O homem que você não conheceu

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Nesse capítulo vamos encerrar o arco da Capital. A partir da próxima terça, retomamos nossa rotina em Trost.

Tenho uma notícia boa e uma notícia ruim para dar a vocês. Leiam as notas finais.

Boa leitura. Abraços.

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Levi olhou o relógio redondo na parede do salão. Duas horas se passaram. Para o capitão, pareciam ter sido dois dias. Nunca foi fã de situações sociais, formais então... ugh. Por conseguinte, eventos como aquele não eram de seu agrado. Levi morria de ódio de estar rodeado de rostos desconhecidos. Se estes rostos vierem acompanhados de esnobismo e egocentrismo, piorou. O capitão só queria dar adeus àquele bando de pau no cu. Partiu dele o convite para irem embora. Hange respondeu que ainda queria conversar mais um pouco, e pediu para Levi buscar Leona enquanto se despedia.

Levi foi pegar a filha de Hange no salão das crianças. Ao chegar lá, deparou-se com a cena revoltante. Encontrou as filhinhas de Nile e mais seis crianças interrogando Leona sobre a terrível vida sem pai. Levi não sabia o quanto do perguntas-e-respostas presenciou. O que viu, contudo, bastou.

Criar uma criança sem a figura paterna era uma das preocupações de Hange durante a gestação. Eventualmente, a comandante deixou esse problema para lá. Não há nada para se fazer além de ser pai e mãe. Hange fez um trabalho ótimo dentro dos seus limites. Leona foi um bebê amado e feliz, e se transformou numa criança amada e feliz. A falta de Erwin não afetava o desenvolvimento da filha de Hange. Já os terceiros... esses sim atrapalhavam.

Quando se é criança, até vestir a camisa do avesso por engano vira motivo para alguém ser feito de piada pelo resto do mês - às vezes essas brincadeirinhas deixam marcas permanentes. Cedo ou tarde, Leona enfrentaria situações desconcertantes por causa da falta do pai. Sabendo disso, Hange escolheu ser honesta. Desde bebê, Leona tem conhecimento sobre o pai e seu paradeiro. Leona já é independente por si só, e Hange reforçava esse comportamento a ensinando a se defender, seja através de palavras ou de socos. Graças à essa criação, Levi pôde ter a honra de presenciar aquela menininha de cinco anos impondo respeito sobre nove crianças. Ainda que tivesse terminado com elas em seu encalço, o importante era o comportamento sólido e inabalável. Leona se aborreceu sem deixar a mágoa entrar em seu coração.

Levi soube disso quando encontraram Hange. Àquela altura, Leona já tinha esquecido o conflito. Sequer imaginava o quão valente foi enfrentando os pirralhos curiosos.

— Mãe.

Hange esperava na saída do salão de festas. Leona saiu do lado de Levi e foi para o de Hange, querendo ficar pertinho da mãe. Hange passou a mão no cabelo da criança, aproveitando para ajeitar a franja bagunçada, mesmo sabendo que as mechas não permaneceriam no lugar.

— Gostou de brincar com as filhas do Nile?

— Não. São três chatas. E o pai delas é igualzinho.

Leona fez careta. Em resposta, Hange deu uma de suas gargalhadas potentes. Levi sorriu de canto. E assim o assunto deu-se por finalizado. Os três saíram da festa, viraram o corredor e desceram as escadas para chegar ao térreo, aonde a memória de Paradis os aguardava.

O espaço era dividido em salas. O tapete vermelho delineava o caminho por onde as pessoas deveriam seguir caso quisessem conferir a história de Paradis em ordem cronológica. Foram direto para a ala da Tropa de Exploração. Cordas delimitavam a distância máxima para se chegar perto das obras de arte. Os objetos antigos contavam histórias imortais. Passaram por um caderno encaixilhado em vidro. Leona leu o nome na placa: caderno de Ilse, o primeiro e único registro de um titã puro falante. Levi e Hange continuaram andando. Leona se apressou para alcança-los.

Venha me pegarWhere stories live. Discover now