Capitulo 80 - Ela ou eu

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Cecilia

Eu não esperava que isso fosse acontecer, mas lá estávamos nós, sentados no chão da varanda de um hotel de luxo, assistindo os primeiros flocos de neve caírem do céu, enquanto o sol nascia entre os prédios de Manhattan, como se o tempo nunca tivesse passado para nós dois. Como se todas as vezes que o sol nascesse, fosse uma nova chance. Mas não havia outra vez... mesmo que estar ali me lembrasse como eu costumava me sentir, meu amor tinha ido... Eu não era mais a mesma garota que entrou naquela empresa, eu tinha uma extensa bagagem de magoas, que eu nunca poderia me esquecer. E agora eu estava feliz, eu tinha um relacionamento saudável e maduro, onde compartilhávamos os mesmos ideais, e conquistas. Estávamos trabalhando para fazer dar certo, e o resultado estava sendo completamente satisfatório.

- Me fala do seu casamento... - Ele diz, descendo os olhos por meu anelar, fingindo que isso não o machucava. Tínhamos decidido ser amigos, ou tentar, pelo bem da empresa. - Ta feliz?

- To! - Respondo, sem hesitar, ou se quer pensar sobre. - Ele é um bom rapaz, é gentil, dedicado, e cuida de mim, temos princípios bem alinhados, acho que é a primeira vez que tenho um relacionamento maduro... - Falo sem pensar, e apenas percebo o que tinha dito, quando ele desvia os olhos, disfarçadamente coçando a ponta do nariz em sinal de desconforto. - Não quis insinuar que você...

- Tudo bem! - Suspira, me atropelando as palavras. - Fico feliz que ele seja isso tudo. Você merece alguém assim!

- Não é irônico? - Sorrio, na tentativa de quebrar o clima - Quando eu te conheci, você estava noivo, e era presidente da Splendore, agora quem está noiva sou eu, e se tudo der certo, serei a nova presidente.

- Não é ironia... - Dá mais uma golada em seu whiskey - É karma, que chama!

- Só queria descontrair... - Dou de ombros, sendo consumida por seu silêncio ensurdecedor.

Estava doendo, eu sabia, também doía em mim. Eu queria poder abraça-lo, e dizer que ficaria tudo bem, mas eu estaria mentindo, eu não podia viver mais em sua companhia, sabia que nunca seria capaz de esquecer o amor que um dia senti por ele, também não conseguia parar de pensar no quanto nos machucamos. Eu não era capaz de perdoa-lo, mas também não era capaz de esquece-lo, porque onde havia raiva, também havia tesao. Vivíamos uma linha tênue entre ódio e amor. Nunca poderíamos ser amigos, aquele sentimento nunca se transformaria, a chama nunca se apagaria enquanto alimentássemos. Eu sempre soube disso, desde o primeiro segundo que o vi, e todas as vezes que voltei para ele mesmo ferida pelo mesmo coração que prometeu me proteger.

Em minha cabeça, estava certo que eu recuperaria a empresa, aliviaria a minha consciência, e nunca mais o veria outra vez. O que era uma grande tolice, tava na cara que a gente sempre daria um jeito de se esbarrar, mais cedo ou mais tarde.

- Eu amo o nascer do sol em Manhattan... - Ele diz, depois de muito tempo em silêncio. - É a minha segunda visão preferida no mundo.

- E qual é a primeira? - Ele ri, negando com a cabeça e desviando os olhos para o copo que segurava. Entendi que não devia ter perguntado, e que provavelmente não iria gostar de ouvir a resposta, então apenas desisti de perguntar. - Eu também gosto, depois das luzes da cidade...

- Era isso o que eu ia falar... - procura por meus olhos, e me sinto na obrigação de desviar o olhar - As luzes da cidade...

- Hum. Que coincidência. - Pigarreio, apertando os nós dos meus dedos.

- As luzes da cidade refletida nos seus olhos!

A Estranha Cecília - Chris Evansحيث تعيش القصص. اكتشف الآن