(BÔNUS) Igualzinho a você

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Olá,

Esse bônus é uma ideia que eu vinha guardando na gaveta desde 2020. A minha inspiração para a ambientação é uma official art bem famosa do Levi e da Hange (eu sempre quis fazer um texto baseado na referida arte). As interações entre os dois foram baseadas num post do reddit sobre o mesmo desenho.

Aviso: A Leona tem 3 aninhos nesse bônus. As falas foram escritas em grafia correta para não poluir o texto.

Boa leitura. Abraços!

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Naquela semana comemorava-se o aniversário da famosa batalha de Shiganshina. Por decreto do governo, criou-se um célebre feriado de três dias em homenagem ao marco histórico, o qual iniciava-se no dia do mês em que os soldados da Tropa de Exploração viajaram rumo à muralha Maria. Ninguém trabalhava ou estudava, sobretudo os militares das até então três divisões do exército.

Quer dizer, ninguém era OBRIGADO a ir para o trabalho ou para a escola. No entanto, alguns enxergavam os múltiplos festivas e os costumes fúnebres como a oportunidade perfeita para ganhar dinheiro. Os festivos eram uma boa fonte de renda para comerciantes, bares, restaurantes e vendedores ambulantes. Outros favorecidos eram as floriculturas, em especial as de Trost, pois paradisianos de diferentes distritos e classes sociais vinham prestar condolências aos soldados mortos. Durante o feriado, o cemitério mais parecia um imenso jardim florido.

O cemitério passava vinte e quatro horas lotado de cidadãos. Muitos, se não a maioria, sequer conheceram os mortos em vida. Por conseguinte, os verdadeiros amigos e amantes dos soldados falecidos deixavam para visitá-los um dia antes ou um dia após o feriado, e esse era o caso de Hange e Levi.

A dupla de soldados visitou o cemitério pela manhã, de propósito num horário normalmente despovoado - de vivos, claro. Hange não se importava com a presença de outras pessoas. Levi, contudo, queria estar a sós com seus amigos mesmo eles estando a sete palmos abaixo do chão. Antes, os dois pararam na pequena floricultura alocada na frente do cemitério. Os soldados nunca visitavam os companheiros de mãos vazias. Sobretudo Hange, que sempre ia ao cemitério de mãos dadas com uma criança pequena.

— Mãe, olha quanta flor bonita. — Leona contemplava os vasos coloridos repletos de flores ainda mais coloridas. — Compra aquela laranjinha?

— Aquilo é amarelo, Bolinha. — Hange pôs a mão no queixo e avaliou a escolha de Leona. — Também achei bonito. — E então voltava-se ao balconista: — Vou querer.

Era a vez de Hange construir o seu buquê. Ela ia levar dois, um para Erwin e outro para Moblit. Levi já tinha feito o seu. O buquê de Levi era um ramo de hortênsias roxas. Enquanto o balconista separava as flores, Leona puxava a mão de Hange, pendurava-se, pulava e a mordia. Aquela criança detestava andar de mãos dadas.

— Mãe, me solta.

— Tudo bem. — Hange desistiu. — Não toque em nada e não saia da loja.

— Certo.

O atendente terminou de acomodar as rosas amarelas e perguntou se Hange já decidira a outra espécie. A comandante girou a cabeça e olhou os arredores, analisando o extenso mostruário de flores, florezinhas e florzonas. Amarílis, azaleias, margaridas... tantas flores com A, e tantas com M. Qual escolher? À esquerda da prateleira atrás do balconista, um vasinho de copos-de-leite descansava num quadradinho de luz solar. Hange apontou-as.

— Vou levar os copos-de-leite.

Levi apertou as sobrancelhas. Quando o balconista deu as costas, o capitão murmurou:

— Você sabe que copos-de-leite são para casamentos, não sabe?

— Huh? São? — Questionou Hange, desconfiada. — E essas hortênsias significam o quê?

— Lealdade e devoção. — Levi apertou o buquê contra o peito.

Hange fez barulho com a boca ao soltar o ar pelos lábios cerrados – puffft. Ela revirou o olho. Lealdade e devoção. Essa é boa. Bem coisa de corno, Hange por pouco não verbalizou o pensamento.

— Desde quando você entende de flores, baixinho?

— É o básico, quatro-olhos.

— Bom, me ensinaram que copos-de-leite significam pureza, e que hortênsias significam prosperidade.

A resposta de Levi foi um sacudir de cabeça indignado. Ele gesticulou a palavra "demente" com a boca muda. Hange, contudo, não ia terminar a discussão sem um debate intelectual. A comandante começou a explicar as razões intrínsecas por trás da simbologia de cada planta. Levi pôs a mão na cabeça. O capitão estava profundamente arrependido de ter iniciado o assunto. Enquanto Hange enchia a cabeça de Levi com conhecimento contingente, Leona voltou.

— Mãe, mãe, vem ver!

Leona puxava a saia do casaco de Hange. A comandante ignorou-a e continuou o falatório sobre botânica e psicologia. Entretanto, Leona era determinada. A garotinha deu a volta em Hange e empurrou-a pela barriga. Não deu certo. Enfurecida, Leona começou a gritar, a pular e a repuxar a frente do uniforme da mãe, quase arrancando os botões. O balconista e Levi se perguntavam como Hange conseguia agir como se Leona não existisse.

— E algumas pessoas acreditam que as flores representam o infinito por causa da...

— MÃÃAAEEEEEE!

Enfim, Leona recebeu a atenção de Hange:

— Caramba, Leona, o que é?

Leona repetia VEM VER VEM VER. Ela balançou o braço de Hange para cima e para baixo em seu entusiasmo ansioso. Leona deixava claro que não ia aquietar até a mãe acompanha-la. Percebendo isso, Hange se rendeu.

— Levi, pega as minhas flores, sim? Eu vou ver o que a general quer.

Hange deixou-se ser arrastada por Leona até a porta da floricultura. No lado de fora havia vasos enormes demais para ficar dentro da loja e esculturas de jardim. Dali dava para ver os arredores arborizados do cemitério. Leona, sorrindo de orelha a orelha e ofegante de tanta empolgação, apontou para frente.

— É... huh... uma estátua de pato bem interessante, Bolinha.

— Não, mãe! É lá na montanha. — Leona chamava as colinas de montanha. — Veja aquele homem. Ele está usando um uniforme igualzinho àquele que você tem.

Então, Hange reparou que Leona não apontava para o desfile de esculturas, e sim na direção da casa dos mortos. Um calafrio percorreu a espinha da comandante antes mesmo de ela enxergar a figura familiar acenando no alto da colina distante. Todavia, o homem desapareceu num piscar de olhos. Foi tão rápido que Hange não soube dizer se a visão fora real ou miragem.

— Um homem vestindo o uniforme antigo da Tropa de Exploração? Ele ainda está lá? Eu não vejo nada, Bolinha.

— Como não, mãe? — Leona franziu o cenho. — Ele está logo ali. Olha, é igualzinho, mãe! É o mesmo casaco curtinho. — A garotinha entreolhava a mãe e a colina vazia.

— Eu não estou vendo, juro. — Hange tirou os óculos. — Argh. Sem óculos é ainda pior. Vamos ver se a gente o encontra quando entrarmos no cemitério. O que acha?

Propôs Hange na esperança de que Leona deixasse o assunto para lá. Uma espécie de "na volta a gente compra" adaptado. A essa altura, Hange acreditava que o homem não passava de uma ilusão de ótica. A comandante sabia que o tal soldado era fruto da imaginação da filha, assim como foi da sua própria. Decerto, Leona (e Hange) não teria o mesmo delírio duas vezes. A garotinha inocente aceitou o convite.

Nesse instante, Levi voltou trazendo três buquês de flores – um para ele e dois para Hange. Os adultos trocaram um olhar de cumplicidade. Hange retirou uma flor amarela do seu buquê, e uma hortênsia do de Levi. Ela entregou as duas florezinhas à Leona, fez carinho no cabelo dourado e disse:

— Vamos lá dar "oi" para o seu pai, filhotinho.

Venha me pegarWhere stories live. Discover now