Para o que der e vier, estou com você

60 4 9
                                    

"(...) Com o poder dos yeageristas, Eldia continuou enviando artilharias todos os dias. Com a preocupação de que as pessoas do lado de fora iriam invadir a ilha, Paradis viveu em meio ao medo. O reino se tornou um, e bradava: 'se ganharmos, vivemos! Se perdermos, morreremos! Se não lutarmos, não podemos ganhar! Lute, lute!' Eldia, ou o mundo: até que um deles desapareça, a guerra não acabará."

(Attack on Titan, capítulo 139)


XXX

A rainha Historia e o marido foram assassinados em uma emboscada armada na Capital. Apenas a princesinha, Ymir Reiss, escapou. A facção Yeager, que se auto denominava governante de Paradis, nomeou Ymir a nova representante da ilha. A única filha de Historia, aos oito anos de idade, assumiu o trono de Paradis. A facção Yeager vinha cultivando o imaginário da pobre Ymir para convencê-la de que sua mãe era uma péssima pessoa, e que ela era a verdadeira escolhida da Santa dos eldianos. Dessa maneira, quando a garotinha fosse crescida o bastante para compreender o poder confiado a suas mãos, governaria atendendo aos caprichos de seus guardiões sanguinários.

O assassinato da monarca de Paradis ocorreu seis meses atrás. Há cinco, Paradis cortou tratados de paz com todos os países à exceção de Hizuru, sua fiel aliada. Paradis e Hizuru criaram inimizades com inúmeras nações, sobretudo com a Inglaterra, o primeiro país que os eldianos tentaram invadir depois de usurpar o Médio Oriente.

Newcrest se manteve neutra o quanto pôde. Foi a única a não ameaçar Paradis após as quebras de contrato. Entretanto, comer quieto nem sempre é uma boa ideia. Paradis não a poupou. No mês passado, Hizuru e Paradis atacaram a base naval Pérola, localizada no estado newcrestiano Íavah. A investida inesperada enfureceu o presidente Vladimir. Por sorte, graças à reação rápida do exército newcrestiano, que aprendeu direitinho a lição ensinada na Revolta, Paradis e Hizuru não afundaram mais do que três navios de guerra antes de fugirem com o rabo entre as pernas. O ataque levou Newcrest a, enfim, descer do muro.

Esses foram os principais acontecimentos transcorridos desde a notícia comunicada pela rádio. A população era a mais prejudicada pela guerra recém declarada. Newcrest e os outros países, determinados a unir forças e derrotar Paradis de uma vez por todas, anunciaram que os homens entre dezoito e quarenta e cinco anos deveriam se apresentar ao posto militar de recrutamento mais próximo. A candidatura era facultativa aos garotos maiores de dezesseis e às mulheres, e descartável para os aleijados e os doentes. Aqueles a quem a candidatura era obrigatória que ousassem negá-la sofreriam as consequências da lei da traição.

Nessas circunstâncias, Leona agradecia por ter nascido menina. Mas, mesmo que fosse um garoto, Leona não iria. Preferia fugir das autoridades, a matar e ser morta em prol dos interesses de um bando de adultos egoístas e idiotas que não conseguem viver em paz.

Por essas e outras, Leona desprezava o cartaz que os voluntários do exército colaram na loja de chás, bem ao lado do retrato de Zeke – o desenho não saiu de lá desde o desaparecimento do liberiano. Esse cartaz ilustrava um homem grisalho usando uma fabulosa cartola com as estrelas da bandeira de Newcrest. O velhote, portando uma expressão de severidade ausente, apontava sugestivamente para o observador. Em baixo, lia-se, em vermelho-escuro: EU QUERO VOCÊ PARA O EXÉRCITO NEWCRESTIANO.

— Pouco me importa o que você quer, tiozão. — Leona murmurava ao cartaz sempre que passava por ele, e levantava o nariz com dignidade.

Leona detestava tudo relacionado à guerra e fugia das notícias como o soldado foge do titã. Todavia, as informações chegavam a ela de igual modo, seja por intermédio do senhor Onyankopon, ou pelos clientes sempre dispostos a dar uma palavrinha sobre "aqueles demoniozinhos sem Deus no coração". Leona não sabia o que a aborrecia mais: os belavitenses caluniando sua terra natal, ou o fato de o falatório não ser infundamentado. Com Paradis e Hizuru atacando todo o mundo sem dó nem piedade (e nem inteligência, dado o ataque à Pérola), Leona não os defendia nem em suas reflexões pessoais. Para ela, Paradis acabou no momento em que os yeageristas assassinaram a rainha Historia.

Venha me pegarWhere stories live. Discover now