Capitulo 31 - Mentiras

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Quando cheguei a casa, a sala já estava escura, meus pais já deviam estar dormindo e eu não fazia ideia das horas.

Ainda estava radiante de tanta alegria, cada segundo com seu Chris era como mágica. Eu me sentia a pessoa mais realizada do mundo em sua companhia, a gente se divertia, se dava bem e se amava. Ele trazia sentido para meus dias, ele era a razão para que eu quisesse me levantar da cama todos os dias com um sorriso no rosto. Ele falava coisas tão lindas, que me encantava o coração, e me alimentava a alma.

Tirei os sapatos ao entrar, fechando a porta com cuidado e evitando fazer barulho. Eu ainda precisava andar na ponta dos pés até o quarto, fingindo que eu não havia chegado tão tarde novamente, mesmo depois dos meus pais terem tentado me proibir disso. Mas assim que fechei a porta atrás de mim, as luzes da sala se acenderam.

E lá estavam eles, meu pai com uma bermuda e camisa velha qualquer, que usava para dormir, e minha mãe com uma camisola de ursinho, ambos no maior estilo "subúrbio brasileiro".

De repente, meu coração saltou acelerado na garganta e o frio que correu em minha coluna fez minhas pernas travarem, enquanto eu olhava para os dois sentados no sofá, com a maior expressão de pânico possível.

- Quase três horas da madrugada... - Meu pai resmunga, olhando para o relógio em seu pulso. - Onde você estava, Cecilia?

- No escritório. - Respondo prontamente, tentando não hesitar na resposta.

- E por que seu telefone está na caixa postal?

- Acabou a bateria... - Mordo o lábio nervosa. Eu odiava, profundamente, mentir para eles.

- E não podia ter ligado do telefone do escritório? Ou ter pego um carregador emprestado?

- Pai, eu tava muito ocupada, não pensei...

- Você nunca pensa, Cecilia, esse é o seu problema! - Se levanta em um pulo, e eu me aperto contra a porta. Eu sabia que meu pai nunca faria algo contra mim, jamais me bateria ou seria violento, ainda assim, tive medo. - Está passando a madrugada trancada com aquele homem... Depois não sabe porquê as coisas te acontecem!

- MARIDO! - Minha mãe se levanta, no minuto exato que uma lágrima escorre dos meus olhos. Suas palavras haviam me afetado onde mais doía, trazido de volta lembranças que eu tentava esquecer. Naquele minuto, eu tive vergonha de mim mesma, senti nojo da minha própria existência. - Não pode culpar a Cecília...

- Não a culpo, mas não posso permitir que se coloque em risco, olha tudo o que já aconteceu com a menina... - Aponta para mim, sem tirar os olhos da minha mãe - Acha que se esconder atrás dessas roupas vai impedir alguma coisa?

- Querido, o chefe dela não é esse tipo de homem... - Ela toca o ombro do meu pai, acariciando-o na tentativa de acalma-lo. - Seu Christopher é um homem honesto, vai se casar com uma das acionistas da Splendore, tem boa família... nunca faria nada de mal para nossa Ceci.

E novamente eu chorei, dessa vez pela culpa. Minha mãe estava certa sobre ele jamais fazer algo de mal para mim, mas estava errada quanto ele ser um homem honesto. Ele não só traia a noiva comigo, como juntos estávamos afundando aquela empresa.

Meus pais não haviam me criado para isso, eles não saíram do Brasil para que eu fosse amante nos Estados Unidos, ou pior que isso... para que eu fosse uma criminosa.

Eu mal conseguia olhar para eles, toda vez que o fazia, sentia nojo de mim mesma.

- Ainda não acho certo a menina passar a noite trancada em um escritório com ele.

- Eles não estavam sozinhos, marido, toda equipe fica trabalhando com eles. Pensa, se a Ceci fica até tarde ajudando, significa que ele confia muito nela, isso é ótimo.

A Estranha Cecília - Chris EvansWhere stories live. Discover now