Capitulo 74 - Do ponto de partida

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Desde que eu viajei para Londres, eu nunca pensei em como seria voltar para casa, eu havia deixado Nova York para trás como se nunca mais fôssemos nos ver novamente. Mas lá estava eu, segurando firme o braço da poltrona do avião, enquanto o jato inclinava para baixo, se preparando para o pouso. Com os olhos fechados eu já imaginava o frio na barriga que sentiria quando as rodas batessem ao solo, nos causando um impacto assustador. No momento que eu o sentisse, seria como receber um empurrão da vida, e quando meus olhos se reabrissem, eu estaria de volta a minha realidade, por mais assustadora que ela fosse.

Os dias perfeitos em Londres haviam acabado, eu tinha dado adeus aos passeios noturnos no porto, os pores do sol no iate, as madrugadas de vinho na lareira do meu quarto, e todas as coisas incríveis que vivi naquela cidade.

Pelo menos, eu levava uma parte da Inglaterra comigo, a parte que fez tudo valer a pena. E quando o impacto finalmente veio, foi aquela parte que agarrou em minhas mãos, e ele nunca mais soltaria, eu tinha certeza disso.

Viro meu rosto em direção ao seu, abrindo um sorriso agradecida, que ele prontamente retribuiu, antes de puxar minhas mãos até seus lábios, deixando um beijo terno.

- Ta nervosa? - Ele sussurra.

Claro que eu estava, quando eu fui embora, achei que um/dois meses seriam suficientes, mas não foi, aquela cidade ainda me apertava o peito. Eu ainda não tinha me preparado para reencontrar meu pai, depois que ele descobriu tudo. E para completar, sem que tivesse dado a eles a chance de lidar com a primeira situação, eu estava levando uma segunda, com um anel de noivado cravejado de diamantes em meu anelar direito. Era loucura, eu sabia, e provavelmente era isso que meus pais me diriam.

- Não... - Suspiro, sentindo o ar entrar quadrado. - Só ansiosa!

- Vai ficar tudo bem. Seus pais vão gostar de mim.

Eles iam, eu sabia disso, mais cedo ou mais tarde, quando passasse o choque, eles iam amar o Henry tanto quanto eu amava.

- Eu sei...

(...)

Pisar na sala de desembarque, vendo Nicolas ao longe com as mãos para o alto em meio a multidão de pessoas segurando uma plaquinha escrito "Bem-vinda de volta, Ceci" me fez esquecer completamente como eu estava em pânico. Ao lado deles, meus pais me esperavam com lágrimas nos olhos, faziam dois meses inteiros que não nos víamos, naquele momento, a saudade era maior do que qualquer outra coisa, seus abraços estavam desesperados para se encherem de mim, e tudo o que eu precisava na minha vida era voltar para eles.

Corri para eles, deixando Henry para trás com a única mala que não despachamos. Assim que ultrapassei as portas de vidro e finalmente os encontrei, eu envolvi meus braços ao redor de todos ao mesmo tempo, como se eu fosse um polvo cheio de tentáculos. Eu não soube como foi possível sentir cada um deles em meus braços, mas todos couberam de uma forma que a física jamais seria capaz de explicar.

- Ah, minha menina! - Minha mãe me afasta - Deixa eu olhar para você... Olha como ela ta linda! - Ela se vira para meu pai, que concorda com um acenar de cabeça.

- Como foi de viagem? - Ele pergunta, sem muita animação. Meu pai era um homem de poucas palavras e tinha dificuldades em demonstrar emoções, mas eu sabia que estava feliz em me ver. - Pensei que só ficaria um mês...

- Também senti falta do senhor. - Arqueio minhas sobrancelhas, fazendo ele relaxar os ombros tencionados. Ele tava bravo, por eu ter mentido, por eu ter fugido, por eu ter trapaceado... mas ele estava, ainda mais, feliz por me ver bem. - Trouxe presentes para todos!

Como resposta, ele apenas afaga minha mão, que minha mãe ainda segurava.

A emoção tinha me feito esquecer a coisa mais importante que eu tinha para lhes dizer, mas não foi preciso, porque bastou alguns segundos para ele mesmo tomar a liberdade de se apresentar.

A Estranha Cecília - Chris EvansWhere stories live. Discover now