrança dolorosa, mas como se fosse um pensamento intrusivo, eu me livro dela antes mesmo que voltasse a entrar em minha mente.

- Mas eu sou assim agora! - Afasto seu toque e desvio os olhos marejados - Essa é a nova Cecilia!

- Então seja feliz com a nova Cecilia. Esteja feliz com a aparência que escolheu para você.

- Estou conformada! - Respondo prontamente. - Vou tomar um banho, estava fazendo muito calor na rua. - Forço um sorriso e me aproximo para deixar um beijo em sua bochecha - Traz um chocolatinho do mercado pra sua filha preferida?

- Preferida e também a única que tenho. - Ela gargalha. - Trago, meu amor!

Somos interrompidas pelo toque alto do meu celular.

- Ue... - Eu digo, estranhando a ligação, ninguém nunca me ligava, a não ser minha mãe, mas ela estava bem ali na minha frente. - Deve ser a operadora. - Arqueio as sobrancelhas, preocupadas, enquanto reviro minha bolsa atrás do celular - Será que papai não pagou a conta?

A Estranha Cecília - Chris EvansWhere stories live. Discover now