Chiclete

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Levi estava encostado numa das baias do estábulo. A boca cerrada e os olhos descorados típicos da sua face neutra não demonstravam o ligeiro descontentamento derivado do prospecto da reunião que aconteceria daqui alguns minutos. De vez em quando, desviava o olhar entediado para a rua, onde o sol aparecia timidamente entre as nuvens após dois dias de chuva, mas sempre voltava para conferir a criança de quem tomava conta.

Por causa dos prisioneiros e dos espiões, a rotina virou uma correria sem fim. Trabalho incessante, de segunda a sexta. Fazia mais ou menos três semanas que Yelena e o inglêzinho arrombado haviam se juntado a eles. Onyankopon queria apresentar uma proposta à Hange, e por causa da falta de tempo nos dias úteis, a reunião fora marcada para sábado. Minnie, babá de Leona, não trabalhava fim de semana, e Hange precisou trazer a menina para o quartel-general. A comandante veio cedo para ajudar Mayla num experimento, o experimento deu errado, Hange ficou para resolver o problema, Leona se entediou e começou a chatear, Levi apareceu inocentemente no laboratório para confirmar o horário da reunião, e então aqui estava ele, cuidando do filho dos outros.

— Lucy!

O cavalo na baia girou as orelhas ao ouvir o próprio nome. A égua preta pertencia à Levi desde potranca. Era um ótimo animal. A égua baixou a cabeça até o longo pescoço encostar na cerca da baia. Na ponta dos pés, Leona alisou o focinho da égua de cima a baixo na maneira calma e confiante ensinada por Hange.

— Boazinha, boazinha...

Leona sussurrou para Lucy enquanto a afagava. A égua piscou lentamente em resposta, mantendo a cabeça baixa para receber carinho. Cavalos raramente se mantém entusiasmados tanto tempo pela mesma coisa, portanto, a capacidade da garotinha para hipnotizar Lucy era digna de palmas, mesmo a égua sendo mansa por natureza.

Nesse momento, Levi sentiu dentes puxando as costas de sua roupa. Olhou para trás e encontrou Buck cheirando o pano preto de sua camisa. Levi abraçou o pescoço do cavalo com apenas um braço, sem desencostar-se da baia. Buck parou a travessura e repousou a cabeça docilmente no ombro do capitão.

Se pelo menos eu conseguisse conquistar a sua cavaleira assim.

Pensou Levi enquanto afagava o cavalo de Hange. A paixão pela comandante vinha se tornando um sentimento destrutivo. Tirava o apetite tal qual o ciúme de Onyankopon, embora já o tivesse reduzido a um nível não muito doentio - não que isso aliviasse a dor, essa continuava bem forte. Levi levou uma rajada de ar quente no peito quando Buck bufou à moda dos cavalos. Pouco depois, o animal perdeu o interesse e se pôs a comer o feno na baia.

Enquanto isso, Leona abandonava a baia de Lucy para visitar as outras, chamando os cavalos pelo nome e tocando nos longos focinhos quando os animais permitiam. Alazão, Frufru, Príncipe, Trovão, Spirit, Jay, Lua, Rainha... apesar de pronunciar a maioria dos nomes errado, Leona sabia todos.

Após cumprimentar os cavalos, veio correndo para perto do capitão descansando ao lado da baia de Buck. Leona agarrou as barras da cerquinha, encaixando o nariz no espaço entre duas. O animal, indiferente, pastava distraidamente, seu traseiro grande e redondo voltado para os humanos sacudia a cauda para afastar as moscas.

— Puxa, senhor Levi — ela falava "sinhô Livi" — o nome do cavalo da minha mãe é Buck, a do senhor é Lucy, a da Sasha se chama Carne...

A garotinha fez uma pausa pensativa. Ao afastar-se da cerca, tinha as mãos sujas da fuligem da madeira, e o mesmo se aplicava às maxilas. Leona viu o pó nas palmas, fez careta e bateu-as na bermuda. A fuligem no nariz e nas bochechas continuou lá. Levi percebeu que a garotinha não sabia do rosto sujo. Leona baixou o olhar concentrado para o chão, quatro dedos da mão destra seguraram o queixo enquanto o indicador batia compassadamente acima do lábio superior. Ela refletiu por segundos a fio, e então perguntou:

Venha me pegarUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum